23 de setembro de 2024

Produto para impedir que inseto que levou cidade de SC a decretar emergência se desenvolva entra em fase de pesquisa

Estudo quer determinar eficácia da medida. Município de Luiz Alves, no Vale do Itajaí, decretou emergência no final de março. Endemia do inseto maruim atinge Luiz Alves, em Santa Catarina
Um produto para combater o maruim, inseto que fez o município de Luiz Alves, no Vale do Itajaí, Santa Catarina, decretar situação de emergência, entrou na fase de pesquisa. O objetivo é descobrir a eficácia da medida, que visa impedir o desenvolvimento da larva.
O decreto em Luiz Alves, feito em 27 de março, ocorreu por causa do aumento da população de maruins. Os moradores do município relatam desconforto devido às picadas do inseto. O município tem 11.684 habitantes, de acordo com o Censo 2022.​
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A fase de pesquisa começou nesta terça-feira (9) para descobrir a eficácia do produto, chamado de Controlador Bioativo do Maruim (CBM), informou o Consórcio Intermunicipal de Gestão Pública Vale do Itapocu (Cigamvali), que atua no desenvolvimento do CBM desde 2018.
Antes desta fase da pesquisa, foram feitos testes aplicando o produto em áreas rurais. Cada litro precisa ser diluído em 20 litros de água. Conforme o Cigamvali, a percepção dos moradores é de diminuição na presença do maruim.
“Os estudos iniciais dão conta que a maior incidência é concentrada quando tem o corte do caule da bananeira e do corte do palmito. O produto é um bioativo que é passado nessas duas áreas e em material orgânico”, explicou Ronnie Lux, diretor-executivo do Cigamvali.
Controlador Bioativo do Maruim, o CBM
Cigamvali/Divulgação
“Muda o PH da água e daí a larva não consegue se desenvolver, diminui o crescimento da larva. Depende da utilização correta do produto”.
A ideia é agir no desenvolvimento da larva para que nasçam menos maruins. O material precisa ser aplicado de 15 em 15 dias. “Não pode ter uma interrupção porque a larva pode durar até um ano, fica em hibernação. É realmente um trabalho de continuidade”, reforçou o diretor-executivo.
Em fevereiro, o Cigamvali entrou em contato com a Universidade Regional de Blumenau (Furb) para que eles façam o trabalho de determinar a eficácia da medida.
Esse trabalho, que começou nesta terça, deve durar até julho. O diretor-executivo reforçou que o produto não é venenoso.
Aplicação em Luiz Alves
O secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Luiz Alves, Ronivandro Piccini, esclareceu que o município fazia parte do Cigamvali quando a pesquisa começou.
O produto chegou a ser aplicado em Luiz Alves. No final do ano passado, porém, o município saiu do Cigamvali. Contudo, a cidade não abandonou o produto.
“Com o que aconteceu aqui, a explosão de maruim, a gente procurou os pesquisadores [do CBM] e a gente está contratando para ter o serviço dentro do município”, declarou o secretário.
Picadas do inseto maruim em morador de Luiz Alves
Jaqueline Fischer/Arquivo pessoal
Com isso, Luiz Alves quer continuar a aplicação. Entretanto, há desafios, conforme o secretário.
“Vou dar um exemplo. Em um campo de futebol, vimos que, no gramado, contendo umidade, o maruim consegue se multiplicar. Nesses locais de uso comum, ninguém estava fazendo aplicação do produto. Vamos começar a partir de agora, em áreas coletivas e maiores”.
“A gente fez a contratação dos pesquisadores para iniciar agora esse mês tratativas com eles para como a gente vai agir daqui para frente, traçando estratégias”, continuou o secretário.
O que é o maruim?
O professor de ecologia e zoologia Luiz Carlos de Pinha, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), confirmou que o maruim é mesmo um tipo de mosquito.
“Não é do mesmo grupo dos mosquitos como o Aedes [aegypti, transmissor da dengue], é um parente próximo”. O maruim é do gênero Culicoides.
“Da mesma forma que o mosquito da dengue e da malária, somente as fêmeas picam. A picada serve como suplemento alimentar para a fêmea produzir ovos. Só consegue gerar descendentes depois de picar alguém”, explicou o professor.
Mosquito maruim, transmissor da febre Oropouche
Fiocruz
Nas pessoas, o maruim pode transmitir a Febre do Oropouche. “Essa doença é relativamente comum no Amazonas, Pará, tem vários casos relatados lá. Vale a pena ficar alerta porque é uma doença que é facilmente confundida com a dengue no seu diagnóstico, nos sintomas, dor nas articulações, febre. Já foi diagnosticada no Sudeste. Para chegar à região Sul é um pulo”, disse o professor.
A Febre do Oropouche tem sintomas similares à dengue e à chikungunya, incluindo dor de cabeça, muscular, nas articulações, náusea e diarreia – o que pode complicar diagnósticos clínicos.
Não há tratamento específico para a febre. Recomenda-se repouso, tratamento sintomático e acompanhamento médico.
O que diz o decreto de Luiz Alves
De acordo com o documento, os moradores relatam desconforto com as picadas.
Também descreve que o inseto está espalhado tanto na área urbana quanto rural do município. O decreto reforça que a disseminação do maruim dificulta ou impede a exposição dos moradores ao ar livre, principalmente de bebês e idosos.
Além disso, como há muita atividade agrícola no município, os produtores ficam expostos ao inseto enquanto trabalham na lavoura e na pós-colheita, na hora de embalar as mercadorias.
O decreto reforça, ainda, que “as picadas podem evoluir para reações alérgicas graves, feridas, que podem ser porta de entrada para microrganismos patogênicos, que exigem cuidados médicos” e que repelentes e outros métodos químicos se mostraram ineficazes contra o inseto.
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