23 de setembro de 2024

Caçada por terra, água e ar que resultou em 18 suspeitos mortos após assalto completa um ano com investigações em aberto

Operação envolveu cerca de 350 policiais de cinco estados e teve orçamento de quase R$ 1 milhão. Relembre os fatos marcantes do ataque à cidade de Confresa (MT) ao cerco no Tocantins. Operação Canguçu foi uma das maiores operações policiais do país
Arte g1
Era domingo de Páscoa quando um grupo de criminosos tentou invadir uma empresa de transporte de valores de Confresa, no Mato Grosso. Após a prática de crime na modalidade domínio de cidades, o grupo fugiu para o Tocantins. Assim começou a Operação Canguçu, que nesta quarta-feira (10) completa um ano e ainda tem investigações em curso.
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Dentro do território tocantinense, foram 39 dias de caçada pelos suspeitos em regiões de mata, por rios, nas rodovias e dentro das cidades que ficam no oeste do estado. Nos diversos embates entre policiais e criminosos, restou o saldo de 18 fugitivos mortos e cinco presos.
Policiais continuam na busca por grupo criminoso que aterrorizou Confresa (MT)
Divulgação/Polícia Militar
Passado um ano da caçada, a autoria dos crimes de Confresa segue em investigação pela Polícia Civil de Mato Grosso. Ao g1, o delegado Gustavo Belão, da Gerência de Combate ao Crime Organizado da PC-MT, explicou que no decorrer do ano, três inquéritos foram concluídos com o indiciamento de cinco pessoas. Os nomes não foram divulgados.
Mas ainda há outras apurações em curso feitas no Mato Grosso por meio da Operação Pentágono, deflagrada depois da Canguçu. “Foram três prisões preventivas e pelo menos seis mandados de busca na primeira fase. A segunda fase da operação Pentágono teve como foco o cumprimento de 35 buscas e apreensões que envolveram pelo menos 18 cidades e seis estados da Federação”, afirmou o delegado.
Números da operação
A Operação Canguçu movimentou equipes policiais de todas as forças de segurança do Tocantins e outros estados. Gerou custos financeiros e o uso de equipamentos diferenciados, tudo para conseguir capturar os criminosos.
O g1 fez um balanço dos números e outras características da operação, segundo informações repassadas pela Polícia Militar, que coordenou todas as ações. Confira:
Tempo de duração da Operação Canguçu – 39 dias;
Efetivo empregado – cerca de 350 policiais civis e militares;
Estados que deram apoio – Mato Grosso, Goiás, Pará e Minas Gerais;
Como os policiais se organizaram – bloqueios, cerco, rastreamento e patrulhamento diuturno;
Orçamento da operação – R$ 936.373,00, direcionado por suplementação orçamentária para a Polícia Militar, que segundo a corporação não prejudicou as demais operações ocorridas em 2023;
Gasto por dia – R$ 24 mil;
Emprego do orçamento – segundo a PM, o recurso usado durante a operação foi referente a diárias para custeio de alimentação e estadia das equipes. Não foram computados nos cálculos gastos com combustíveis para viaturas e aeronaves, que já estavam previstos no orçamento anual da polícia. Conforme a PM, os gastos foram considerados baixos, já que houve muito apoio de moradores locais, comércios das cidades próximas e da comunidade de agricultores e pecuaristas, que ajudaram as equipes;
Materiais e armamentos usados pelas equipes – fuzis de assalto para enfrentar longas distâncias e cobrir grandes áreas; metralhadoras leves para fornecer suporte de fogo e controle de áreas; espingardas calibre .12 para uso em distâncias curtas e em operações em locais fechados; pistolas semiautomáticas como armamento secundário para os policiais, e munições; coletes à prova de disparos de arma de fogo, para proteção pessoal dos policiais; rádios de comunicação para garantir a coordenação eficaz entre as equipes;
Transporte e tecnologia – veículos táticos, que proporcionaram mobilidade e proteção para as equipes policiais, permitindo o acesso a áreas de difícil alcance; drones e aeronaves não tripuladas com câmeras térmicas, para vigilância aérea em tempo real, permitindo monitoramento de áreas extensas sem expos os policiais a riscos; helicópteros e aviões, para deslocamento rápido das equipes para áreas remotas.
