22 de setembro de 2024

CNJ afasta juiz do TJ de RR por suspeita de parcialidade em ações de saúde

Juiz Luiz Alberto de Morais Júnior da 2ª Vara de Fazenda Pública de Boa Vista é suspeito de favorecer clínica odontológica em procedimentos médicos relacionados a cirurgias bucomaxilares. CNJ também autorizou a abertura de um PAD contra o magistrado. Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR)
Divulgação/Nucri/TJRR
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu por unanimidade afastar o juiz Luiz Alberto de Morais Júnior da 2ª Vara de Fazenda Pública de Boa Vista por suspeita de irregularidades e parcialidade em decisões sobre a saúde pública no estado.
De acordo com a denuncia, Luiz Alberto de Morais Júnior e o também juiz Aluísio Ferreira Vieira teriam favorecido tramitações irregulares de procedimentos médicos relacionados a cirurgias bucomaxilares em clinica odontológica. A sessão aconteceu no dia 2 de abril e acabou antes de Aluísio ser julgado.
O g1 procurou a assessoria de Luiz Alberto de Morais Júnior e aguarda resposta. Também procurou a assessoria de Aluísio Ferreira Vieira mas também não foi respondido até a última atualização desta matéria.
Procurado, o Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR) informou que o referido procedimento disciplinar tramita no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), “não nos cabendo manifestação alguma sobre a matéria”.
O relator do processo, Luis Felipe Salomão, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) classificou as denuncias como “graves”, destacando que houve quebra de sigilo bancário, onde foi verificado extratos bancários e também foram feitas inspeções durante as diligências.
De acordo com ele, as ações do juiz acarretaram em “danos significativos aos cofres públicos e graves incidentes constatados em diversos processos auditados”.
“Eu verifiquei uma espécie de corrupção sistêmica com participação de outros agentes públicos dentro desse sistema pois os valores são superfaturados e mais recentemente foram, inclusive, objeto de uma operação da Polícia Federal para verificar a existência de uma organização criminosa”, disse o relator durante o voto.
O relator também destacou que as inspeções conduzidas em dezembro de 2022 constataram infrações de que Luiz Alberto Júnior “favoreceu a tramitação irregular dos processos”.
Foi verificado durante diligências que um assessor de Aluízio Ferreira despachava a maioria dos processos relacionados à saúde. Usando a senha pessoal do juiz, o assessor despachou quase 1,8 mil processos, destacou o relator.
Em março de 2023, durante as investigações do caso, um relatório já apontava o assessor como o responsável por ter feito os despachos.
“Há fortes indícios de que o referido magistrado não tinha o conhecimento fático necessário sobre as decisões que proferia e que haviam sido minutadas pelo assessor do juiz da 1ª Vara de Fazenda Pública [Aluízio Ferreira Vieira], juiz este que se deu por suspeito. Em suas declarações, ficou demonstrado que o Dr. Luiz Alberto de Morais Júnior desconhecia o alcance de suas decisões”.
O relatório classificou a postura de não apurar as decisões mesmo após ser alertado como “imprudência e negligência”. Em análise processual, o relator destacou que a maioria dos processos que tiveram deferimento de liminar não tiveram prestação de contas adequadas, sendo elas feitas apenas com a apresentação de nota fiscal simples.
“Tal rito, além de gerar grave insegurança acerca da utilização do dinheiro público, causou incidentes graves, noticiados em depoimentos […] na análise, alguns processos, a parte desapareceu após o levantamento dos valores, que foram depositados na conta do advogado sem repasse a parte”, cita.
O relator destacou ainda que o juiz não utilizava os serviços do Núcleo de Apoio Técnico do Poder Judiciário (NatJus), o que impossibilitava verificar se os procedimentos em questão eram os recomendados para o caso e se os valores “estavam dentro da normalidade dos preços pagos pelo estado”.
Contra Luiz Alberto de Morais, o CNJ autorizou a abertura de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) e, por entender que a permanência dele no cargo seria motivo de desconfiança no Poder Judiciário, a Corte decidiu pelo afastamento.
Parcialidade
Além dos dois juízes, os desembargadores Mozarildo Cavalcanti e Almiro Padilha, ambos ex-presidentes do TJRR e amigos de Aluízio também são investigados por parcialidade nos processos de saúde.
O relatório inicial, do qual o g1 teve acesso em março de 2023, a suspeita sob os quatro magistrados ocorre após a Corregedoria Nacional de Justiça fazer uma fiscalização chamada de correição extraordinária no TJRR. Nos trabalhos, realizados entre os dias 9 e 10 de janeiro deste ano, o CNJ identificou, entre outras coisas:
Indícios relevantes de irregularidades na tramitação de processos envolvendo questões de saúde pública – notadamente em feitos relacionados a procedimentos cirúrgicos – nas Varas de Fazenda Pública de Boa Vista/RR, com possível atuação parcial do magistrado titular da 1ª Vara e de seu assessor, em benefício de escritório de advocacia específico e de médicos/clínicas/hospitais locais.
Indícios de atuação desidiosa e desprovida de conhecimento técnico-jurídico por parte do titular da 2ª Vara de Fazenda Pública de Boa Vista/RR para decidir processos de saúde, em relação aos quais o magistrado titular da 1ª Vara de Fazenda se declara suspeito.
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