12 de janeiro de 2025

Reabertura do Mercado de São Brás marca entrega da primeira das 8 obras municipais para COP30, em Belém; confira cada projeto


Após quase dois anos de obras, o Mercado de São Brás foi reaberto, tornando-se a primeira grande obra entregue para a COP. Com orçamento de R$ 150 milhões, o espaço será um centro cultural e gastronômico de Belém. Outras sete obras da Prefeitura estão previstas para conclusão no segundo semestre de 2025. Mercado de São Brás, em Belém, no Pará.
Amarilis Marisa/ Agência Belém
Após 23 meses de obras, o Mercado de São Brás foi reaberto em Belém. Segundo o Governo Federal, é a primeira grande obra de infraestrutura entregue para a COP 30, das 8 sob responsabilidade da Poder Público Municipal (confira cada uma das obras mais abaixo).
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) será realizada em Belém, no Pará, entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025.
O Mercado de São Brás, novo centro cultural e gastronômico de Belém, teve investimento total de mais de R$ 150 milhões. Desse valor, R$ 90 milhões são do Governo Federal, por meio da Itaipu Binacional, e R$ 60 milhões da contrapartida da Prefeitura de Belém.
O orçamento final de R$ 150 milhões ficou acima dos R$ 118 milhões anteriormente informados durante levantamento feito em junho de 2024 pelo g1 sobre as obras da COP.
A obra tinha prazo de entrega para setembro de 2024, porém em 17 de setembro apenas uma parte foi reaberta para o público. O espaço completo foi entregue três meses depois, em 18 de dezembro de 2024.
Porém, a ocupação completa pelos antigos feirantes e novos locatários só deve finalizar em março de 2025, após o processo de adaptação de cada box cedido para a comercialização.
Mercado de São Brás, em Belém, no Pará.
Amarilis Marisa/ Agência Belém
O ex-prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (PSOL), disse na época esperar que o local cumpra um papel importante para os novos empreendimentos.
“Esse espaço terá um efeito muito grande para frente, para a economia, especialmente numa área que é muito forte para nós. Somos referência mundial das feiras e mercado, especialmente das feiras livres, daí a importância de manter os feirantes antigos daqui”.
Além do Mercado de São Brás, a Prefeitura de Belém é responsável pela construção de sete outras obras da COP. O prazo de entrega da maioria dessa obras está marcado para o segundo semestre de 2025, em etapas.
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Valorização da mão de obra local
O complexo do Mercado de São Brás será administrado durante 20 anos pela Organização Social Instituto Amazônia Azul. O presidente da entidade, Paulo Uchoa, diz que o espaço central será ocupado pelos locatários e as áreas de trás pelos 193 permissionários.
“Você vai ter a convivência de espaços mais sofisticados, com espaços intermediários para outro tipo de público, além de um espaço tradicional popular. Então, os espaços foram pensados para dar conta dessa diversidade”, afirmou.
Segundo Paulo Uchoa, dos 250 interessados em locar espaços para comercialização, a maioria absoluta são de empresários do Pará. “Estamos fazendo uma triagem para que a inovação, a regionalidade, a diversidade e a expertise sejam garantidas aqui”.
Mercado de São Brás, em Belém, no Pará.
Dinei Souza/Agência Belém
A permissionária Rosana Martins tem 63 anos, sendo 32 anos deles dedicados ao trabalho no Mercado de São Brás. Ela segue o mesmo caminho do pai, que saiu do interior do Pará e veio para Belém vender ervas medicinais e produtos religiosos no mercado.
Rosana conta que com o passar do anos o mercado começou a ser desprestigiado pelo poder público, perder clientela e ser invadido por pessoas em situação de rua.
“Vivi momentos muito difíceis. Sempre lutamos muito para não perder esse espaço e sempre tivemos um sonho de revitalizar esse local e transformar num mercado modelo e que os trabalhadores que estão aqui fossem incluídos no projeto”, disse.
Maria Azevedo é outra permissionária que está contente com o espaço, porém tem uma preocupação. Segundo ela, que trabalha há 17 anos no mercado, a parcela fixa de R$ 50 por mês será ajustada para R$ 65 por metro quadrado.
“É uma coisa que a gente tá se preocupando demais. A gente entende que a gente tem que pagar por um espaço novo, reformado, vai ter segurança, empresa privada para limpeza. Então, nossa esperança é ter um público melhor para poder pagar esse valor”, afirmou.
Diferentes espaços
O novo centro cultural e gastronômico terá espaços variados. Paulo Uchoa afirma que o público vai encontrar no Mercado de São Brás lojas de comidas ao estilo de botecos, livrarias, exposições e galerias de arte.
Assinado pelo arquiteto Aurélio Meira, o projeto de restauração inclui ainda um centro de convenções, restaurante panorâmico e terraço.
