23 de setembro de 2024

Investigação de empresas de ônibus ligadas ao crime organizado revela mecanismo de lavagem de dinheiro

Promotores dizem que a ocultação de patrimônio é prática recorrente de integrantes do PCC. Investigação de empresas de ônibus ligadas ao crime organizado revela mecanismo de lavagem de dinheiro
A investigação do envolvimento de empresas de ônibus de São Paulo com uma facção criminosa revelou um mecanismo complexo de lavagem de dinheiro.
Um modelo esportivo que custa quase R$ 4 milhões faz parte de uma frota de luxo que estava à venda em duas lojas da Zona Leste de São Paulo. A polícia recolheu os 31 veículos porque suspeita que eram usados para lavar dinheiro do crime organizado. Foi a segunda grande apreensão em oito meses, como explica o delegado Marcos Casseb.
“No mês de julho, apreendemos 52 veículos de luxo aqui no Bairro. Prosseguimos com as investigações que acabaram culminando com a apreensão de mais 31 veículos de luxo”, afirma o delegado.
Na terça-feira (9), o Ministério Público de São Paulo fez uma operação para apurar o envolvimento do PCC em duas empresas de ônibus. Os promotores descobriram que a facção também compra e vende carros para esconder a origem do dinheiro ilícito.
A investigação mostrou que um veículo usado foi adquirido em agosto de 2020 por R$ 640 mil. Cinco meses antes, o mesmo carro – então zero quilômetro – foi comprado por cerca de R$ 556 mil. Essa “valorização” de R$ 84 mil de um bem usado – considerada inexplicável pelos promotores – evidencia que a negociação era para lavar dinheiro.
O Ministério Público diz que, em outro caso, as revendedoras simulavam a venda de um carro de luxo para um integrante da quadrilha só para fazer o dinheiro circular. Mas o documento nunca era transferido, e o veículo permanecia em nome da agência.
O PCC também investe em imóveis caros, segundo os investigadores. Um dos acusados de chefiar a organização criminosa – e que está foragido – morava em um prédio, o residencial mais alto de São Paulo, com apartamentos avaliados em até R$ 6 milhões. A poucos metros de lá, outros quatro acusados vivem em apartamentos de alto padrão, de R$ 4,5 milhões.
Dirigentes de empresas de ônibus em São Paulo são presos acusados de lavar dinheiro para o tráfico de drogas
A investigação mostrou ainda que imóveis declarados por R$ 800 mil valem R$ 10 milhões no mercado. Os promotores dizem que a ocultação de patrimônio é uma prática recorrente de integrantes do PCC, que não escolhem carros, apartamentos, barcos e joias só por vaidade. Quanto mais caro o patrimônio adquirido, maior a margem para lavar dinheiro do tráfico de drogas e de outros crimes.
A superintendente da Receita Federal em São Paulo, Márcia Meng, diz que para operar um esquema tão sofisticado, a facção recorre a profissionais qualificados.
“Eles contaram com toda a competência acadêmica de alguns profissionais contábeis que elaboraram para esse grupo esse intrincado conjunto de empresas e de pessoas com a finalidade de disfarçar as propriedades e dar para nós a ideia de como realmente as coisas aconteciam”, explica.
LEIA TAMBÉM
PM faz operação em garagens e terminais para garantir circulação de ônibus das empresas suspeitas de envolvimento com PCC
Promotor diz que outras empresas de ônibus de SP são investigadas e podem precisar de intervenção da prefeitura
PCC já atua como máfia e está infiltrado no estado de SP por meio de empresas de lixo, ônibus e organizações sociais de saúde, diz MP
Entenda como funcionava esquema entre empresas de ônibus suspeitas de envolvimento com PCC em São Paulo

Mais Notícias