23 de setembro de 2024

Milton Leite e Jilmar Tatto serão ouvidos como testemunhas em investigação sobre empresas de ônibus usadas pelo PCC em SP

Inquérito faz parte da Operação ‘Fim da Linha’, deflagrada na terça (9) contra as empresas Transwolff e UPBus, suspeitas de serem usadas em na lavagem de dinheiro da facção criminosa. Presidente da Câmara de SP e deputado federal têm ligações com um dos investigados, dono da Transwolff, antiga Cooper Pam. O presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Milton Leite (União Brasil), e o deputado federal Jilmar Tatto (PT)
Montagem/g1/Divulgação/Rede Câmara
O presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Milton Leite (União Brasil), e o deputado federal Jilmar Tatto (PT) – ex-secretário de Transportes da capital – foram indicados pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) como testemunhas na ação judicial que trata das investigações sobre empresas de ônibus suspeitas de lavar dinheiro criminoso na capital paulista.
A investigação faz parte da Operação ‘Fim da Linha’, deflagrada na terça-feira (9), contra as empresas Transwolff e a UPBus, que são apontadas como pertencentes a um esquema ilícito do Primeiro Comanda da Capital (PCC).
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Juntas, as duas empresas receberam da Prefeitura de São Paulo mais de R$ 800 milhões pela prestação de serviço em linhas de ônibus nas Zonas Sul e Leste da cidade.
Segundo o processo, o vereador Milton Leite tem relações estreitas com Luiz Carlos Efigênio Pacheco, dono da Transwolff preso pela operação do MP-SP. Ele foi preso na terça (9) pelo Gaeco.
Conhecido como “Pandora”, Pacheco enfrentou processo na Justiça em 2006, acusado de ter ajudado no resgate de um preso ligado ao PCC em São Paulo.
Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, presidente da Transwolff preso pela operação ‘Fim da Linha’.
Reprodução/TV Globo
No mesmo ano, uma construtora do vereador do União Brasil foi contratada para construir a garagem da Cooper Pam, cooperativa de perueiros então presidida por Pandora, na Zona Sul da cidade — no mesmo endereço onde hoje está sediada hoje a empresa Transwolff.
A Cooper Pam foi extinta em 2015, mas fez no passado campanhas políticas em favor da eleição de Milton Leite e candidatos da família Tatto.
Por meio de nota, Leite afirmou que “não recebe nada oficialmente, mas está sempre à disposição da Justiça e do Ministério Público.”
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Jilmar Tatto (PT)
Em 2015, o deputado federal Jilmar Tatto foi secretário de Transportes da gestão Fernando Haddad (PT). Ele já tinha ocupado o mesmo cargo durante a gestão da então prefeito Marta Suplicy.
Também serão chamados para depor funcionários da Transwolff, um consultor em licitações e o atual diretor de Engenharia, Obras e Meio Ambiente da Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos (CPTM), Marcelo José Brandão Machado.
Machado integrou a secretaria Municipal de Transportes de São Paulo como presidente da Comissão Especial de Licitação, em 2015, durante a gestão Jilmar Tatto.
O deputado Jilmar Tatto também disse que ainda não foi notificado e, assim que for, se colocará a disposição para responder os questionamentos.
Investigação da Controladoria
Microônibus da empresa UPBus, que opera na Zona Leste de São Paulo e foi alvo de operação do Ministério Público de São Paulo.
Divulgação/UPBus
A Prefeitura de São Paulo investiga desde 2022 ao menos uma das empresas de ônibus da cidade alvo do Ministério Público de SP (MP-SP).
Segundo a Controladoria Geral do Município (CGM), a UPBus era alvo de apuração interna no órgão junto com a Transunião, justamente por possível utilização dessas empresas de transporte público para lavar dinheiro para organizações criminosas.
O órgão não informou, contudo, o que conseguiu apurar nesse período de diligências nas duas empresas e o motivo de ainda não ter tomado nenhuma iniciativa contra as duas viações.
“As sindicâncias estão em fase de instrução, dentro dos prazos estabelecidos pela legislação vigente. O teor das apurações é sigiloso”, declarou a CGM ao g1 (veja íntegra da nota abaixo).
