23 de setembro de 2024

Protestos por atrasos, bloqueio judicial e suspeita de relação com o crime organizado: veja o histórico das empresas de ônibus de SP alvos de operação do MP

Transwolff e UPBus atuam respectivamente nas Zonas Sul e Leste e transportam cerca de 15 milhões de passageiros por mês. Ambas têm histórico antigo de problemas nos serviços prestados na capital. Ação prendeu quatro dirigentes e determinou que prefeitura assuma operação das linhas. As empresas Transwolff e UPBus, alvos nesta terça-feira (9), de operação do Ministério Público de SP.
Acervo Pessoa/Divulgação
Alvos de uma operação do Ministério Público de São Paulo nesta terça-feira (9), as empresas de ônibus Transwolff e Upbus, que operam, respectivamente, nas Zonas Sul e Leste da capital paulista, estão envolvidas em vários problemas e polêmicas na cidade.
Há duas semanas, passageiros se revoltaram no Terminal Varginha, na Zona Sul, em virtude dos serviços ruins prestados pela Transwolff na região.
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Depois de esperar mais de duas horas por um ônibus da linha 6072/10 Jd. São Nicolau – Term. Varginha, na direção de Parelheiros, dois passageiros iniciaram um quebra-quebra na noite do último dia 20 de março. (Veja vídeo abaixo)
Passageiro promove quebra-quebra por causa da demora dos ônibus no Terminal Varginha
Em nota depois do episódio, a empresa lamentou a confusão, mas admitiu que não estava prestando um bom serviço na região Sul da cidade.
Os constantes atrasos da Transwolff levaram o prefeito Ricardo Nunes (MDB) a chamar a empresa de “irresponsável” e determinar ação da SPTrans para melhorar o serviço e punir a companhia.
No dia seguinte ao ocorrido, a SPTrans multou a empresa, e repassou seis linhas controladas por ela para as empresas MobiBrasil e Viação Grajaú.
O g1 tenta contato com ambas as empresas.
Nunes pede desculpas aos usuários por atrasos nos ônibus na Zona Sul e chama empresa de ‘irresponsável’
Transporte aquático
A Transwolff também é a concessionária que foi contemplada com a concessão do transporte aquático na Represa Billings, na Zona Sul da capital paulista.
O serviço, que é uma das apostas para a tentativa de reeleição do prefeito Ricardo Nunes em 2024, sofreu ao menos três atrasos para ser inaugurado e o início da operação foi embargado pela Justiça no final de março por falta de estudos de impacto ambiental da operação na represa.
Barco que será usado no transporte hidroviário da represa Billings, na Zona Sul de São Paulo.
Divulgação/SPTrans
Na pressa de inaugurar ainda neste ano eleitoral, a SPTrans repassou a operação do serviço “Aquático SP” para Transwolff sem fazer qualquer licitação, por meio de um aditivo contratual acertado com a empresa.
Ao cancelar a inauguração que estava prevista para o final de março, após os atrasos de implantação, o juiz Antonio Augusto Galvão de França, da 4ª Vara da Fazenda Pública, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), disse que o início do serviço sem os devidos estudos de impacto traria “elevado risco de dano ambiental” à represa.
A decisão foi de caráter liminar e atendeu a um pedido feito pela promotora Maria Gabriela Ahualli Steinberg, do MPSP. A Prefeitura de SP e a SPTrans recorreram, mas ainda não conseguiram derrubar a liminar.
Prefeitura adia pela 3ª vez o início do transporte hidroviário na Represa Billings
Na operação desta terça-feira (9), o MP prendeu por determinação da Justiça dois funcionários da Transwolff: Luiz Carlos Efigênio Pacheco, apelidado de Pandora e apontado como dono da empresa, e Robson Flares Lopes Pontes, também apontado como dirigente da companhia.
Com quase 1200 ônibus na frota, a Transwolff opera 90 linhas de ônibus na cidade e transporta diariamente cerca de 700 mil pessoas por dia. As informações constam no site da empresa.
O g1 procurou a SPTrans para falar sobre o assunto, mas não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem.
UPBus Qualidade em Transportes S/A
Já no caso da UPBus Qualidade em Transportes S/A, que opera na Zona Leste de São Paulo, a empresa é alvo de investigações por ligação com o crime organizado desde 2022.
À época, a UPBus teve mais de R$ 45 milhões em bens bloqueados pela Justiça, em razão das investigações da Polícia Civil paulista.
Polícia diz que chefes de facção criminosa são diretores em empresa de ônibus em SP
Na ocasião, a Justiça proibiu a negociação dos imóveis e veículos dos sócios e de pessoas ligadas à UPBus.
Segundo os investigadores, a UPBus tinha entre os seus sócios cinco chefes de uma facção criminosa e parentes deles.
Duas dessas pessoas teriam ganhado na loteria 65 vezes e, segundo a polícia, uma delas, José Muniz Leite, dividiu um dos prêmios, de R$ 16 milhões, com Anselmo Santa Fausta – assassinado em 2021.
Durante a investigação da Polícia Civil, o delegado Fernando Santiago, do Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcótico (Denarc), disse que um dos principais chefes da facção criminosa paulista PCC, Silvio Luiz Ferreira, de 44 anos, era um dos controladores da UPBus Qualidade em Transportes S/A.
De acordo com o delegado, a empresa sediada no bairro do Limoeiro, na Zona Leste, era usada por outros três integrantes do PCC para lavar o dinheiro vindo dos pontos de vendas de drogas da capital paulista.
Foragido da Justiça, Ferreira é conhecido na organização criminosa pelos apelidos Cebola, Arrepiado, Cebolinha, Silvinho e Equador.
Operação do MP-SP
Juntas, as duas companhias transportam cerca de 15 milhões de passageiros por mês na capital paulista.
De acordo com o MP, a Prefeitura de São Paulo deve assumir a operação das linhas de ônibus das duas empresas, de acordo com ordem da Justiça paulista
A Justiça determinou a medida, mas a gestão Nunes alega que ainda não recebeu a ordem judicial.
“Estamos no aguardo com relação à decisão judicial quanto as medidas que a SPTransporte precisa tomar”, disse secretário executivo de Transporte e Mobilidade Urbana, Gilmar Pereira Miranda.
Segundo Miranda, a SPTrans, estatal de transporte coletivo da capital, tem condições técnicas para dar conta do serviço sem prejuízo da população.
SPTrans vai assumir operação de linhas de ônibus de empresas alvo de operação do MP
Em entrevista ao Bom Dia SP nesta manhã, ele defendeu que o contrato de prestação de serviço das empresas investigadas com a gestão municipal não apresenta problemas.
“O que a gente tem hoje é que a operação de todas as empresas, incluindo as duas citadas, estão conforme o contrato da prefeitura com eles. Se houver essa ordem judicial, a gente vai passar a gerir a operação, o RH e a manutenção dessas empresas.”

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