13 de janeiro de 2025

Brasileiro dá vida às águas em novo filme ‘Mufasa: O Rei Leão’


Diogo Guerreiro, especialista em efeitos visuais, traz sua vivência com a natureza brasileira para uma das produções recentes da Disney. Cena do filme ‘Mufasa: O Rei Leão’
Divulgação
O que ondas quebrando na costa de Florianópolis têm em comum com os efeitos visuais de água super-realistas presentes no novo filme da Disney, “Mufasa: O Rei Leão”? Para Diogo Guerreiro, artista brasileiro de efeitos visuais, a resposta está em cada partícula que ele ajudou a dar vida no filme.
Nascido na capital de Santa Catarina, Diogo encontrou na proximidade com o mar a inspiração para sua trajetória profissional. Além dos efeitos visuais, o artista também é atleta e detém dois recordes mundiais como expedicionário de windsurf.
Seu primeiro recorde foi na travessia do Chuí ao Oiapoque, realizada sem o apoio de carros ou barcos. Na época, a jornada foi reconhecida pelo Guinness World Records, em 18 de julho de 2005, como a mais longa expedição de windsurf já registrada no mundo.
Em 2006 Diogo conquistou seu segundo recorde mundial. Ele percorreu de windsurf, mais uma vez sem barcos de apoio, 400 km de mar aberto entre Fernando de Noronha e Natal, pernoitando uma noite sobre a prancha. A expedição novamente ganhou destaque nacional e mundial.
“Ter feito esporte como o surf, o windsurf, o kitesurf, sempre me deu essa perspectiva natural de compreensão intuitiva de quais são as dinâmicas relacionadas à água. Isso ajuda muito na hora da programação e dos efeitos visuais para os filmes como o do Rei Leão. Essa vivência real de entender a dinâmica de como a água reage em diferentes situações com certeza ajudou muito”, diz Diogo.
Diogo Guerreiro é artista de efeitos visuais e trabalhou no filme por cerca de dois anos
Diogo Guerreiro/Arquivo pessoal
O convite para trabalhar no filme veio de forma inesperada, quando um diretor de Hollywood viu nas redes sociais de Diogo um exemplo de seu trabalho, totalmente criado com simulações de fluidos e efeitos visuais. Impressionado, o diretor entrou em contato e perguntou se Diogo estaria disposto a se mudar para Montreal, no Canadá, onde está localizado o estúdio MPC (Moving Picture Company), responsável pelos projetos da Disney.
Na época, ele ainda não sabia em qual filme trabalharia, mas aceitou o desafio, mudando-se com a esposa e a filha. Foi apenas depois de começar que descobriu que faria parte da equipe de “Mufasa: O Rei Leão”, um dos projetos recentes mais esperados da Disney.
“Antes de começar, já estava com alguns filmes em andamento que estavam precisando de água, que é a minha especialidade. Eu trabalhei no filme do Pinóquio, com o Tom Hanks, e depois trabalhei no novo da Pequena Sereia. E aí, finalmente eu comecei no filme do Mufasa”, diz o especialista em efeitos visuais.
Segundo Diogo, a produção levou cerca de quatro anos para ser concluída, incluindo etapas como desenvolvimento do roteiro, gravação de vozes, trilha sonora e montagem inicial. O artista esteve diretamente envolvido por dois anos, dedicando-se exclusivamente à criação desses efeitos visuais.
“A proposta do Rei Leão é um filme que por si só tem um desafio muito grande, porque ele é uma representação realística do filme original de 94, então em 2019 já teve o primeiro filme que foi feito realisticamente e o segundo tinha a ambição de ser ainda mais realista, e que teve muita cena de água no filme”, conta Diogo.
O filme ‘Mufasa: O Rei Leão’ teve sua estreia no Brasil no dia 19 de dezembro
Divulgação
De acordo com ele, o maior desafio encontrado foi recriar as cachoeiras, todas inspiradas na Victoria Falls, na África, uma das maiores e mais icônicas quedas d’água do mundo. A complexidade do processo envolvia simulações de alta precisão para captar o movimento realista de um enorme volume de água, desde o impacto das partículas até a transformação em vapor.