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A CGM afirmou, contudo, que, após a Operação ‘Fim da Linha’, realizada pelo MP-SP, está em contato com os promotores para o compartilhamento de informações inclusive, sobre a Transwolff, incluída na ação do Grupo de Atuação Especial ao Crime Organiza (Gaeco).
“A CGM ressalta que faz parte da equipe de intervenção decretada pelo Prefeito Ricardo Nunes nas empresas ‘Transwolff e UPBus’ com a indicação de Auditores Municipais de Controle Interno que irão auxiliar nos trabalhos que serão desenvolvidos pela SPTrans”, declarou o órgão.
Intervenção da SPTrans
Por causa das investigações do Gaeco, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) determinou a intervenção na Transwolff e na UPBus e, desde terça (9) dois interventores da SPTrans estão gerindo as duas viações, para não haver interrupção na prestação do serviço à população.
Juntas, Transwolff e UPBus transportam mais de 15 milhões de passageiros por mês e receberam no ano passado da Prefeitura de SP mais de R$ 800 milhões pela prestação dos serviços de ônibus nas Zonas Sul e Leste da cidade.
A empresa Transunião não foi incluída na operação da terça (9), mas o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Gaeco, disse ao g1 que outras empresas de ônibus da cidade são investigadas pela Polícia Civil e pelo MP e também podem precisar de intervenção da prefeitura.
A Transunião é justamente uma dessas empresas, segundo o apurado pela reportagem. Em 2022, a empresa já tinha sido alvo de operação do DEIC por suspeita de envolvimento com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Na mesma época, a UPBus tinha sido alvo de operação do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), por suspeita de ligação dos dirigentes da empresa com o tráfico de drogas.
O promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo, coordenador da operação ‘Ponto Final’.
Reprodução/TV Globo
Gakiya é responsável no Gaeco pela operação ‘Ponto Final’, que prendeu quatro pessoas dirigentes de empresas concessionárias de ônibus da capital paulista, após denúncias de elo com o facção Primeiro Comandado da Capital (PCC).
Por decisão judicial, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) nomeou dois servidores de carreira da SPTrans como interventores nas duas empresas para manter as linhas de ônibus funcionando .
Porém, Lincoln Gakiya afirma que a gestão municipal já precisam pensar em romper os contratos e realizar uma nova licitação nos lotes operados por elas na cidade.
Operação mira empresas de ônibus de SP acusadas de lavagem de dinheiro do PCC
“Se não houver solução e haver realmente uma contaminação na empresa é preciso romper o contrato e colocar uma empresa lícita naquele setor, através de uma nova licitação. Não tem que esperar. A decisão judicial era para a intervenção. A Prefeitura de SP podia ter dois caminhos: um era se opor à intervenção e recorrer. Ela poderia ter optado por apoiar a medida ou contestar a medida”, disse.
“O prefeito deixou bem claro que já baixou os dois decretos e vai apoiar a medida [de intervenção. Então, a partir desses dois modelos, é possível que prefeitura possa instaurar procedimentos contra as demais se houver compartilhamento [com esquemas ilícitos]”, declarou ao g1.
Financiamento de políticos
Dirigentes de empresas de ônibus em São Paulo são presos suspeitos de lavar dinheiro para o tráfico de drogas
Em entrevista à GloboNews, Lincoln Gakiya também disse que o Gaeco investiga o financiamento do PCC a campanhas políticas no estado de SP, para aumentar o poder de influência do grupo criminoso.
“A operação continua. Eu acho que existe, sim, essa suspeita, inclusive do crime organizado financiar algumas campanhas eleitorais, e quando eu falo financiar, eu falo sobretudo realmente nos municípios né? Às vezes as pessoas se preocupam muito com a campanha, por exemplo, no Congresso Nacional, mas ali o crime, mesmo que conseguir eleger, um deputado, um senador, seria uma pessoa só. Mas onde eles conseguem os seus negócios, conseguem a liberação de hotéis, empreendimentos e de outros comércios, é no município”, declarou (veja vídeo abaixo).