“Aurélio Meira procurou inspiração em vários outros mercados, como o Mercado do Bolhão de Porto, lá em Portugal, assim como no Mercado de São Paulo, para que a gente pudesse ter o melhor de cada um desses locais”, disse o presidente do Instituto Amazônia Azul.
Mercado de São Brás, em Belém, no Pará.
Dinei Souza/Agência Belém
LEIA TAMBÉM: Como estão as obras da COP que somam mais de R$ 4 bilhões em Belém
Valter Correia, secretário extraordinário para a COP 30, acompanhou a reforma do Mercado de São Brás ao longo de 2024 e afirmou que essa é a primeira obra da Conferência das Partes entregue no ano passado.
“São mais de 30 obras estruturantes que estão acontecendo em Belém, junto com a Prefeitura e o Governo do Estado e estão absolutamente todas dentro do cronograma. Todas elas estão dentro do cronograma estipulado para ser entregue antes da COP”, disse.
O secretário extraordinário destacou que o legado do evento vai ficar para Belém, o Pará e a Amazônia e que o reflexo da COP já é percebido desde agora, com a ocupação de vários leitos de hotéis.
Questionado sobre a possibilidade de Belém dividir a sede do evento com outra capital brasileira, como Rio e São Paulo, por conta dos problemas estruturais na cidade, Valter garante que isso não vai ocorrer.
“Não há nenhuma possibilidade, pelo menos no nosso horizonte, de que isso venha a ocorrer, de dividir o evento com qualquer outra cidade ou qualquer outra capital. Na minha visão, é perfeitamente possível a realização de uma das melhores COPs que já foram desenvolvidas, e que tem condições de ser feita aqui sim”, destacou.
Patrimônio histórico
O Mercado de São Brás tem 113 anos e foi projetado pelo arquiteto italiano Filinto Santoro. Sua construção foi iniciada no dia 1º de maio de 1910 e concluída em 21 de maio de 1911.
O local foi erguido durante a época áurea do ciclo da borracha amazônica (Belle Époque), em Belém, e possui uma estrutura construída em ferro e mescla elementos arquitetônicos do art nouveau e o neoclássico, com detalhes escultóricos em ferro e azulejos decorativos.
Praça Floriano Peixoto, localizada em frente ao Mercado de São Brás, em Belém, no Pará.
Amarilis Marisa/ Agência Belém
Localizada no bairro de São Brás, em frente à praça Floriano Peixoto, o patrimônio passou por uma grande reforma em 1988, com mudanças significativas nos seus aspectos espaciais e de uso.
O historiador Marcos Valadares, mestre em História Social pela Universidade Federal do Pará e pesquisador da urbanização de Belém, conta que a edificação do Mercado de São Brás não deve ser dissociada da importância da praça Floriano Peixoto.
Para ele, ambos os patrimônios (praça e mercado) contribuíram para a expansão do mercado comercial na cidade, que antes contava apenas com o mercado Ver-o-peso.
“Isso tudo na virada do século XIX para o XX, período de urbanização de Belém e no auge da economia da borracha. A praça e o mercado nascem da expansão da área da estação ferroviária da estrada de ferro Belém-bragança e com o crescimento do perímetro”, afirma.
Mercado de São Brás, em Belém.
Amarilis Marisa/ Agência Belém
Marcos cita que o Mercado de São Brás compõe o conjunto de edificações e monumentos tombados por meio da Lei Municipal de Patrimônio Histórico e Preservação que passou a ser reconhecido como um referencial de comércio e logística por milhares de pessoas.
“O Mercado se impõe no bairro de São Brás como um dos símbolos de uma fase da história de Belém onde o centro histórico já não comportava as demandas comerciais e de transporte do município. As milhares de pessoas que se deslocavam para os interiores do estado na estrada de ferro, já o usavam como referência de comércio e logística desde sua fundação nos anos 1910”, afirma.
Segundo Valadares, esse tipo de reforma se ampara na Portaria nº 420, de 22 de dezembro de 2010, do Iphan. Nesse documento, consta os parâmetros legais para a intervenção em obras de imóveis tombados.
Quais são as obras da COP da prefeitura?
Com a entrega do Mercado de São Brás, a Prefeitura de Belém ainda tem 7 outros grandes projetos voltados para a COP 30, prevista para ocorrer em novembro de 2025. Confira abaixo detalhes de cada um dos empreendimentos restantes:
Criação do Parque Urbano Igarapé São Joaquim
Macrodrenagem da Bacia do Igarapé Mata Fome
Duplicação da Avenida Bernardo Sayão
Revitalização da Avenida Júlio César
Reforma do Mercado do Ver-O-Peso
Gestão de Resíduos Sólidos, Educação Ambiental e Inovação em Bioeconomia
Implantação do Distrito de Inovação e Bioeconomia
Parque Urbano Igarapé São Joaquim, em Belém, COP 30.
