22 de setembro de 2024

Após revisão em coleção, tangará-do-oeste é registrado pela 1ª vez na Amazônia brasileira

Descoberta ocorreu após uma reavaliação dos exemplares de uma coleção do INPA. Fato ajuda a entender mais sobre bioma amazônico e biodiversidade dele. Esse tangará-do-oeste foi registrado fora do Brasil.
Paul Fenwick
Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) conduziram um estudo que revelou que a distribuição do tangará-do-oeste (Chiroxiphia napensis) é mais ampla do que se estimava.
Até então, a área de ocorrência da espécie estava limitada a Colômbia, Equador e Peru (próximo à cordilheira dos Andes). A descoberta foi publicada na revista Acta Amazônica, em 29 de março.
Quando decidiu reavaliar os exemplares da espécie presentes no INPA, o pesquisador Arthur Gomes, um dos autores do artigo e funcionário da instituição, foi surpreendido ao se deparar com um tangará-do-oeste na coleção.
Segundo ele, o interesse em estudar a distribuição da ave era um dos temas de estudo do mestrado que fazia, no qual pretendia entender a distribuição de espécies na Amazônia brasileira.
“Foi uma surpresa, ninguém imaginava que teria esse bicho na coleção, e como as pessoas tratavam tudo como tangará-príncipe, quando esses exemplares entraram na coleção, foram todos identificados como uma coisa só”, conta.
O indivíduo estava na coleção do instituto desde 10 de setembro de 2014, e havia sido coletado durante uma expedição científica no alto Rio Japurá, ao norte do Rio Amazonas, na divisa com a Colômbia.
Segundo Arthur, o estudo de aves tem algumas “modas” e, anos atrás, uma delas era juntar espécies similares, como se fossem da mesma espécie. Assim, populações diferentes que já tinham sido descritas pela ciência começaram a ser agrupadas sem nenhum tipo de argumento.
Isso pode ter feito, na visão dele, com que o tangará-do-oeste não tenha sido identificado no Brasil, pois a ave pode ser confundida com o tangará-príncipe (C. pareola) ou tangará-de-coroa-amarela (C. regina), que ocorrem no país.
As costas dos machos do tangará-do-oeste é um azul um pouco mais escuro, mais profundo do que o azul do tangará-príncipe.
Paul Fenwick
No entanto, há diferenças entre as três espécies. O tangará-de-coroa-amarela macho possui no topo da cabeça uma coroa amarela, o que pode ser perceptível apenas olhando a ave. Já o tangará-do-oeste e o tangará-príncipe, ambos possuem o topo da cabeça vermelho, mas um ocorre no extremo oeste da Amazônia e o outro no leste da mesma floresta.
Apesar disso, a maior diferença entre os dois é a coloração das costas dos machos – em fêmeas e jovens isso não pode ser identificado. “As costas dos machos do tangará-do-oeste são de um azul mais escuro, mais profundo do que o azul do tangará-príncipe”, revela Arthur.
Os pesquisadores estão estudando as diferenças no canto dessas populações. Por serem aves dançarinas, os estudos também devem analisar se, de alguma forma, as danças são diferentes também.
Arthur comenta que a descoberta que ajuda a ampliar o entendimento sobre o bioma amazônico e biodiversidade de região considerada remota da Amazônia brasileira. “Uma expedição para uma região como essa pode acabar trazendo novos registros de aves para o Brasil, mas que são conhecidas na Colômbia, Peru e Equador”, completa.
O indivíduo encontrado estava na coleção do Inpa desde 10 de setembro de 2014.
Paul Fenwick
De acordo com ele, o tangará-do-oeste não é considerado uma ave migratória, mas ainda há muitas lacunas a serem preenchidas em relação aos hábitos da espécie.
“Tudo o que a gente imagina é baseado em comparação com as espécies irmãs, por exemplo a alimentação, que se imaginas ser frutos e insetos. A reprodução deve ser parecida com a dos outros tangarás, na qual os machos fazem uma arena e se exibem para as fêmeas”, finaliza.
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