23 de setembro de 2024

Golpista diz vender carros com condições atrativas, mas foge com dinheiro até do ‘amigo’, que agora vende a casa para pagar dívida

Indiciado por estelionato, Alex Sandro Ribeiro de Almeida é investigado em 7 delegacias e fez ao menos 15 vítimas, segundo delegada. Golpista dizia que estava vendendo carros mas fugiu com o dinheiro
Carros que custam até R$ 200 mil com entradas de apenas R$ 2,5 mil e parcelamento do restante. O negócio que parecia “da China” não passava de uma farsa e os compradores nunca receberam os veículos. Segundo a investigação, até um amigo do golpista foi atraído, atuou como intermediário de vendas e, agora, colocou a casa à venda para pagar a dívida com os compradores.
“Ele era meu amigo, entendeu? A gente se conheceu aqui no lava-jato. Ele era meu cliente, entendeu? Durante um ano, a gente começou a criar aquele vínculo de cliente com prestador de serviço. E fomos nos aproximando”, conta uma das vítimas, Guilherme Ferreira Dias, de 23 anos.
Dono de um lava-jato de carros na porta de casa, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, ele viu a vida dele, que já não é fácil, ficar ainda mais difícil após se aproximar de Alex Sandro Ribeiro de Almeida.
“Aí, ele me chamou para ir à casa dele, num domingo, eu e a minha esposa. Fomos lá, aí comemos churrasco, fomos lá na casa dele. Aí, ele foi e falou comigo: ‘Irmão, eu trabalho também com venda de veículos, só que eu trabalho assim, um primo meu, um amigo, um familiar, porque eu nunca peguei para trabalhar firme porque eu não tenho tempo para isso. Só para levantar um dinheiro mesmo nas vezes em que eu preciso””, lembra Guilherme.
Alex Sandro foi indiciado pela 64ª Delegacia (São João de Meriti) pelo crime de estelionato. Segundo as investigações, um especialista em aplicar golpes em vendas de veículos.
“Ele é o típico 171. Ele tem a lábia capaz de seduzir e acreditar, fazer acreditar nas mentiras que ele conta”, explica a delegada Isabelle Conti.
Oferta de negócio vantajoso
Guilherme passou a vender carros e motos que o tal amigo dizia ter aquirido em leilões. Pelo serviço, ele receberia comissões. Nem ele nem os compradores imaginavam que estavam sendo enganados: começaram a pagar por bens que nunca existiram.
”Ele se sentou, me explicou, me mostrou os vídeos, as fotos, os vídeos de carro e moto sendo entregues”, conta Guilherme.
O negócio parecia vantajoso. Segundo a polícia, Guilherme e um outro vendedor foram convencidos a compartilhar mensagens e fotos dos veículos em redes sociais. E não faltaram fregueses atraídos pelo baixo valor da entrada e prestações a perder de vista, sem consultas no SPC ou na Serasa.
Guilherme conta que ganharia entre até R$ 500 de comissão.
“Carro, era de R$ 300 a R$ 500, dependendo do modelo do carro. Os clientes passavam para mim a documentação, o valor no PIX, e eu encaminhava para ele”, diz a vítima.
‘Amigo’ se mudou e não foi mais visto
Guilherme procurou a delegacia e denunciou o “amigo” assim que percebeu que havia caído em um golpe. Chegou a tentar tirar satisfações com o tal “amigo”, mas deu de cara na porta.
“Quando chegou lá, o vizinho que mora em cima falou: ‘Pô, Guilherme, o Alex já se mudou já tem um mês’. ‘Como é que é isso, cara? Ninguém me falou nada! Ele passou o Ano Novo comigo aqui em casa aqui com a minha família, pô!’.”
Investigações em 7 delegacias e 15 vítimas
Além do caso na 64ª DP, existem outras investigações contra ele em mais seis delegacias espalhadas em todo Rio de Janeiro.
“Nós já identificamos, até o momento, 15 vítimas desse golpista. Sendo que, das 15 vítimas, apenas 3 quiseram dar prosseguimento na investigação criminal”, diz a delegada.
Guilherme agora está sendo cobrado pelas vítimas. As entradas somadas chegam a R$ 35 mil.
“Chamei todo mundo: ‘Olha, pessoal, caímos em um golpe. Essa foi a verdade’. Não tenho nada a esconder. Eu simplesmente fui usado, entendeu? Para que ele pudesse armar tudo, pô”, lamenta Guilherme.
A vítima já colocou à venda a casa onde mora com a mulher e a avó e quer honrar a dívida. Não quer ser taxado também como golpista: “Não! Jamais (…) Não tem muito o que fazer. Eu sou trabalhador. Eu ganho pouco, eu trabalho com lava-jato, eu sou uma pessoa humilde”.
Delegada faz alerta
A delegada faz alerta para negócios atrativos além do normal. Especialmente se feitos informalmente.
“É importante que as pessoas se atentem primeiro ao valor oferecido. Às vezes, um negócio muito atrativo, ele tem uma série de nuances que levam, que se a pessoa parar e observar, vai perceber que aquilo não é um negócio real (…) Tem que estar atenta não só ao valor praticado, mas também: quem é o vendedor? Comprar, fazer um tipo de negócio de alto vulto, um valor alto, simplesmente por ouvir dizer, sem conhecer o vendedor, sem saber, sem ver o veículo, é um risco muito grande”, explica.

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