Biólogo Yan Lima, de 28 anos, responsável pelo primeiro registro do percevejo-de-pintas-amarelas no Brasil, explicou o método de defesa do inseto. Percevejo-de-pintas-amarelas (Erthesina fullo)
Yan Lima
O percevejo-de-pintas-amarelas (Erthesina fullo), uma espécie originária da China e considerada uma praga na Ásia, libera um odor desagradável para afastar possíveis predadores. A informação foi confirmada ao g1 pelo biólogo Yan Lima, de 28 anos, responsável pelo primeiro registro do inseto no Brasil.
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A espécie, que se alimenta de diversas plantas e causa desequilíbrios ambientais, tem chamado a atenção de especialistas após ter sido visto 22 vezes na Baixada Santista, no litoral de São Paulo. A maior incidência é em Santos, embora também tenham sido feitos registros em São Vicente e Guarujá.
De acordo com Yan, os percevejos possuem glândulas que, ao serem abertas, produzem um líquido que evapora rapidamente, liberando um cheiro desagradável para afastar possíveis predadores e ‘salvar a própria vida’.
O especialista explicou que este mecanismo de defesa é usado contra qualquer animal que faça o percevejo se sentir ameaçado, desde outros insetos e aracnídeos a mamíferos maiores.
Percevejo-de-pintas-amarelas (Erthesina fullo) ninfa — ou seja, antes de chegar na fase adulta
Yan Lima
Primeiro registro
O biólogo também é fotógrafo de vida selvagem e sempre busca por pequenos animais. Por este motivo, Yan encontrou um percevejo-de-pintas-amarelas no dia 13 de novembro de 2020, enquanto registrava insetos em uma árvore em frente à janela da própria casa, próxima ao Porto de Santos.
Em 19 de fevereiro de 2021, o jovem publicou as imagens no sistema iNaturalist, usado para registro e identificação de animais, e foi surpreendido. O entomologista [profissional que estuda os insetos] Cristiano Schwertner e os pesquisadores Ricardo Brugnera e Jocelia Grazia entraram em contato para alertá-lo sobre a possibilidade daquele ser o primeiro registro da espécie no Brasil.
Especialistas entraram em contato com o biólogo Yan Lima para informá-lo que havia feito o primeiro registro da espécie
Arquivo pessoal
Yan contou que, junto aos especialistas, realizou uma expedição pela cidade de Santos com o objetivo de encontrar o percevejo e confirmar a espécie até então inédita no Brasil. Após o primeiro registro, o biólogo localizou o inseto mais quatro vezes.
“Foi uma experiência incrível. Depois do primeiro contato dos pesquisadores, pesquisei mais sobre essa espécie invasora e vi que na América só tinha um registro nos EUA. Para um biólogo, um registro desse nível é de um peso enorme”, afirmou Yan.
Como é esse percevejo?
O Erthesina fullo é um inseto polífago, ou seja, se alimenta de diversos tipos de plantas. No continente asiático, ele é responsável por danos em algumas culturas agrícolas. Porém, no Brasil, ainda não há dados suficientes para afirmar se a espécie representa uma ameaça para as plantas cultivadas.
Tamanho: Atinge de 1,2 a 1,5 cm de comprimento.
Aparência: Corpo verde ou amarelo com pintas amarelas.
Reprodução: A fêmea deposita entre 50 a 200 ovos por vez.
Ciclo de vida: O ciclo de vida completo dura de 4 a 6 semanas.
Vida adulta: Vive entre 2 a 4 meses, dependendo das condições.
Percevejo-de-pintas-amarelas (Erthesina fullo)
Yan Lima
Preocupação
Embora ainda não tenha causado danos significativos no Brasil, o percevejo é visto com preocupação por pesquisadores. Caso a espécie continue a se expandir, ela pode se tornar invasora, comprometendo o equilíbrio ambiental e trazendo prejuízos econômicos, no país e América do Sul.
“Há risco, caso não haja um monitoramento adequado”, alertou Ricardo Brugnera, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O último registro no sistema iNaturalist foi feito em outubro de 2024, no Parque São Vicente.
O INaturalist é uma plataforma on-line e um aplicativo de ciência cidadã. As pessoas podem registrar em fotos e publicar observações sobre plantas, animais, insetos e outros organismos. A ação contribui para a criação de uma base de dados sobre a biodiversidade global.
Riscos:
Ambiental e econômico: Caso a espécie se espalhe, pode se tornar invasora e causar danos ambientais e econômicos em nível nacional e até na América do Sul.
Hábito alimentar: O inseto é polífago, ou seja, se alimenta de diversos tipos de plantas.
Competição: De acordo com o biólogo Yan, há o risco dos percevejos asiáticos disputarem recursos com os nativos, diminuindo a população dos insetos brasileiros.
Agricultura: O profissional também destacou que, caso a praga chegue nas lavouras brasileiras, pode se tornar um problema para os agricultores. Mas, de acordo com Yan, é cedo para se preocupar já que até o momento o inseto está presente apenas na Baixada Santista.
Como chegou ao Brasil?
A principal hipótese é que o percevejo tido como praga na Ásia tenha chegado ao Brasil pelo Porto de Santos
A Tribuna Jornal e Yan Lima
A hipótese mais provável é que o inseto tenha sido trazido por navios, possivelmente em contêineres. Inclusive, o primeiro registro do percevejo na Baixada Santista aconteceu próximo ao Porto de Santos.
“A conclusão aconteceu devido ao percevejo nunca ter sido registrado na América Latina. Portanto, a chance dele ter chegado em Santos por meio terrestre é vaga. Tanto os percevejos quanto outros animais, podem ser transportados em navios ou outras embarcações por estarem presentes dentro de contêineres”, explicou Yan.
Riscos a humanos?
Apesar de não representar riscos à saúde humana até o momento, especialistas recomendam o monitoramento contínuo e sugerem que qualquer pessoa que aviste o inseto tire fotos e publique no iNaturalist, a fim de aumentar a base de dados sobre a espécie.
O Ministério da Agricultura foi procurado, mas não se manifestou até a última atualização desta reportagem.
G1 em 1 minuto – Santos: Percevejo considerado praga na Ásia é encontrado no Brasil
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