Essas simulações exigiam dias de processamento em diversos computadores para atingir o resultado esperado. Além disso, a exigência da Disney por detalhes intencionais em cada aspecto visual — densidade, volume e aparência geral da água — demandou inúmeras interações até que o resultado final estivesse de acordo com o altíssimo padrão da produção.
Para ele, a oportunidade de ter trabalho no filme foi a realização de um sonho que o conectou não apenas com sua infância, mas com a de inúmeras pessoas ao redor do mundo. Ele destaca o orgulho de participar de uma produção tão complexa e grandiosa, que envolveu o esforço coletivo de uma equipe dedicada e talentosa.
Ao ver seu trabalho finalizado nas telas, Diogo e sua família ficaram profundamente emocionados. A jornada de dois anos, que incluiu a mudança de país e dias inteiros dedicados ao projeto, foi recompensada pela possibilidade de emocionar milhões de pessoas.
“É uma coisa muito, muito prazerosa. Foi fácil de me manter motivado durante o processo de criação de trabalho no filme, exatamente por saber o quão importante é essa história, o que isso vai representar na vida de tantas pessoas, assim como os filmes da Disney representaram na minha própria”, explica.
O “rei da selva
O leão (Panthera leo) é conhecido como o felino mais social do mundo
ruperl_h/iNaturalist
O leão (Panthera leo) é um mamífero carnívoro da família Felidae, conhecido como felino mais social do mundo, devido ao hábito de viver em grupos compostos por fêmeas aparentadas. Conforme explica o Instituto Nacional de Zoologia e Biologia da Conservação do Smithsonian, um museu de pesquisa dos Estados Unidos.
Famoso por seu rugido poderoso – audível a até oito quilômetros de distância – e pela imponente juba dos machos adultos, o leão se tornou ainda mais icônico após a estreia da animação “O Rei Leão”, em 1994.
Anos depois, a Disney lançou uma versão live-action, seguida de “Mufasa: O Rei Leão”, que chegou aos cinemas em 19 de dezembro de 2024. Além de explorar a história de Mufasa, o novo filme oferece uma oportunidade de refletir sobre a importância do leão na natureza, seus hábitos e sua preservação.
Apesar de ser conhecido mundialmente como “rei da selva”, os leões habitam principalmente planícies abertas, savanas e florestas secas de espinhos. O leão-africano (Panthera leo leo), por sua vez, prefere áreas com grandes presas disponíveis, como zebras, antílopes e girafas, e territórios amplos para caça. Embora sejam adaptáveis a diferentes habitats, eles evitam florestas tropicais e desertos, de acordo com o Animal Diversity Web (ADW), uma base de dados da Universidade de Michigan.
Leão-sul-africano (Panthera leo leo)
Justin Hofman/iNaturalist
Hoje, a maioria dos leões vive no sul e no leste da África, com populações menores na África Central e Ocidental. Fora da África, uma subespécie pode ser encontrada na Índia, na floresta de Gir, enquanto suas populações históricas no norte da África, sudoeste da Ásia e Europa Ocidental foram extintas há séculos.
Atualmente, os leões enfrentam um severo declínio em seus territórios. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), os leões ocupam atualmente apenas 6% de sua área histórica, com uma redução de 33% desde 2005. Essa contração, somada a um declínio de 36% ao longo de três gerações, categorizou a espécie como “Vulnerável” (VU) na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN.
De acordo com a IUCN, a perda de habitat, a conversão de áreas seguras em terras agrícolas e o isolamento de subpopulações são os principais fatores desse declínio. Outras ameaças incluem a matança indiscriminada por retaliação ou para proteger o gado e o esgotamento da base de presas.
*Texto sob supervisão de Lizzy Martins
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