Criminosos invadiram base da PM em Confresa
Reprodução
Neste um ano, o g1 relembra os principais fatos da Operação Canguçu. Confira:
Primeiros dias
O grupo criminoso com pelo menos 20 pessoas entrou no Tocantins pelo rio Javaés, para escapar da tentativa frustrada de invadir a transportadora, explodir carros e casas e atacar uma base policial em Confresa.
Policiais a postos para seguir com as buscas na Operação Canguçu
Divulgação/PM
Eles atravessaram o rio em canoas e para não deixar rastros, tentaram afundar as embarcações, perto do Centro de Pesquisa Canguçu, da Universidade Federal do Tocantins (UFT).
No dia 10 de abril de 2023, aconteceu o primeiro embate, que contou com policiais da Patrulha Rural na área de uma fazenda de Pium, no oeste do estado. Houve troca de tiros e as forças de segurança reforçaram o efetivo no local. Nesse dia, diversas viaturas foram vistas deixando a capital e seguindo para a cidade em comboio.
Os criminosos se dividiram e um dos grupos chegou a fazer uma família da região de refém. Neste mesmo dia, mais dois confrontos aconteceram entre policiais e criminosos. Um dos suspeitos morreu no primeiro dia após trocar tiros com policiais. Ainda no dia 10 de abril, aconteceram mais duas trocas de tiros.
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Cerco fechado, prisões e mais mortes
Logo nos primeiros dias os policiais que estavam na área do cerco perceberam que os criminosos portavam um verdadeiro arsenal de guerra. Tanto que a cada confronto, foram apreendidas metralhadoras de grosso calibre, coletes balísticos, explosivos e até fuzis capazes de derrubar helicópteros.
Nos primeiros 20 dias de operação, os confrontos somaram oito mortes de criminosos e duas prisões. Somente no dia 18 de abril, quatro suspeitos foram mortos na troca de tiros dentro da região de cerco.
Equipes no cerco formado na Operação Canguçu
Divulgação/PM
A última morte aconteceu no dia 13 de maio de 2023, em confronto entre o suspeito e policiais que integram a Força Tática do 1º Batalhão da PM, em uma região de mata perto da fazenda Terra Boa e do assentamento Barranco do Mundo, em Pium.
Todos os corpos foram levados para unidades do Instituto Médico Legal (IML) do Tocantins, identificados e entregues aos parentes.
Veja os nomes dos mortos, datas dos confrontos e prisões:
Danilo Ricardo Ferreira – 46 anos, morto no dia 10 de abril, natural de São Paulo (SP)
Raul Yuri de Jesus Rodrigues – 29 anos, morto no dia 12 de abril, natural de Diadema (SP)
Eduardo Batista Campos – 32 anos, morto no dia 19 de abril, natural de Imperatriz (MA)
Julimar Viana de Deus – 35 anos, morto no dia 19 de abril, natural de Imperatriz (MA)
Célio Carlos Monteiro – 62 anos, morto no dia 19 de abril, natural de Avaré (SP)
José Cláudio dos Santos Braz – 37 anos, morto no dia 19 de abril, natural de Serra Talhada (PE)
Matheus Fernandes Alves – 27 anos, morto no dia 22 de abril, natural de Goiânia (GO)
Jonathan Camilo Melo de Sousa – 34 anos, morto no dia 27 de abril, natural de São Paulo (SP)
Airton Magalhães Marques – 27 anos, morto no dia 29 de abril, natural de Salvador (BA)
Luiz Gustavo Pereira dos Santos – 35 anos, morto no dia 1º de maio, natural de São Paulo (SP)
Rafael Ferreira Pinto – 34 anos, morto no dia 1º de maio, natural de Osasco (SP)
Ericson Lopes de Abreu – 31 anos, morto no dia 1º de maio, natural de Guarulhos (SP)
