Produção do Terra da Gente em parceria com a BluestOne mostra o trabalho que permitiu à ave voltar para casa depois de 40 anos desaparecida da natureza Mutum-de-alagoas perdeu espaço na Mata Atlântica por causa do avanço das áreas de cana-de-açúcar
REPRODUÇÃO TERRA DA GENTE/EPTV
A soltura de três casais de mutuns-de-alagoas (Pauxi mitu) em uma área de preservação da Usina Utinga, na zona rural de Rio Largo-AL, marca um recomeço. Após quatro décadas considerada extinta, a espécie voltou para a natureza após um incessante trabalho de reprodução em cativeiro, que envolveu um empresário visionário e outras pessoas apaixonadas pela biodiversidade.
A história de luta pela preservação da ave foi tema de um documentário exibido no programa Terra da Gente, da EPTV, que foi produzido em parceria com a BluestOne, empresa de gerenciamento de resíduos com sede em Saltinho-SP e que participa de vários projetos ambientais no Brasil.
O diretor de Sustentabilidade & ESG da empresa, Alexandre Resende, conhecia a saga do mutum-de-alagoas pela sobrevivência. Ele trabalhou, de 2006 a 2013, como Responsável Técnico pelo Criadouro Científico Poços de Caldas-MG, o maior do Brasil.
“Pelo fato de já ter atuado diretamente em contato com a ave, a gente viu a possibilidade de fazer esse material em parceria com a EPTV e dar voz às pessoas que realmente fizeram a diferença na conservação do mutum de-alagoas”.
A espécie foi descrita pela primeira vez por Georg Marcgraf, um naturalista alemão que foi trazido ao Brasil por Maurício de Nassau, conde enviado a Recife-PE em meados do século XVII para administrar a região, que havia sido invadida pelos holandeses. Marcgraf chegou a fazer uma xilogravura do mutum.
Desde então, a espécie não foi mais vista por pesquisadores durante mais de três séculos. Até que, em 1951, Olivério Pinto, curador de aves do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), coletou uma fêmea em Alagoas.
Em meados de 1970, a ave começou a desaparecer, por causa do avanço do plantio de cana-de-açúcar sobre áreas da Mata Atlântica onde ela vivia. O Brasil havia implementado o Proálcool, programa nacional para incentivar a produção de álcool combustível, por causa de uma crise internacional que aumentou muito o preço do barril de petróleo.
Pedro Nardelli teria conseguido resgatar, em uma delegacia, o primeiro exemplar da ave levado para o Rio de Janeiro
REPRODUÇÃO TERRA DA GENTE/EPTV
Em busca do mutum
A partir da década de 1980, o mutum-de-alagoas sumiria de vez da natureza. O destino só não seria mais cruel por causa de um empresário de Nova Iguaçu-RJ que havia tomado uma atitude pouco tempo antes. Amante das aves, Pedro Nardelli tinha construído um grande aviário em Nilópolis.
“Um dia, alguém disse que ele ainda não tinha o mutum-de-alagoas. Ele disse: ‘então, vou atrás’”, afirma Pedro Nardelli Filho.
Em Alagoas, Pedro Nardelli encontrou o primeiro exemplar da espécie em uma delegacia. Tinha sido levado pela polícia junto com um detento. O rapaz foi liberado, mas o mutum ficou. O empresário conseguiu levá-lo para o Rio de Janeiro, junto com outros quatro ou cinco, capturados com a ajuda de José Nogueira, que ele conheceu em Alagoas e virou amigo, e Fernando Pinto, pesquisador e hoje presidente do Instituto de Preservação da Mata Atlântica (IPMA).
Nardelli escreveu um livro sobre o mutum-de-alagoas e viu nascer alguns filhotes no aviário. Mas, por causa de problemas financeiros, precisou se desfazer das aves em 1999. Parte foi levada para Poços de Caldas e outra parte para uma ONG de Contagem-MG, na região metropolitana de Belo Horizonte, o CRAX, onde o amigo Roberto Azeredo assumiu a tarefa de continuar o trabalho.
Azeredo criou um método de reprodução, em que um macho copulava com sete fêmeas, que possibilitou aumentar o número de filhotes de até dois por ano para 67. A técnica permitiu acelerar a reintrodução da espécie na natureza. O local escolhido para a soltura foi uma reserva dentro da Usina Utinga, lugar onde também foi criado o Zooparque Pedro Nardelli, administrado pelo IPMA, e plantada uma árvore em homenagem ao empresário ambientalista, que não chegou a ver os mutuns pisarem novamente em casa. Faleceu um mês antes e teve as cinzas colocadas ao pé da árvore.
Entre os legados deixados por Nardelli, a equipe responsável pelo documentário encontrou um rolo de filme, com registros das primeiras aves que chegaram a Nilópolis. Imagens que reiteram uma frase dita uma vez pelo próprio Nardelli.
“Nós, felizmente, evitamos a extinção de uma espécie. Eu acho que, para um ser humano que gosta, não existe prêmio maior”.
Primeiras aves nascidas no projeto de conservação voltaram para a natureza, em área da Usina Utinga
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