Grupos em áreas de Damasco pedem para que nova liderança islâmica do país protejam as minorias religiosas Vídeo mostra árvore em chamas enquanto pessoas jogam líquido nela
Reprodução/ Redes sociais
Protestos de cristãos irromperam na Síria entre a noite desta segunda-feira (23) e esta terça-feira (24) após surgir na internet um vídeo da queima de uma árvore de Natal, levando alguns manifestantes a pedir para que as novas autoridades islâmicas do país tomem medidas para proteger as minorias religiosas.
O vídeo publicado nas redes sociais mostra a árvore em chamas na praça principal de Suqaylabiyah, uma cidade de maioria cristã no centro da Síria.
Porta-vozes do Hayat Tahrir al-Sham (HTS), o principal grupo islâmico que liderou a revolta que derrubou o presidente Bashar al-Assad há pouco mais de duas semanas, disse que combatentes estrangeiros foram detidos por conta do incidente.
Os representantes do HTS prometeram proteger os direitos e liberdades das minorias religiosas e étnicas na Síria, que é de maioria muçulmana.
Nas imagens, homens mascarados aparecem encharcando a árvore de Natal com um líquido não identificado na noite de segunda-feira na Síria. Não estava claro se eles estavam tentando apagar o fogo ou ajudando a espalhá-lo.
Vídeos do rescaldo mostraram uma figura religiosa do grupo rebelde HTS, agora no poder, assegurando às multidões reunidas em Suqaylabiyah que a árvore seria consertada antes da manhã seguinte.
O homem, então, ergue uma cruz em uma demonstração de solidariedade. Algo que conservadores islâmicos normalmente não fariam.
Manifestantes gritando enquanto marchavam por Damasco
REUTERS
Nesta terça-feira (24), mais manifestantes foram às ruas por conta do ataque incendiário, inclusive em partes da capital Damasco.
Alguns no bairro de Kassa, em Damasco, gritavam contra os combatentes estrangeiros na Síria.
“A Síria é livre, os não sírios devem sair”, entoaram, em referência aos combatentes estrangeiros que o HTS disse estarem por trás do ataque.
No bairro de Bab Touma, em Damasco, os manifestantes carregavam uma cruz e bandeiras sírias, gritando “nós sacrificaremos nossas almas por nossa cruz”.
“Se não nos for permitido viver nossa fé cristã em nosso país, como costumávamos fazer, então não pertencemos mais a este lugar”, disse um manifestante chamado Georges à agência de notícias AFP.
A Síria abriga muitos grupos étnicos e religiosos, incluindo curdos, armênios, assírios, cristãos, drusos, xiitas alauítas e sunitas árabes, os últimos dos quais constituem a maioria da população muçulmana.
Cerca de 10% são cristãos, segundo os números da CIA Factbook, um compêndio de informações disponíveis ao público gerido pela agêcia de inteligência americana.
Há pouco mais de duas semanas, a presidência de Bashar al-Assad caiu para as forças rebeldes, encerrando o governo de mais de 50 anos da família Assad.
Outros manifestantes organizaram um protesto dentro da Igreja Mariamita de Damasco
Getty Images via BBC
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Futuro da Síria
Como o grupo HTS governará a Síria, ainda não é possível saber com precisão.
O HTS começou como um grupo jihadista – defendendo a violência para atingir seu objetivo de estabelecer um estado governado pela lei islâmica (Sharia) – mas nos últimos anos adotou uma abordagem mais pragmática e menos intransigente.
Enquanto os combatentes marchavam para Damasco no início deste mês, seus líderes falaram sobre construir uma Síria para todos os cidadãos.
As novas autoridades anunciaram que o líder Ahmed al-Sharaa havia chegado a um acordo com “facções revolucionárias para dissolver todas as facções e fundi-las sob o guarda-chuva do Ministério da Defesa”, segundo a agência de notícias Sana.
O primeiro-ministro Mohammed al-Bashir disse que o ministério seria reestruturado para incluir combatentes rebeldes.
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Embora a declaração mencionasse “todas as facções”, não estava claro exatamente quais grupos estão incluídos na fusão.
Existem vários grupos armados na Síria, incluindo alguns que se opõem ao HTS e outros com relações ambíguas com ele, na melhor das hipóteses.
O HTS continua designado como uma organização terrorista pela ONU, EUA, UE e Reino Unido, embora haja sinais de que uma mudança diplomática pode estar em andamento.
Na sexta-feira (20), os EUA descartaram uma recompensa de US$ 10 milhões (cerca de R$ 62 milhões) pela cabeça do líder do HTS, Ahmed al-Sharaa, após reuniões entre diplomatas seniores e representantes do grupo.
Os EUA continua com sua presença militar na Síria. Ele disse na sexta que realizou um ataque aéreo na cidade de Deir Ezzor, no norte, matando dois membros do grupo jihadista Estado Islâmico (EI).
A presença de combatentes estrangeiros, extremistas islâmicos ou mesmo apoiadores do regime que têm interesse em causar insegurança e atacar minorias para abalar a estabilidade do país são o grande desafio que a nova liderança islâmica enfrentará.