“Não é incomum, de nós verificarmos realmente, financiamento a campanha de prefeitos, financiamento a campanha de vereadores, a investigação prosseguirá, sim, porque há outras empresas nesse ramo de negócio, que estão sendo investigadas, inclusive pela Polícia Civil aqui de SP, com o acompanhamento aqui do MP e do GAECO, que eu estou coordenando essa força tarefa, então a gente vai prosseguir e se chegarmos não só nessas questões de políticos envolvidos, ou mesmo de servidores públicos que pudessem ter de alguma maneira, participado pra que essas empresas tenham ganho essas licitações, também a gente vai partir pra punição desses servidores e políticos”, afirmou.
“Existe suspeita do crime organizado financiar algumas campanhas eleitorais em municípios de SP”, diz promotor
Transwolff e UPBus
As empresas Transwolff e UPBus, alvos nesta terça-feira (9), de operação do Ministério Público de SP.
Acervo Pessoa/Divulgação
Dirigentes da Transwolff e UPBus são suspeitos de ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Na operação desta segunda (9) dois dirigentes e um representante da Transwolff foram presos. Um dirigente da UPBus está foragido.
Com 13 linhas e 138 veículos operando na cidade, a UPBus recebeu R$ 81 milhões da SPTrans em 2023, contra R$748 milhões da Tanswolff, que opera 100 linhas na Zona Sul de SP e tem mais de 1.100 veículos circulando na capital paulista, de acordo com os promotores.
Na avaliação do MP, o crime organizado tomou grandes proporções no país. A operação teve como objetivo estrangular a ação do PCC dentro da gestão pública, e provocar prejuízo financeiro da facção.
“O que nos preocupa é que a organização está tomando tamanho de máfia, se infiltrando no estado, participando de licitações de estado. Isso é característico de máfias, como a gente já viu na Itália. (…) E essa operação está atuando na asfixia financeira desse grupo”, aponta o promotor Lincoln Gakiya.
Números de atuação da Transwolff e da UPBus na cidade de Sâo Paulo.
Reprodução/TV Globo
Foram presos na operação:
Luiz Carlos Efigênio Pacheco, conhecido como “Pandora”, dono da Transwolff. Ele foi preso dentro de casa.
Robson Flares Lopes Pontes, dirigente da Transwolff. Ele foi preso na garagem da Transwolff.
Joelson Santos da Silva, sócio e representante legal de um escritório contabilidade que, segundo o MP, dava suporte ao esquema da Transwolff. Não foi informado onde ele foi achado.
Elio Rodrigues dos Santos. Não era dirigente de nenhuma empresa e não era alvo da operação, mas foi preso em flagrante por porte ilegal de arma em um dos endereços onde foram feitas buscas.
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Está foragido:
Silvio Luis Ferreira, o “Cebola”, sócio da UPBus.
Ao todo, foram cumpridos 52 mandados de busca e apreensão na operação. As ações ocorreram na capital, Grande São Paulo e em cidades do interior paulista.
No imóvel de um de Luiz Carlos Efigênio Pacheco, dono da Transwolff, foram encontrados diversos fuzis, revólveres, além de dinheiro e joias.
ÍNTEGRA DA NOTA DA CONTROLADORIA
“A Prefeitura de São Paulo, por meio da Controladoria Geral do Município, esclarece que instaurou, em 2022, sindicâncias para apurações internas sobre possível utilização das empresas de transporte público “UPBus e Transunião” para lavar dinheiro para organização criminosa. As sindicâncias estão em fase de instrução, dentro dos prazos estabelecidos pela legislação vigente. O teor das apurações é sigiloso.
Sobre a Operação Fim da Linha realizada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, nesta terça-feira (09/04), que incluiu a empresa Transwolff, a CGM está em contato com as autoridades e aguarda o compartilhamento de informações pelo MPSP. A CGM ressalta que faz parte da equipe de intervenção decretada pelo Prefeito Ricardo Nunes nas empresas “Transwolff e UPBus” com a indicação de Auditores Municipais de Controle Interno que irão auxiliar nos trabalhos que serão desenvolvidos pela SPTrans.
A SPTrans informa que cumpre integralmente as decisões judiciais que determinaram a intervenção nas duas concessionárias.”

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