Município tem a segunda maior migração universitária de indígenas do estado. Atividade mineradora, que impactou na ocupação indígena na região, é a base da economia local. Conheça cidade que foi povoada por indígenas e se tornou polo minerador e industria
Se o Brasil é terra indígena, Goiás não poderia ser diferente. Antes dos bandeirantes chegarem no centro do país em busca de ouro, povos originários da etnia Caiapós, Guaiás, Avá-Canoeiros e Panará habitaram o território onde atualmente está Catalão. A cidade do sudeste do estado se tornou um importante polo minerador e industrial, e hoje é uma das mais buscadas por indígenas para cursar a universidade.
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De acordo com Haroldo Resende, chefe substituto da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em Goiânia, esses grupos ocuparam a região com a prática da agricultura, da caça e mantendo relações com o território. No entanto, a chegada dos bandeirantes no século XVIII trouxe conflitos e migrações desses povos.
“A influência de expedições como a de Bartolomeu Bueno da Silva marcou profundamente o território, promovendo a integração forçada de populações indígenas por meio de aldeamentos e a imposição de novas ordens sociais e culturais”, relatou o indigenista.
Indígenas da etnia Caiapó
Reprodução/Repositório do Museu Nacional dos Povos Indígenas
Apesar da ocupação dos exploradores de ouro, Haroldo afirma que alguns povos resistiram em busca de manter sua cultura.
“Os povos indígenas resistiram, adaptaram-se e mantiveram suas identidades, como ilustrado pelos Caiapó, Panará e Xavante, que enfrentaram deslocamentos, perdas territoriais e violência, mas continuaram a reivindicar seus direitos”, afirmou Resende.
Apesar de não haver registros específicos sobre quais etnias habitaram Catalão, por conta do “apagamento histórico” da contribuição desses povos, Haroldo afirmou que documentos mostram que os Caiapó “utilizavam a região para caça, pesca, coleta e práticas agrícolas”.
O chefe da Funai em Goiânia informou que atualmente não há registro de populações indígenas vivendo em Catalão. “Entretanto, observa-se uma presença significativa de estudantes indígenas da Universidade Federal de Catalão (UFCAT) residindo na cidade, especialmente da etnia Xavante”, informou.
Letícia Cunha Franco, professora do curso de medicina da UFCAT, informou que a universidade já recebeu estudantes das etnias Xavante e Xakriabá. Ela disse que o número de alunos indígenas cresceu exponencialmente nos últimos sete anos.
“Em 2018, havia um estudante da etnia Xavante, no curso de enfermagem. Hoje são mais de 30 estudantes em diferentes cursos. Essa é a segunda maior migração universitária em Goiás”, afirmou.
O indigenista Haroldo Resende disse ainda que muitos desses estudantes vão para a cidade com suas famílias, o que faz com que a sociedade, as faculdades e as escolas, se mobilizem para incluir esses grupos.
Indígenas da etnia Caiapó
Reprodução/Repositório do Museu Nacional dos Povos Indígenas
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Economia
As atividades mineradoras que impactaram na ocupação indígena da região foram a base para a economia do município, que se sustenta nos segmentos mínero-metal-mecânico, de acordo a Prefeitura de Catalão.
Dados do Instituto Mauro Borges (IMB) apontam que o município tem a maior reserva mineral de Goiás. Apesar de ter dezenas de minérios diferentes disponíveis na região, somente alguns deles são explorados no território, como a argila, o nióbio e o fosfato.
A Anglo American e Mosaic (antiga Vale Fertilizantes e Fostértil) são as principais mineradoras da região. Além de áreas extratoras de minério, as empresas contam também com plantas industriais no município, diz texto da prefeitura.
Mineração de enxofre na Anglo American, em Catalão, Goiás
Diomício Gomes/O Popular
Na agropecuária, Catalão se destaca na produção de grãos (soja, milho, trigo e arroz, entre outros), além de contar com expressivos rebanhos de aves e bovinos, diz publicação do IMB.
Na indústria, a cidade sedia a uma única empresa autorizada a montar veículos da Mitsubishi no Brasil, que emprega cerca de 3,5 mil pessoas. A John Deere, fabricante de máquinas agrícolas, também tem sede na cidade.
A prefeitura afirma ainda que a indústria de vestuário é representativa no município, com destaque para a produção de moda íntima. O setor conta com mais de 150 micro e pequenas indústrias formais e informais no setor, diz publicação da administração municipal.
A cidade
Cidade de Catalão, no sudeste de Goiás
Reprodução/Prefeitura de Catalão/Redes Sociais
No último Censo, realizado em 2022, Catalão tinha mais de 114 mil habitantes. A projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é que, em 2024, o número tenha superado as 120 mil pessoas. Com um território de 3.826,37 km², o município ocupa a 17ª posição entre os maiores do estado.
A Festa do Rosário é a principal atividade cultural da cidade. Também conhecida como Congadas de Catalão, a celebração tem mais de 140 anos e atrai milhares de turistas para a cidade no mês de outubro.
Durante a festa, 21 grupos, chamados de ternos de congo, saem de seus postos e percorrem as ruas da cidade, ao som de batuques, até a Igreja do Rosário. De acordo com a prefeitura, cerca de 5 mil dançadores participam da celebração, que mistura o catolicismo a religiões de matriz africana.
Festa do Rosário, em Catalão, Goiás
Benedito Braga/O Popular
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