15 de janeiro de 2025

Muro de 576 metros que restringe acesso à praia no Pontal de Maracaípe é reconstruído horas após início da demolição


Quarenta metros tinham sido derrubados pela CPRH na terça (14). De acordo com proprietário, derrubada havia sido suspensa por decisão do Tribunal Regional Federal. Muro que dificulta acesso à praia no Pontal de Maracaípe é reconstruído horas após início de demolição
Horas depois de ser parcialmente demolido pelo governo de Pernambuco, foi reconstruído o muro de troncos de coqueiro erguido por um empresário que é proprietário de um terreno na praia de Pontal de Maracaípe, em Ipojuca, no Litoral Sul.
Nesta quarta-feira (15), o Globocop sobrevoou ao local e constatou que a estrutura continua no local e que não havia funcionários da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), que é responsável pela demolição. Havia somente uma retroescavadeira parada no terreno.
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A derrubada começou na terça-feira (14). À noite, foi feita a reconstrução. Ainda não se sabe, oficialmente, quem reergueu a estrutura.
O muro tem aproximadamente 576 metros de extensão e é feito com troncos de coqueiro firmados no chão com sacos de ráfia com areia. A construção foi autorizada pela própria CPRH, em 2022.
Em maio de 2024, numa audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), o órgão ambiental voltou atrás e determinou a retirada do muro, com a justificativa de que ele atrapalhava o acesso à praia e que a construção não cumpria regras acordadas.
Em outubro, o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) determinou que o muro fosse derrubado. De acordo com o proprietário do terreno, João Vita Fragoso, a construção foi feita para proteger uma área de preservação ambiental da erosão.
Na terça, ele disse que a demolição de 40 metros do muro aconteceu sem apresentação de mandado, sem oficial de Justiça e sem ordem judicial. Afirmou, ainda, que o caso foi remetido à Justiça Federal e que o Tribunal Regional Federal da 5º Região (TRF-5) concluiu que a demolição imediata do muro seria desproporcional e irreversível, e pediu uma perícia.
O g1 entrou em contato com a CPRH sobre a alegação de que a derrubada do muro foi feita a despeito de decisão federal, e com o TRF-5, para saber do processo ao qual o dono do terreno se refere, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Demolição
Muro que dificultava acesso à praia, no Pontal de Maracaípe, sendo derrubado
CPRH/Divulgação
O muro foi erguido em maio de 2023, e se tornou alvo de disputa entre a Família Fragoso, comerciantes e o governo estadual. Comerciantes, moradores e turistas denunciaram que a estrutura dificultava o acesso à praia, mas a construção do muro havia sido autorizada pela própria CPRH com o argumento de preservação ambiental do local.
Em maio de 2024, a CPRH ordenou a derrubada do muro em até 30 dias. Porém, às vésperas do fim do prazo dado pelo órgão, a família Fragoso, proprietária do terreno, conseguiu na Justiça uma liminar proibindo o governo de adotar qualquer medida para remover a estrutura.
A decisão foi derrubada em outubro, mas só agora a CPRH decidiu demolir a estrutura. No dia em que começou a derrubar o muro, a agência disse que “não existe qualquer decisão judicial, norma legal ou razão técnica que ampare a permanência da estrutura”.
Afirmou, também, que o muro causou “danos à vegetação de restinga, está impedindo a desova de tartarugas, restringindo o acesso da população à praia, causando desequilíbrio na disposição de sedimentos na área e agravando o risco de erosão costeira no seu entorno”.
Relembre o impasse
Muro com troncos de coqueiro no Pontal de Maracaípe em imagem de arquivo
Reprodução/TV Globo
O muro foi erguido pelo empresário João Vita Fragoso de Medeiros, proprietário do terreno.
Segundo ele, a estrutura de contenção tinha 250 metros de extensão e foi construída com troncos de coqueiro firmados no chão com sacos de ráfia com areia.
O muro fica no Pontal de Maracaípe, onde as águas do Rio Maracaípe se encontram com o Oceano Atlântico, no município de Ipojuca, vizinho a Porto de Galinhas, no Litoral Sul do estado.
No local, a família Fragoso tem a propriedade de um terreno de mais de dez hectares, desde 1970.
Em entrevistas anteriores ao g1, João Fragoso afirmou que, há anos, o Pontal de Maracaípe sofria “invasões” de pessoas que cortavam o mangue para fazer festas e que muito lixo e restos de alimento eram jogados no local.
Ainda de acordo com ele, a estrutura foi construída “para preservação de sua propriedade e do meio ambiente, sem avançar na área de uso comum do povo, ou seja, de quando cessam as águas até a vegetação existente no local”.
No entanto, durante a construção, comerciantes que trabalham no local vendendo alimentos e bebidas denunciaram que a instalação do muro limitava o acesso à praia, principalmente quando a maré sobe e a faixa de areia é reduzida, e que duas barracas pegaram fogo em circunstâncias que, segundo eles, são de origem criminosa.
Em maio deste ano, após uma audiência pública, a CPRH voltou atrás na autorização para a construção e determinou que os proprietários derrubassem o muro.
Porém, no dia 6 de junho, a juíza Nahiane Ramalho de Mattos, do TJPE, proibiu a demolição, afirmando que a CPRH não deixou claro como os donos do terreno haviam descumprido a autorização.
Ainda em junho de 2024, o g1 mostrou que um relatório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apontava que o muro estava provocando erosão costeira e que tinha 576 metros, mais que o dobro do tamanho autorizado pela CPRH.
Ainda segundo o Ibama, os sacos de ráfia utilizados estrutura são feitos de material plástico pouco resistente a pisoteio e à radiação solar, e estão desfazendo em detritos e poluindo a área de praia.
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