Novos sabores expandem horizontes das plantações e abrem possibilidades mirando público diferenciado. Enquanto isso, de polo de pesquisa em São Roque vai sair o 1º vinho orgânico brasileiro. O negócio do vinho em São Paulo vive um novo momento graças às bebidas finas. Enquanto os consumidores agora podem experimentar sabores que até pouco tempo atrás eram encontrados apenas nas garrafas vindas do sul do Brasil ou do exterior, o setor se expande com novos investimentos. Tecnologia, conhecimento e cuidado estão fazendo a diferença.
📲 Participe do canal do g1 Sorocaba e Jundiaí no WhatsApp
“Nós temos um novo perfil surgindo. São produtores que vêm de outros segmentos da economia e que já têm o sonho de fazer o seu vinho. A gente observa que eles vêm com muito capital, têm uma ótima infraestrutura de maquinários, equipamentos de alto nível e também recursos humanos”, observa Adriana Verdi, assessora técnica da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), ligada à Secretaria de Agricultura de São Paulo.
Adriana Verdi, assessora técnica da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta)
Reprodução/TV TEM
Com isso, o desenho geográfico da produção de vinho também está mudando, com a produção se expandindo por regiões distantes das mais tradicionais, antes concentradas em São Roque e Jundiaí. Mesmo onde a temperatura é alta, como São José do Rio Preto ou Penápolis. “São regiões quentes, né? E estão provando que é possível sim a produção de bons vinhos. Isso até nos surpreende, porque nós como pesquisadores nem imaginávamos também que isso seria tão possível”, reconhece Adriana.
SAIBA MAIS:
Vinhos SP: série da TV TEM mergulha no universo da produção de vinho do interior paulista
Vinho paulista é o 1º brasileiro: imigrantes sucedem fidalgos e fundam polos de produção
Drones, ‘brix’ e mais: tecnologia revoluciona a indústria enquanto consumo de vinho dispara no Brasil
Mesa ou fino? Tradição do vinho ‘doce’ cede espaço a outros tipos para acompanhar mudança do paladar do consumidor
‘Dupla poda’: técnica criada por engenheiro agrônomo muda a forma de fazer vinho em São Paulo
Ribeirão Branco, na região de Itapetininga, é um desses locais que “entrou no mapa”. O hotel luxuoso no meio de uma fazenda oferece uma experiência diferenciada ao turista, que aprecia a paisagem e pode visitar a plantação, vendo de perto cada cacho de uva.
Hotel em Ribeirão Branco oferece experiência de enoturismo
Reprodução/TV TEM
“Nós vemos as plantas como se fossem um filho nosso que botamos na terra aqui. O cuidado com ela no dia a dia. Estamos no campo verificando se tem alguma coisinha que precisa fazer, se precisa colocar alguma coisinha a mais. É como um filho que você pôs ali e você tem que cuidar com carinho”, compara o engenheiro agrônomo e gerente da fazenda Ezequiel de Paula.
Ezequiel de Paula, engenheiro agrônomo e gerente da fazenda em Ribeirão Branco
Reprodução/TV TEM
A vinícola tem o que há de mais moderno em equipamentos. Máquinas trazidas da Europa processam a uva e a bebida vai para as cinquenta barricas de carvalho compradas diretamente do produtor na França. Os vinhos tinto, branco, rosê e espumantes foram quase todos premiados em concursos internacionais. Todo o processo de produção do vinho é feito no complexo, do plantio da uva ao envase da bebida.
Dez mil garrafas de espumante descansam por 45 dias de cabeça pra baixo
Reprodução/TV TEM
Nas caves, a temperatura é mantida em 16 graus durante o ano todo, o que mantém a qualidade da bebida dentro da garrafa. Dez mil garrafas de vários tipos de espumante feito com uvas plantadas e colhidas na fazenda ficam ali por 45 dias, de cabeça para baixo, de modo que a levedura da fermentação se acumule no gargalo. Isso não vai para a taça de forma nenhuma: é descartado após a garrafa ser congelada a -25ºC e a impureza se acumular em uma pedra de gelo do tamanho do gargalo. Feito isso, é só colocar a rolha e o lacre.
Murilo Albuquerque Regina, engenheiro agrônomo
Reprodução/TV TEM
“O momento de São Paulo é de muito otimismo. Nós temos várias possibilidades de se fazer vinhos diferentes, com tipos de uvas e variedades diferentes, com qualidade excelente, mas para outro perfil. O viticultor paulista está aproveitando muito disso, está se organizando através de ações de marketing e organizações de indicações geográficas. Eu tenho certeza que todo consumidor, paulista e brasileiro, será beneficiado com esse futuro que estamos preparando”, diz o engenheiro agrônomo Murilo Albuquerque Regina.
