O objeto possui minerais e milhares de moléculas orgânicas, incluindo os componentes químicos do DNA. O asteroide Bennu é uma pilha de pedregulhos e rochas com cerca de 500 metros de largura
NASA/Goddard/University of Arizona
Os “ingredientes” químicos que permitem a vida foram encontrados na poeira granulada de um asteroide chamado Bennu, revela uma pesquisa recém-publicada.
Amostras da rocha espacial, que foram colhidas por uma nave espacial da Nasa e trazidas de volta para a Terra, contêm uma rica variedade de minerais e milhares de compostos orgânicos.
Na composição do asteroide, foram encontrados aminoácidos, que são as moléculas que formam as proteínas, bem como bases nitrogenadas — os componentes fundamentais do DNA.
➡️Isso não significa que já houve vida em Bennu, mas dá força à teoria de que os asteroides entregaram esses ingredientes vitais para a Terra quando colidiram com nosso planeta bilhões de anos atrás.
Cientistas acreditam que esses mesmos compostos também podem ter sido trazidos para outros planetas do Sistema Solar.
“O que aprendemos é incrível”, diz a professora Sara Russell, mineralogista cósmica do Museu de História Natural de Londres.
“O Bennu nos conta sobre nossas próprias origens e nos permite responder a essas perguntas realmente muito grandes sobre onde a vida começou. E quem não quer saber como a vida começou?”, complementa ela.
As descobertas foram detalhadas em dois artigos publicados no periódico acadêmico Nature.
Os grãos do asteroide Bennu contêm uma vasta gama de moléculas orgânicas
NASA/Erika Blumenfeld/Joseph Aebersold
Coletar um pouco do material do asteroide Bennu foi uma das missões mais audaciosas que a Nasa já colocou em prática.
Uma nave espacial chamada Osiris Rex usou um braço robótico para coletar parte da rocha espacial de 500 metros de largura, antes de embalá-la em uma cápsula e devolvê-la à Terra em 2023.
Cerca de 120 gramas de poeira preta foram coletados e compartilhados com cientistas ao redor do mundo. Essa quantidade pode até não parecer muita coisa, mas mostrou-se um verdadeiro tesouro.
“Cada grão nos diz algo novo sobre Bennu”, conta a professora Russell, que faz estudos com essas pequenas partículas.
O equivalente a cerca de uma colher de chá de material do asteroide foi enviado para cientistas no Reino Unido.
Microscópios eletrônicos revelaram os minerais presentes na amostra do asteroide Bennu
Natural History Museum/Tobias Salge
A nova pesquisa mostrou que a rocha espacial está repleta de compostos ricos em nitrogênio e carbono.
Isso inclui 14 dos 20 aminoácidos que a vida na Terra necessita para construir proteínas.
Além disso, foram detectadas todas as quatro moléculas que compõem o DNA — adenina, guanina, citosina e timina.
O estudo também encontrou uma variedade de minerais e sais. Isso indica que o asteroide já teve água.
A amônia, um componente importante para reações bioquímicas, também foi descoberta na amostra.
Alguns desses compostos foram vistos em rochas espaciais que caíram na Terra, mas outros não haviam sido detectados até agora.
“É simplesmente incrível o quão rica é essa amostra. Ela está cheia desses minerais que não vimos antes em meteoritos, numa combinação nunca observada. Tem sido uma coisa muito emocionante de estudar”, admite Russell.
O mais recente estudo com o Bennu acrescenta mais evidências à teoria de que asteroides trouxeram água e material orgânico para a Terra.
“Inicialmente, o Sistema Solar inicial era turbulento e havia milhões de asteroides como Bennu circulando por aí”, contextualiza o pesquisador Ashley King, do Museu de História Natural de Londres.
A ideia é que esses objetos bombardearam o jovem planeta Terra — e a partir disso semearam o globo com ingredientes que nos deram os oceanos e tornaram a vida possível.
Mas a Terra não foi o único local a ser atingido por rochas espaciais. Os asteroides também teriam colidido com outros planetas do Sistema Solar.
“A Terra é única, pois trata-se do lugar onde encontramos vida até agora, mas sabemos que os asteroides entregavam esses ingredientes, como carbono e água, por todo o Sistema Solar”, detalha King.
“E uma das grandes coisas que tentamos entender agora é: se temos as condições certas, por que temos vida aqui na Terra — e será que poderíamos potencialmente encontrar vida em outro lugar de nosso Sistema Solar?”, questiona o pesquisador.
Essa é uma questão-chave que os cientistas tentarão responder.
Para isso, serão necessárias décadas de pesquisa sobre a poeira trazida de Bennu — além dos projetos para explorar a nossa vizinhança cósmica.
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