Corte de juros na Argentina levou o Brasil à primeira posição no ranking mundial de juros reais, segundo cálculo da consultoria MoneYou. Na quarta-feira (29/1), o Copom elevou a Selic de 12,25% para 13,25% ao ano, na primeira alta sob o comando de Gabriel Galípolo.
Lula Marques / Agência Brasil via BBC
O banco central da Argentina reduziu na quinta-feira (30/1) a taxa básica de juros do país vizinho de 32% para 29%, em meio à expectativa de inflação menor.
Com a mudança, o Brasil ultrapassou a Argentina e passou a ocupar a primeira colocação no ranking mundial de juros reais, conforme cálculo do economista Jason Vieira, diretor-geral da consultoria econômica MoneYou.
Confira o ranking:
Brasil é líder mundial em juro real.
MoneYou via BBC
A taxa de juro real é calculada a partir da taxa de juros nominal de um país (aquela definida pela autoridade monetária nacional, como a Selic no caso brasileiro), descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses.
Na quarta-feira (29/1), o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou em 1 ponto percentual a taxa básica de juros da economia brasileira, aumentando a Selic de 12,25% para 13,25% ao ano.
Com isso, o juro real brasileiro passou a 9,18%, superando a Rússia (8,91%) e a Argentina (6,14%), que recuou da primeira à terceira posição do ranking após o mais recente corte de juros.
Copom: entenda os efeitos do ‘choque de juros’ no crédito e na vida do consumidor
A inflação na Argentina fechou o ano de 2024 em alta de 117,8%, patamar ainda elevado, mas que representa um recuo de quase 94 pontos em relação aos 211,4% de 2023. O combate à inflação é uma das principais bandeiras do presidente argentino Javier Milei.
No ranking dos juros nominais, o Brasil ainda ocupa a quarta colocação, atrás da Turquia (45%), Argentina (29%) e Rússia (21%), segundo o levantamento da MoneYou.
Brasil é o 4º em juro nominal.
MoneYou via BBC
Juro nominal vs. juro real
A taxa básica de juros — ou o juro nominal — serve como referência para todas as taxas de juros da economia. No Brasil, ela é definida pelo Copom, comitê composto pelo presidente e diretores do Banco Central.
A Selic é o principal instrumento de política monetária usado pelo Banco Central para controlar a inflação.
Quando a taxa sobe, os juros cobrados em financiamentos, empréstimos e no cartão ficam mais altos e isso desencoraja o consumo — o que, por sua vez, estimula uma queda na inflação.
Por outro lado, se a inflação está baixa e o BC reduz os juros, isso barateia os empréstimos e incentiva o consumo.
Para definir o que fazer com a Selic, o BC avalia as condições da inflação, da atividade econômica, das contas públicas e o cenário externo — sempre com o objetivo de manter a inflação dentro da meta.
No Brasil, o mais recente ciclo de alta começou em 18 de setembro de 2024.
Galípolo não pode dar ‘cavalo de pau’, e alta dos juros já estava ‘praticamente demarcada’, diz Lula
Desde então, a Selic subiu quatro vezes consecutivamente, de 10,5% para 13,25%. O processo de alta deve continuar nos próximos meses, ainda a depender do comportamento da inflação.
“O juro nominal está elevado porque temos todos os indicadores recentes, como dados de emprego e atividade econômica ainda mostrando força, e inflação ainda elevada”, observa Jason Vieira, da MoneYou.
As preocupações dos investidores com a sustentabilidade das contas públicas do governo federal também têm contribuído para manter a expectativa de inflação elevada no país.
Já o juro real é uma medida de retorno dos investimentos, explica Vieira.
“O juro real é um indicador de ganho líquido de investimentos e o quanto isso pode atrair de capital”, afirma o economista.
“Então, se a situação no Brasil começar a aliviar um pouco, o investidor de renda fixa começa a aplicar dinheiro aqui, em detrimento de outros países.”