20 de janeiro de 2025

‘Quase’ narração em final de Copa, microfone com vassoura e carinho: conheça memórias de infância e início da carreira de Léo Batista


Jornalista, apresentador e locutor morreu neste domingo (19). Ele foi um dos maiores nomes do jornalismo esportivo brasileiro. Cordeirópolis decreta luto de 3 dias após morte de Léo Batista
Generoso, admirado e carinhoso. Com esses adjetivos, Léo Batista é lembrado desde a infância em Cordeirópolis (SP), onde nasceu, e até a agora, por colegas profissão de Piracicaba (SP), com quem compartilhou situações inusitadas.
Um dos maiores nomes da história do jornalismo esportivo brasileiro, o apresentador e locutor morreu neste domingo (19), aos 92 anos. Léo estava internado em hospital do Rio de Janeiro (RJ) e tinha sido diagnosticado com um tumor no pâncreas.
🎙️O jornalista atuou em Piracicaba nos primeiros anos da trajetória profissional, antes de seguir para o Rio de Janeiro. Por uma rádio da cidade do Nhô Quim, como é conhecido o XV de Piracicaba, time de futebol da cidade, Léo Batista foi chamado para narrar o jogo final da Copa de 1950, em que o Brasil perdeu para o Uruguai.
Cyriaco Hespanhol, de 89 anos, conta que é um amigo de longa data do ‘Batistin’, como era chamado Léo Batista entre a garotada durante a infância em Cordeirópolis (SP).
“Toda vez que vinha a Cordeirópolis, se ele não me encontrasse em minha casa, deixava um bilhete carinhoso, afável e amigo”, contou com carinho. Ele tinha um gosto enorme pela profissão. Ele era muito admirado. Mas, para nós aqui, Cordeiropolenses, não se trata do Léo Batista. Para nós, é ‘Batistin’, que é o apelido que nós tínhamos quando jogávamos bola”, disse o amigo de infância.
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Léo Batista
TV GLOBO / Cristiana Isidoro
João Baptista Belinaso Neto, como era o nome de batismo de Léo Batista, nasceu em 22 de julho de 1932. Ele iniciou a carreira na década de 40 após ser aprovado em um concurso para locutor do serviço de alto-falante da cidade. “Serviços de alto-falantes América, transmitindo da Praça João Pessoa!”, lembra o amigo de infância.
Brincadeira séria
Ainda adolescente, a voz marcante deu asas para a imaginação. O sobrinho do locutor, José Vitor Luke, lembra de um costume curioso, com a simulação de um microfone, que já era um prenúncio da trajetória de sucesso do tio no jornalismo esportivo no futuro.
“Ele ia fazer a entrega de pão e, na volta, quando encontrava o pessoal jogando bola, pegava um cabo de vassoura e colocava uma latinha de massa de tomate e ficava narrando o jogo na margem do campo”, lembra o familiar.
Foto rara mostra Leo Batista no Estádio Roberto Gomes Pedrosa, o antigo Estádio do XV de Piracicaba
Reprodução/EPTV/Arquivo Difusora
Dos altos faltantes da praça central de Cordeirópolis, que a voz de Léo Batista começou a ser reconhecida.
O talento era tanto que ainda jovem, Léo Batista foi convidado para trabalhar em uma rádio em Birigui (SP).
Amigo de infância de Léo Batista, Cyriaco Hespanhol, relembra memórias e bilhetes recebidos por Léo Batista
Wesley Justino/EPTV
Anos 50
Nos anos 50, foi contratado pela Rádio Difusora em Piracicaba (SP). Uma foto rara mostra Léo Batista no Estádio Roberto Gomes Pedrosa, o antigo Estádio do XV de Piracicaba.
“O Leo Batista era conhecidíssimo em Piracicaba. Todo mundo falava dele e o nome na cidade era Belinaso Neto. A Rádio Difusora tinha uma audiência grande e era a única em Piracicaba. Transmitindo o jogo do XV, com uma voz marcante, e aquele jeitão dele, foi conquistando o público”, lembra o locutor Ulysses Michin.
De Piracicaba para Copa do Mundo
Em 16 de julho de 1950, Léo Batista precisava transmitir o final da Copa do Mundo, em que o Brasil perdeu para o Uruguai. Na época dos locutores chegava dos estádios para as emissoras por meio de linhas de telefone fixo. Um problema na distribuição dos fios deixou o locutor sem poder narrar a partida.
Nos arquivos revisitados pela equipe da EPTV, afiliada da Globo para Piracicaba e região, uma gravação registra Léo Batista relembrar a oportunidade de narrar o jogo da Copa de 50.
“Vim transmitir o jogo pela Rádio Difusora de Piracicaba. Enrolaram lá na hora de distribuir os fios. Eu assisti ao jogo e não consegui transmitir porque não conseguia achar a minha linha”, contou.
Do rádio para TV
Em 1955, trocou o rádio pela televisão quando foi contratado pela TV Rio. Em 1963, no Estádio do Maracanã, ajudou uma equipe de rádio com quem tinha trabalhado em Piracicaba.
“Nós estávamos colocados atrás das cabines principais do Maracanã. Com a chuva, molhou todo o meu equipamento. Então, fui procurar o senhor Léo Batista. Ele me ajudou. Pediu para um técnico instalar o meu equipamento para poder narrar o jogo. Nossa, ele atendeu com uma grande educação, alegre e perguntando ‘como está a minha Piracicaba, o meu XV’”, relembrou Ulysses.
Léo Batista na apresentação do ‘Jornal Hoje’
TV Glovo/Acervo
Luto oficial
A Prefeitura de Cordeirópolis (SP) decretou luto oficial de três dias, neste domingo (19), pela morte do jornalista, apresentador e locutor Léo Batista.
“Cordeiropolense e apaixonado pelo rádio, o jornalista começou sua trajetória na cidade. Do improviso num canto de sua casa, para o sistema de alto-falante de Cordeirópolis, no coreto da Praça Comendador Jamil Abrahão Saad – antes chamada João Pessoa. Depois, Léo desbravou o Brasil e tornou-se um ícone da televisão e da narração”, afirma a administração municipal em trecho de nota enviada à imprensa.
“[…] Por onde passou durante sua trajetória, fez questão de levar o nome de Cordeirópolis com orgulho de um filho. A Prefeitura de Cordeirópolis, por meio da prefeita Cristina Saad e do vice-prefeito Anderson Hespanhol Pique, lamenta a morte do Léo Batista e decreta luto oficial de três dias”, acrescenta.
Léo Batista
TV Globo/Acervo
Estudos em Campinas
Filho de imigrantes italianos, Léo Batista deixou o colégio interno aos 14 anos para ajudar a família. Mudou-se para Campinas (SP) para completar os estudos e trabalhou como garçom e faz-tudo na pensão do pai antes de se dedicar ao rádio.
Voz marcante
Dono de uma “voz marcante”, como ficou conhecido, ele estava internado desde 6 de janeiro no Hospital Rios D’Or, na Freguesia, Zona Oeste do Rio. Ele foi diagnosticado com um tumor no pâncreas.
Em mais de 70 anos de carreira, Léo Batista deu voz a notícias como a morte de Getúlio Vargas e participou de quase todos os telejornais da TV Globo, onde trabalhou por 55 anos – até pouco antes de ser internado.
Morre, aos 92 anos, o jornalista e apresentador Leo Batista
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