GRS Arquitetura
Criação do Parque Urbano Igarapé São Joaquim
A obra tem 5 quilômetros de extensão, da avenida Júlio César (bairro da Marambaia) até as margens da Baía do Guajará, dividida em quatro etapas.
A criação do Parque envolve os serviços de macro e microdrenagem, reurbanização, construção de pontes, espaços de visitação turística e urbanização.
A obra tem orçamento de R$ 173 milhões e entrega da primeira parte para outubro de 2025.
Igarapé Mata Fome, em Belém, COP 30.
João Gomes/Comus
Macrodrenagem da Bacia do Igarapé Mata Fome
Serão realizados serviços de macrodrenagem, renaturalização, desassoreamento, construção e recuperação de vias ao longo dos mais de 8 quilômetros do canal.
Serão construídas 608 habitações, nova ponte na rodovia Arthur Bernardes, orla, pier, pórticos, locais para navegabilidade, praças, estacionamentos e ciclovias.
A obra tem orçamento de mais de R$ 400 milhões e entrega da primeira parte para março de 2029.
Duplicação da Av. Bernardo Sayão, em Belém, COP 30.
Mácio Ferreira/Agência Belém
Duplicação da Avenida Bernardo Sayão
A duplicação da avenida Bernardo Sayão quer ligar a Cidade Velha até a Universidade Federal do Pará (UFPA). Ao todo, a obra envolve 4 Fases.
A primeira etapa vai da Rua dos Mundurucus até a Travessa Quintino Bocaiúva. A obra vai beneficiar cerca de 1 milhão de pessoas dos bairros Jurunas até o Guamá.
A obra tem orçamento de R$ 269 milhões e entrega da primeira fase para fevereiro de 2025.
Revitalização da Av. Júlio César, em Belém, COP 30.
Agência Belém
Revitalização da Avenida Júlio César
Serão recuperados 4,85 quilômetros de extensão da avenida Júlio César, do perímetro da avenida Almirante Barroso até o Aeroporto Internacional de Belém.
São duas fases. Na primeira serão feitos os serviços de terraplenagem, pavimentação, drenagem, sinalização, paisagismo, ciclofaixas, calçadas com piso tátil, projeto de iluminação e recapeamento asfáltico.
A obra tem orçamento de R$ 136,5 milhões e entrega da primeira parte para agosto de 2025.
Mercado do Ver-O-Peso, Belém, COP 30.
Augusto Miranda/Agência Pará
Reforma do Mercado do Ver-O-Peso
A reforma do complexo do Ver-O-Peso envolve as áreas da Feira Principal, Estacionamento, Mercado de Peixe, Mercado de Carne, Ladeira do Castelo e Feira do Açaí.
A feira tradicional vai ganhar revitalizado mais 168 boxes, novos e modernos. O local terá nova cobertura em lona, novos boxes, nova pavimentação, iluminação com LED e especial, além de todas as prevenções contra incêndio.
A obra tem orçamento de R$ R$ 64 milhões e a entrega do complexo será em outubro de 2025.
Coleta seletiva.
Divulgação/Sobloco
Gestão de Resíduos Sólidos, Educação Ambiental e Inovação em Bioeconomia
Convênio entre a Prefeitura de Belém (PMB), a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp) e a Fundação Itaipu Parquetec (FIPT).
Projeto objetiva apoiar o desenvolvimento estrutural, conceitual e metodológico na gestão de resíduos sólidos, educação ambiental e bioeconomia em áreas urbanas de Belém.
Prevê a realização de seminários temáticos; oficinas em escolas e comunidades; apresentações teatrais; implantação de biodigestores e produção de materiais educativos e orientativos.
Instalação de quatro Unidades de Valorização de Recicláveis; aquisição de quatro caminhões para coleta seletiva; monitoramento de indicadores e contratação e capacitação de técnicos para as UVRs.
A obra tem orçamento de R$ R$ 41 milhões e a entrega para agosto de 2025.
Bioeconomia na Amazônia.
Foto: Projeto Árvores Gigantes da Amazônia/ Divulgação
Implantação do Distrito de Inovação e Bioeconomia
A implantação do Distrito de Inovação e Bioeconomia é o primeiro passo para fomentar a bioeconomia e a economia criativa da cidade, transformando o centro histórico e a área central da cidade, como catalisador no incentivo a novos negócios.
O DIBB terá sua sede no casarão Higson, na confluência da Av. 15 de Novembro com a travessa Frutuoso Guimarães, no largo das Mercês, centro comercial de Belém. A reforma do casarão iniciou em julho de 2024.
A obra tem orçamento de R$ R$ 12 milhões e a entrega para agosto de 2025.
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