Luis Silva – 46 anos, morto no dia 1º de maio, natural de São Miguel Arcanjo (SP)
Gilvan Moraes da Silva – 45 anos, morto no dia 2 de maio, natural de Marabá (PA)
Robson Moura dos Santos – 33 anos, morto no dia 2 de maio, natural de Jacundá (PA)
Ronildo Alves dos Santos – 41 anos, morto no dia 8 de maio, natural de São Paulo (SP)
Ricardo Aparecido da Silva – 39 anos, morto no dia 10 de maio, natural de Nova Odessa (SP)
Janiel Ferreira Araújo – 43 anos, morto no dia 13 de maio, natural de Marabá (PA)
Danilo Ricardo, Raul Yuri, Eduardo Batista, Julimar Viana, Célio Carlos e José Cláudio
Reprodução
Além da captura de cinco envolvidos nos ataques a Confresa, os cercos e fiscalizações e bloqueios conseguiram prender dez foragidos da justiça que tinham mandado de prisão em aberto, mas sem relação com o roubo na cidade de Mato Grosso.
Matheus Fernandes, Airton Magalhães, Rafael Ferreira, Jonhathan Camilo, Luiz Gustavo e Ericson Lopes
Reprodução
Luis Silva, Gilvan Moraes, Robson Moura, Romildo Alves e Ricardo Aparecido
Reprodução
Armamento pesado
Conforme os confrontos aconteciam, as equipes apreendiam mais armas, munições e outros itens. Todo o conteúdo encontrado foi enviado, ao fim da operação, para a Polícia Civil de Mato Grosso, que seguiu com as investigações sobre grupo. Isso porque tudo começou na cidade de Confresa.
Confira o tipo e quantidade de armamento apreendido durante a Operação Canguçu:
Materiais de apoio logístico – veículos, embarcações, motor de embarcações.
Diversos materiais de proteção individual – capacetes e coletes balísticos, joelheiras;
2 pistolas, sendo uma PT 940 .40 e uma PT G2C 9mm;
18 fuzis dos modelos .50 e 11 AK-47;
Munições usadas em armamento de uso restrito foram apreendidas durante operação Canguçu
Divulgação/Polícia Civil
“Todo arsenal empregado por esses criminosos em Confresa foram periciados e pelo menos duas armas de fogo foram identificadas pela perícia como também utilizadas nos mega assaltos na cidade de Araçatuba, interior de São Paulo, e Guarapuava, no Paraná”, explicou o delegado da Polícia Civil de Mato Grosso.
Soluções para sobreviver
Enquanto estavam cercados, os criminosos utilizaram várias manobras para tentar despistar as equipes policiais. No dia 3 de maio, um dos suspeitos mortos foi encontrado com sacos de fibras sintéticas enrolados aos pés.
Criminoso usava sacos de fibras sintéticas para tentar despistar a polícia
Reprodução/Redes Sociais
Na região do certo, os policiais também encontraram sapatos velhos que teriam sido usados por eles e deixados pelo caminho.
Outro desafio era a questão da alimentação. Durante a operação, porções de espigas de milho coletados em plantações da região de Pium, nas proximidades do povoado Café da Roça, indicavam que eles passaram pelos locais rastreados. Eles também teriam usado sal com ureia, que serve para suplementação na alimentação de bovinos.
Criminosos estariam se alimentando de espigas de milho, diz PM
Divulgação
Ao fim da força-tarefa, uma solenidade recepcionou as equipes policiais no quartel do Comando Geral da PM, em Palmas. O comboio com viaturas retornou a capital no dia 18 de maio e integrantes da corporação receberam medalhas pela atuação.
Policiais chegaram ao QCG nesta quinta-feira (18), fim da Operação Canguçu
Arthur Girão/g1 Tocantins
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