1 de fevereiro de 2025

Ensino começa a integrar inteligência artificial no Brasil; especialistas veem oportunidade, mas com riscos


Governo federal tem plano com metas para a tecnologia até 2028; ministro diz que esforço de adaptação já está acontecendo. Com a disseminação da inteligência artificial (IA), alunos e professores por todo o Brasil começam a incorporar a tecnologia aos estudos. Especialistas veem o uso da IA como uma grande oportunidade, mas se preocupam com uso em excesso e a falta de regras.
Festival LED 2023 | Como a inteligência artificial está transformando o aprendizado?
Estudante de uma escola pública de Teresina, no Piauí, Anael Victor Marinho considera a chegada do recurso uma revolução – que levou tempo para adaptação, mas com bons resultados. Aos poucos, o jovem de 16 anos começou a incorporar a inteligência artificial à rotina.
“Por exemplo, se tiver um texto, uma redação e eu colocar lá, ele aponta os erros e vai corrigindo. Ele dá exemplos de como eu posso melhorar e vai se adequando ao seu nível. Se você começa baixo, ele vai aumentando de pouco em pouco, e vai botando mais dificuldade para você aprender mais ainda”, completa.
O entusiasmo do Anael é também o de seu professor, David Abreu. Ele lecionava espanhol e agora também dá aulas da disciplina sobre inteligência artificial. Para o professor, é gratificante ver a empolgação dos alunos quando chega para dar aula.
“É tudo muito novo. Então, quando a gente começa a descobrir tudo aquilo ali junto, a gente passa pelo mesmo processo de satisfação, né?”, finaliza.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconheceu o estado do Piauí como o primeiro território do continente americano a implementar o ensino de inteligência artificial na educação básica. A disciplina é obrigatória aos alunos do 9º ano do ensino fundamental e das três séries do ensino médio desde o início de 2024.
Para David, a disciplina chamou os alunos para a sala de aula.
“Uma ótica digitalizada faz com que os alunos vejam um leque de possibilidades na frente dele, no futuro deles daqui para frente. Isso puxa o aluno para a escola e devolve um profissional para o mundo”.
Escolas do interior do Piauí se destacam com aulas de inteligência artificial
Evolução, mas com riscos
Para os especialistas ouvidos pelo g1, a inteligência artificial é um dos passos da evolução educacional, uma tecnologia que pode ser usada para questões como:
oferecer um ensino personalizado;
corrigir problemas crônicos da educação, como a evasão escolar;
auxiliar a gestão das escolas; e
monitorar políticas públicas educacionais.
Eles alertam, no entanto, que é preciso ter responsabilidade, uma boa formação dos professores e ética para o uso.
“O aluno tem que aprender a usar para fazer pesquisa sem perder a sua autoria. Isso precisa ser ensinado e, para isso, os professores têm que ter condições de poderem ter a sua competência digital desenvolvida para poder ensinar”, explica Claudia Costin, presidente do Instituto Salto e ex-diretora global de educação do Banco Mundial.
Na Bahia, estudantes usam inteligência artificial para contar histórias.
TV Bahia
Para Paulo Blikstein, professor na Escola de Educação da Universidade de Stanford e co-fundador do Centro Lemann de Stanford, revoluções na educação são difíceis por se tratar de um sistema grande e complexo, mas, com os professores tendo controle das ferramentas, é possível implementar no dia a dia.
“É claro que ela pode fazer muito pela educação, muito bem e muito mal. Ela pode fazer muito bem se quem tiver no controle dessas ferramentas de Inteligência Artificial serão os professores”, completa.
Já Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, vê o Brasil acompanhando a tendência mundial de experimentar o que está sendo feito e ter certeza de qual o exato caminho que a inteligência artificial pode ajudar.
“Quais as habilidades que a gente tem que endereçar, o que a gente tem que estimular que os nossos alunos têm? É uma habilidade central nesse novo mundo, é a habilidade da criatividade, outra do pensamento crítico, outra do modo de vida colaborativo. A gente precisa vencer isso aqui para que possa, de fato, ter o acesso qualificado inteligência artificial”, explicita Saron.
Governo lançou plano para ações até 2028
Em agosto de 2024, o governo federal lançou o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) 2024-2028 com o objetivo de traçar metas para a implementação e eficiência do uso da inteligência artificial no setor público.
Lula recebeu o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial durante 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em julho de 2024.
Beatriz Borges/g1
São 6 propostas na área de educação:
Sistema Gestão Presente: está parcialmente desenvolvido e já vem sendo utilizado para a viabilização do Programa Pé-de-Meia. Os entes cadastrados, como secretarias estaduais, enviam os dados dos estudantes matriculados e frequência na escola.
Controle da Qualidade das Aquisições de alimentos: a ferramenta, que está em fase de implementação, pretende identificar padrões de compras de alimentos e auxiliar o MEC na avaliação dos produtos oferecidos aos estudantes nas redes de ensino, certificando a conformidade com as diretrizes do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Sistema de Predição e Proteção de Trajetória dos Estudantes: o sistema pretende gerar um diagnóstico para identificar e prever fatores que levam o estudante ao abandono escolar. A pasta ainda está começando a desenhar o protótipo para implementar a ferramenta.
Soluções Adaptativas com IA Generativa de Avaliação Formativa e Diagnóstica para Alfabetização e Letramento e Sistemas de Tutoria Inteligentes de Matemática Desplugado com IA Generativa: o projeto ainda está em elaboração e pretende implementar a inteligência artificial no processo de aprendizado dos alunos brasileiros.
Melhoria da aprendizagem e bem-estar dos estudantes: projeto em elaboração que busca criar um ambiente de inovação contínua em sala de aula.
Segundo o Ministério da Educação, o objetivo das propostas é proporcionar ferramentas que capacitem gestores e professores e aprimorar o processo de ensino e aprendizagem.
Em entrevista ao g1, Camilo Santana, ministro da Educação, disse que as escolas têm que se adaptar às novas tecnologias e que isso já está acontecendo a partir da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) Computação e da adesão ao PBIA.
“A gente precisa ter uma escola em que o aluno se levante de manhã quando acorda e tenha vontade de ir. Precisa ser acolhedora, ter uma boa infraestrutura, precisa ter esporte, precisa ter cultura e precisa estar conectada. A nossa luta é garantir que esse aluno acesso para o bem, para boa formação e para boa aprendizagem”, afirma.

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