Estatística criminal mostra que a Polícia Civil da metrópole registrou 370 ocorrências de violência contra mulheres, adolescentes e crianças, maior número da série histórica iniciada em 2001. Mulher conta sobre estupro sofrido por parente dela em Campinas
Reprodução EPTV
Em um ano marcado pelo recorde de boletins de ocorrência de estupro, Campinas (SP) encerrou 2024 com queda no número de assassinatos e roubos, segundo estatística criminal divulgada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), nesta sexta-feira (31).
📲 Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp
Com os dados de dezembro, a metrópole contabilizou 370 denúncias de violência sexual ao longo de 2024, o maior número da série histórica iniciada em 2001.
O volume representa crescimento de 10,1% em relação ao ano anterior, quando foram formalizadas 336 ocorrências.
Dos 370 casos registrados no último ano, 267 (72,1%) envolveram estupro de vulnerável – quando o crime de abuso sexual acontece com crianças a adolescentes menores de 14 anos.
A advogada Thais Cremasco, cofundadora do movimento Mulheres pela Justiça, destaca que o estupro de vulnerável “é um crime mais difícil de esconder”, uma vez que muitas vezes é identificado na escola, enquanto ainda há muitas mulheres que deixam de denunciar, em parte por não entenderem que foram vítimas da violência.
Retaliação
Segundo Cremasco, em um momento de avanço na conquista de direito pelas mulheres, a violência sexual aparece como uma “retaliação” da sociedade, um comportamento descrito pela escritora estadunidense Susan Faludi em seu livro Backlash: The Undeclared War Against American Women (Retaliação: A Guerra não-declarada contra as mulheres americanas).
“O aumento da violência sexual, do estupro, mesmo quando há um sistema se organizando para que as mulheres tenham seus direitos, traz muito essa questão da retaliação. Mas é preciso entender que as mulheres não vão recuar. A sociedade vai aprender a lidar. Legislação, creio que temos, mas a aplicação da lei vai depender da denúncia”, enfatiza.
Ainda de acordo com a advogada, a medida que as vítimas passam a entender que o estupro não é somente quando há penetração, o número de casos deve aumentar exponenciamente.
Ele explica que muitas mulheres, pelo medo, acabam não denunciando a violência, “o que fortalece o discurso do estuprador”.
“Eu vejo que muitas mulheres que, se não tem aquele roteiro de ser pega a força, ter penetração, tem dúvida se é de fato estupro. É importante debater e informar, para não aceitar uma encoxada no transporte, por exemplo. É preciso ter consciência o que o corpo da mulher não é um convite, ele não pode ser acessado sem autorização”, afirma.
Advogada Thaís Cremasco
Rodrigo Zanotto
Cremasco reforça que o estupro trata-se de um crime usado como instrumento de controle social, exercido por uma “masculinidade tóxica”. “Quanto mais conhecimento a sociedade tiver, mais denúncias vai ter”.
A advogada lembra que, em Campinas, há uma organização para apoio às mulheres vítimas de violência, com centro de acolhimento, assistência psicológica, e que devem ser acessados pelas vítimas.
Acolhimento, proteção e denúncia: conheça rede de apoio a mulheres vítimas de violência em Campinas
Diante do aumento de casos, o g1 solicitou à Secretaria de Segurança Pública (SSP) informações sobre quais medidas estão sendo adotadas pela pasta para combate e punição aos criminosos, e se haverá aumento da estrutura de delegacia especializada na metrópole.
A reportagem será atualizada assim que a pasta se posicionar.
Outros crimes
As estatísticas mostram que Campinas registrou 87 assassinatos em 2024, uma queda de 13% em relação ao ano anterior, quando foram contabilizados 100 vítimas de homicídio doloso.
Já em relação aos crimes contra o patrimônio, a cidade teve redução nas principais estatísticas, como roubos de veículo e carga.
Crimes contra o patrimônio em Campinas
Sede do Deinter-2, em Campinas
João Gabriel Alvarenga/g1
VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região
Veja mais notícias sobre a região no g1 Campinas