🍇🌱 Vem aí o vinho orgânico
O setor de pesquisa também se beneficia do bom momento. Uma área de 44 hectares em São Roque é um importante campo para os especialistas que estudam as variedades de uva plantadas em muitas regiões do estado.
Pesquisadores fazem experimentos em área de 44 alqueires em São Roque
Reprodução/TV TEM
Desse grande laboratório para testes e novas descobertas pro plantio pode sair um novo paladar para o vinho paulista: o primeiro vinho orgânico de São Paulo. Só depois dos testes é que os produtores de uva terão segurança para plantar. E as últimas pesquisas estão priorizando as uvas para vinho fino, a nova aposta das vinícolas do interior.
“O que nós estamos olhando agora, para o futuro, é justamente a mudança das cultivares (designação dada a uma determinada forma de uma planta cultivada) e por isso nós retiramos a cobertura plástica deste vinhedo para fazer uma ou duas safras descobertas, e daí entrar com novos materiais, entre eles de uvas finas. Hoje nós temos um material híbrido aqui, que é a IAC Ribas, proveniente de cruzamento de uma syrah e uma seibel, que foi muito bem dentro do sistema agroecológico”, pontua Sebastião Tivelli, engenheiro agrônomo da Secretaria Estadual de Agricultura.
Sebastião Tivelli, engenheiro agrônomo da Secretaria Estadual de Agricultura
Reprodução/TV TEM
🍷💰 Novos negócios
Em São Roque, uma vinícola de 60 anos se transformou em um complexo turístico e explora novos negócios. A história da família é o orgulho de Alex, representante da quarta geração da família Moraes.
Vinícola se transformou em um complexo turístico em São Roque
Reprodução/TV TEM
“Minha menina está cursando enologia, e isso é muito gratificante. Você fica com medo de ser quem vai ‘apagar a luz’, e quando ela encara isso, a gente fala: ‘opa, vamos continuar e ir para frente’”, diz, emocionado. “Tudo o que a gente sofreu lá atrás e viu acontecer, toda a evolução que tivemos, é gratificante”, emenda.
A plantação, com 1.150 pés de uva tempranillo, uma variedade espanhola que se desenvolve ano a ano, ocupa seis hectares. Mas os negócios da vinícola vão além disso. A estrutura instalada permite que a empresa faça vinho para quem não tem barricas ou tanques, nem o maquinário. A uva vai para São Roque e o vinho já pronto retorna dentro da garrafa.
Alex Moraes, dono de vinícola em São Roque
Reprodução/TV TEM
“A gente consegue atrelar o nosso trabalho e a estrutura ao sonho desse cliente que tem um sitio ou fazenda onde produz a uva e aqui a gente tem todo o acompanhamento, onde vai ser feito todo o processo até de envelhecimento e depois o envase e rotulagem. Quando falamos em uma vinícola tudo é muito custoso e caro, e com esse tipo de serviço se tem uma questão mais saudável pelo modo da empresa, enquanto o cliente não precisa ter um investimento tão pesado em maquinário e pessoal”, complementa Alex.
Até um selo com o mapa do Estado foi criado para estampar os rótulos das garrafas de vinho paulista.
“Já temos mais de 200 projetos de vitivinicultura e enoturismo dentro do estado. Isso mostra esse grande potencial e que os produtores estão de fato acreditando que esse investimento vai trazer retorno, vai engrandecer tanto o agronegócio paulista quanto também trazer uma nova opção para o seu cliente”, observa Ariana Sgarioni, presidente da Associação Paulista de Produtores de Uvas, Vinhos e Derivados (Vites Paulista).
“Eu vejo que essas vinícolas estão olhando para isso, estão enxergando essa mudança e estão sim se atualizando, buscando atender também esse cliente com vinhos, com outras variedades de uva, com vinhos elaborados, maturados em barricas de carvalho, vinhos premiados. Então, a gente está vendo sim essa mudança, inclusive nesses polos tradicionais”, finaliza.
Garrafas de vinho produzidas em São Paulo ganharam selo com o desenho do mapa do estado
Reprodução/TV TEM
🎥🍷 Vinhos SP
Reportagem e apresentação: Thiago Ariosi
Produção: Carla de Campos
Imagens: Fernando Bellon e Witter Veloso
Edição de mídia audiovisual e finalização: Sergio Camargo
Edição de texto: Mateus Soares
Edição de texto web: Eric Mantuan
Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí
VINHOS SP: assista aos episódios da série da TV TEM