23 de setembro de 2024

Nunes parabeniza serviço prestado por empresa de ônibus alvo de investigação do MP por suspeita de ligação com PCC

Prefeito de São Paulo e funcionários da SPTrans visitaram na quarta-feira (10)) garagem da UPBus, que opera na Zona Leste, para fiscalizar funcionamento da empresa. Ricardo Nunes visita garagem da UPBus
Reprodução/Redes Sociais
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), parabenizou a UPBus, que opera na Zona Leste, pelo serviço prestado à população durante visita na noite da quarta-feira (10). A empresa de ônibus é alvo de investigação pelo Ministério Público (MP) por suspeita de ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Nunes foi à garagem da UPBus acompanhado de uma equipe da SPTrans para avaliar a estrutura e o funcionamento da empresa. A visita e a avaliação foram compartilhadas nos stories do Instagram do gestor municipal. “Queria aproveitar aqui e parabenizar, porque quando a gente tem uma concessionária que presta um serviço, que atende o passageiro”, afirmou o prefeito.
“A prefeitura nunca deu dinheiro para qualquer atividade ilegal. A gente remunerou as empresas que participaram de uma licitação em 2019. Ganharam a licitação, estão operando e fazem transporte de passageiros. E é isso que a prefeitura paga: os ônibus, os funcionários que vocês estão vendo aí para atender a população”, afirmou Nunes.
E completou: “Agora, se existe alguém nessa empresa ou qualquer outra empresa ou qualquer fornecedor da Prefeitura de São Paulo que tenha alguma investigação, que tenha alguma coisa fora da questão contratual, não é compatível a prefeitura fazer essa análise. Isso é questão de Polícia Civil, de Ministério Público. O que nos compete como prefeitura é manter o atendimento à população, manter a qualidade do serviço, remunerar por aquilo que nós contratamos. Então, se nós contratamos ônibus para transportar as pessoas, a gente tem que remunerar”.
Na avaliação do presidente da SPTrans, Levi dos Santos Oliveira, que fazia parte do grupo, a UPBus está funcionando com “índices operacionais bastante satisfatórios”. No vídeo, compartilhado nas redes sociais, ele ainda relata que “toda a frota operacional está na rua, RH em ordem, manutenção em ordem. Poucos carros na manutenção”.
A superintendente de Recursos Humanos da SPTrans, Laura Lopes Maia, chegou a elogiar os procedimentos da empresa. “Eles estão cumprindo a parte da legislação fiscal, tributos. As férias [são] antecipadas, eles têm uma programação que eles fazem com 30 dias de antecedência e fazem o pagamento até antes do que a legislação determina.”
MP faz operação para prender dirigentes de empresas de ônibus de SP
Investigação do MP
Nesta terça-feira (9), a Operação Fim da Linha, do Ministério Público, prendeu dirigentes das empresas de ônibus Transwolff e UPBus, que operam na capital paulista, por suspeita de envolvimento com o PCC.
A Justiça de São Paulo determinou que a SPTrans, estatal de transporte coletivo da capital, assuma imediatamente a operação das linhas administradas pelas empresas Transwolff, que atua na Zona Sul, e da UPBus, que opera na Zona Leste. Juntas, as duas companhias transportam cerca de 15 milhões de passageiros por mês.
Nunes nomeou dois servidores de carreira da SPTrans como interventores nas duas empresas, a fim de garantir a continuidade na prestação do serviço de transporte público nessas duas regiões e não prejudicar os passageiros.
Entretanto, o promotor Lincoln Gakiya, responsável pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), afirma que a gestão municipal já precisa pensar em romper os contratos e realizar uma nova licitação nos lotes operados por elas na cidade.
“Se não houver solução e haver realmente uma contaminação na empresa, é preciso romper o contrato e colocar uma empresa lícita naquele setor, através de uma nova licitação. Não tem que esperar. A decisão judicial era para a intervenção. A Prefeitura de SP podia ter dois caminhos: um era se opor à intervenção e recorrer. Ela poderia ter optado por apoiar a medida ou contestar a medida”, disse.
Empresas usadas para lavar dinheiro do tráfico
Durante quase cinco anos de investigação, os promotores do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) reuniram indícios de que as empresas eram usadas pela facção criminosa para lavar dinheiro do tráfico de drogas e de outros crimes.
A suspeita de que o crime organizado estava infiltrado no transporte público de São Paulo vem desde os anos 1990, quando parte do sistema era operado por perueiros clandestinos, que faziam o trajeto entre os bairros mais afastados e os terminais de ônibus.
Armamento encontrado na casa de dirigente de empresa de ônibus de SP, alvo de operação do MP
Divulgação/MP
Em 2003, a prefeitura da capital transferiu a operação das linhas para a iniciativa privada. Parte do sistema ficou com as grandes empresas de ônibus, e os itinerários mais curtos passaram a ser feitos por cooperativas. A maior delas era a Cooperpam, com sede na Zona Sul.
Ao longo dos anos, segundo o MP, os dirigentes dessa cooperativa montaram uma empresa e passaram a pressionar e até ameaçar os cooperados para que transferissem o controle da cooperativa para essa outra companhia, chamada de TW ou Transwolff.
Além disso, segundo os promotores, os diretores se apropriavam de parte da remuneração dos cooperados.
Dez anos depois, em 2013, quando o primeiro contrato de permissão da Prefeitura de SP chegou ao fim para todas as empresas, a Transwolff conseguiu assinar um contrato emergencial, que foi prorrogado durante anos, devido a um impasse no processo de concessão.
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