Há exatamente 1 ano, um temporal deixou diferentes pontos da Região Metropolitana do Rio debaixo d’água. Moradores da Baixada improvisam bote com caixa d’água para escapar de enchente no ano passado
Reprodução/TV Globo
Há exatamente um ano, um forte temporal atingiu a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Em algumas cidades, choveu em 2 dias o esperado para todo o mês de janeiro. Pelo menos 12 pessoas morreram, e milhares de famílias tiveram que deixar suas casas.
Nesta segunda-feira (13), o RJ1 revisitou áreas atingidas pela chuva e pelas enchentes e mostrou o que foi (e o que deveria ter sido) feito para resguardá-las de novas intempéries.
Rio de Janeiro (capital)
Moradores de áreas de chuvas que causaram estragos e mortes há um ano no Rio ainda esperam soluções definitivas
Um dos rios que invadiram ruas e casas foi o Acari, que nasce na Zona Oeste e corta 7 bairros da Zona Norte — região que mais sofre com os alagamentos.
O projeto da prefeitura de construir bolsões para evitar enchentes nunca saiu do papel. Os moradores só viram limpeza, que foi não suficiente para trazer segurança. Uma nova esperança surgiu há 5 meses, com o anúncio de R$ 350 milhões do Novo PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento.
Washigton Rodrigo, presidente da Associação de Moradores de Acari, afirma que nada foi feito. “Já houve cadastro das casas na margem do rio. Estamos aguardando confiantes, acreditando em dias melhores”, declarou.
A aposentada Ivone Silva Santos também espera as obras. “A gente não pode comprar móveis para dentro de casa. Comprar para perder? Com tanto sacrifício que as pessoas lutam para conquistar, para pagar prestações e perder? Não tem como.”
O temporal do ano passado teve quase o mesmo volume de outro, há 10 anos. Mas as consequências foram mais graves dessa vez. O engenheiro Antonio Krishnamurti, da Coppe/UFRJ, aponta que o rio está “completamente sedimentado de lixo e vegetação”.
“Então, há uma falta de manutenção clara. O rio está cada vez mais estrangulado, perdendo seus espaços de espraiamento. Políticas de urbanização de impermeabilização também complicam essa situação. A chuva tem cada vez mais dificuldade de infiltrar e chega mais rápido nesse local”, detalhou.
É a mesma situação de outro rio da Zona Norte, o Pavuna, que também transbordou no ano passado. A enchente invadiu as casas e arrastou carros, e moradores se salvaram com a água no pescoço.
O RJ1 ouviu o prefeito Eduardo Paes (PSD) sobre as promessas para a região.
“Nós vamos priorizar essas regiões: bacias do Rio Acari, Jardim Maravilha, Realengo. O que a gente espera com o recurso que conseguimos do PAC é que daqui a 3 ou 4 verões é ter uma situação muito melhor e mais confortável.”
Baixada Fluminense
Baixada Fluminense ainda espera obras pra solucionar problemas das enchentes
O sistema de comportas e bombas que deveria segurar a enxurrada do ano passado faz parte do Projeto Iguaçu, que começou a ser planejado no fim da década de 90.
As obras começaram nos anos 2000, com dinheiro do governo federal, mas ficaram pelo caminho. Investigações dos tribunais de Contas mostraram irregularidades no uso dos recursos, e as estruturas que ficaram prontas não tiveram a manutenção adequada ao longo dos anos.
Das 5 bombas de Belford Roxo, apenas 2 funcionaram na enchente do ano passado. O vice-governador Thiago Pampolha, que estava no cargo de secretário de Meio Ambiente do estado, prometeu resolver esse problema.
“É fundamental que a gente tenha a recuperação de todo o sistema de bombas”, disse, dias depois da inundação de 2024. “Posso me comprometer que ainda em fevereiro essas obras e toda reforma, toda a manutenção do sistema de bombas, serão iniciadas.”
Semana passada, o RJ1 voltou ao local das bombas: 4 estavam funcionando. Mas só mantê-las ligadas não é suficiente para evitar os alagamentos.
Matheus Martins, professor da Escola Politécnica da UFRJ, diz que é preciso planejar o solo urbano de maneira integrada. “Os principais rios precisam ter manutenção, as grandes obras também. As comportas, quando têm bombas, precisam funcionar devidamente. E a microdrenagem para coletar água das ruas pelos canais até os reservatórios e a Baía de Guanabara.”
No meio do ano passado, o governo do estado anunciou a retomada do Projeto Iguaçu, com verbas do Novo PAC: R$ 160 milhões para obras de drenagem e para recuperar trechos dos principais rios que cortam a Baixada — Botas, Iguaçu e Sarapuí.
O RJ1 encontrou homens trabalhando nas margens do Rio Botas.
São Gonçalo
São Gonçalo está entre as cidades que vão receber verba do PAC
O município recebeu valores do PAC para drenagem da região. No entanto, o trabalho nem sequer começou por lá.
A prefeitura informou que as obras de drenagem em Neves, no valor de R$ 155.938.104,71, já tiveram contrato firmado junto ao governo federal no final de 2024. “Neste momento, está em fase de tramitação interna junto à Caixa Econômica Federal, para aprovação dos projetos e orçamentos. O prazo para encerramento desta etapa é agosto deste ano. A partir daí, o recurso poderá ser efetivamente disponibilizado, para realização de licitação e início das obras.”
O que diz o estado
O RJ1 marcou uma entrevista com o governador Cláudio Castro, mas ele ainda não tinha chegado até a última atualização desta reportagem.
Em nota, o governo do estado diz que, desde 2021, investiu mais de R$ 1,6 bilhão em projetos para prevenir danos causados por eventos climáticos. Somente na Baixada, 23 obras de drenagem estão em andamento.
O governo acrescentou que destinou R$ 1 bilhão para a Defesa Civil executar ações de prevenção a desastres.