Otávio Kaxixó, de 30 anos, fez um discurso enaltecendo seu povo ao receber o diploma na Faculdade de Medicina da UFMG. Otávio Kaxixó, primeiro indígena do seu povo formado em Medicina, na UFMG
“É nosso”, gritou Otávio Kaxixó ao ser chamado para receber o diploma da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na noite desta sexta-feira (17). Vestido com um cocar na cabeça e segurando um maracá, ele foi até o microfone e iniciou seu discurso.
“Aos que não me conhecem, sou indígena do povo Kaxixó, pertencente à aldeia Capão do Zezinho, localizada na região Centro-Oeste mineira”, disse.
A menção ao seu povo e a localização precisa é uma demonstração de representatividade e resistência. Nascido em uma aldeia às margens do Rio Pará, no município de Martinho Campos, onde vivem cerca de 90 kaxixós, Otávio, de 30 anos, é o primeiro indígena do seu povo a se formar em medicina.
O agora médico Kaxixó faz questão de falar sobre os desafios que venceu para alcançar o título. Um dos maiores foi conseguir recursos financeiros para se manter em Belo Horizonte por seis anos para cursar a faculdade.
Otávio Kaxixó, de 30 anos, foi o primeiro da etnia a se formar em Medicina.
Acervo Pessoal
“Poder estar aqui é uma eterna resistência. Existem fatores que vão colocando a gente para entender como ‘este lugar não é seu’. Mas quando eu começo a ver isso, eu entendo que é muito no sentido de recursos: para comprar um livro, um xerox, um lanche na faculdade e o transporte”, disse ele.
Foi graças ao auxílio financeiro do Programa de Transferência de Renda (PTR), gerido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), destinado aos atingidos pelo rompimento da Barragem de Córrego do Feijão, em Brumadinho, que ele conseguiu se formar.
Otávio recebeu o canudo das mãos da doutora em Antropologia pela UFMG, líder indígena e deputada federal, Célia Xakriabá (Psol). Ele também é cineasta e dirigiu os filmes documentários O Sagrado da Terra e TRANSpassado – Corpos
Durante a formatura, o indígena se reafirmou como representante de um povo marcado por lutas, resistência e resiliência. Ele também defendeu a educação como uma grande arma contra as barreiras impostas aos direitos indígenas.
“A educação superior é um direito de todos. As cotas e as vagas suplementares são mais que uma política de inclusão, são uma ferramenta de reparação e promoção de igualdade”
Otávio Kaxixó se formou em Medicina pela UFMG
Acervo Pessoal
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Otávio Kaxixó, primeiro indígena do seu povo formado em Medicina, na UFMG