3 de fevereiro de 2025

Trump torna alvos de deportação 600 mil venezuelanos que tinham autorização para viver nos EUA


Num duro golpe para os opositores de Maduro, presidente americano revoga programa federal, joga imigrantes no limbo e anuncia que ditador os receberá de volta. Família de imigrantes venezuelanos que vive forma legal, em residência no Texas, nos Estados Unidos, em janeiro de 2024.
Kevin Mohatt/ Reuters
O governo Trump desferiu um golpe severo nos opositores de Nicolás Maduro ao revogar o direito de permanência a 300 mil venezuelanos que vivem nos EUA e foram repentinamente transformados em alvos de deportação.
A decisão do presidente, que na semana passada despachou um enviado especial a Caracas para negociar com o ditador venezuelano, equivale a uma facada nas costas dos exilados, conforme definiu o colunista Andrés Oppenheimer, do “Miami Herald”.
No total, estima-se que cerca 600 mil venezuelanos perderão o Status de Proteção Temporária (TPS na sigla em inglês), já que um outro grupo de 250 mil exilados também teve o benefício cortado, assim que o presidente assumiu o cargo.
“A ordem de deportação de fato de Trump afeta alguns de seus apoiadores mais fervorosos nos Estados Unidos — tanto eleitores quanto detentores do TPS”, atesta Oppenheimer.
Criado na década de 1990, o TPS é um programa federal concedido a pessoas que entraram nos EUA e não conseguem retornar ao seu país devido a condições locais, como guerras, desastres naturais ou crise política.
Operações contra imigrantes se espalham pelo país e já prenderam 4,5 mil nos EUA
Os venezuelanos perfazem o maior grupo entre quase 1 milhão de estrangeiros, de 17 países, que desfrutam do benefício e têm autorização para trabalhar. São imigrantes que procuraram, pela via legal, a autorização para viver no país, amparados pelo estatuto.
Fizeram o certo, mas, de acordo com a determinação do atual governo, em 60 dias estarão no limbo.
A diretora executiva do Caucus Venezuelano-Americano, Adelys Ferro, expressou a decepção com o presidente: “Muitos venezuelanos esperavam que Trump tomasse medidas para libertar nosso país, mas agora parece que ele está fazendo vista grossa.”
Numa transmissão ao vivo pelo Instagram, ela procurou tranquilizar a comunidade e antecipou que a entidade recorrerá da decisão. “Você não está sozinho. São tempos muito difíceis, que exigem união.”
O governo Biden concedeu duas autorizações para venezuelanos, em 2021 e 2023, justificando o colapso econômico do país sob o governo repressivo de Maduro. O TPS tem validade de 18 meses, mas pode ser renovado indefinidamente se a situação do país não melhorar.
Foi o que Biden fez antes de deixar o cargo, para assegurar amparo aos venezuelanos.
Com um chapéu de caubói num programa da emissora NBC, a atual secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, insistiu que os venezuelanos que imigraram para os EUA integram a gangue Tren de Aragua e desfrutam do TPS.
Contudo, o departamento que ela dirige identificou apenas 600 pessoas em conexão com a rede de traficantes.
“Apenas uma pequena fração de venezuelanos está envolvida em atividades criminosas ou ligada a grupos como o Tren de Aragua, mas eles não representam a maioria dos imigrantes”, contrapôs Adelys Ferro, do Caucus Venezuelano-Americano.
Durante a campanha eleitoral, Trump repetiu muitas vezes, sem apresentar evidências, que o governo Maduro abriu as portas de prisões e instituições de saúde mental, permitindo que seus ocupantes migrassem para os EUA.
A visita de Richard Grennel, enviado especial de Trump a Caracas, desnorteou a oposição venezuelana. Ele esteve com Maduro no Palácio de Miraflores e trouxe de volta aos EUA seis prisioneiros americanos, libertados pelo regime. No sábado (1º), o presidente americano anunciou que a Venezuela concordou em aceitar os imigrantes ilegais dos EUA, fornecendo inclusive o transporte.
A viagem do emissário de Trump foi encarada como um reconhecimento do governo americano ao terceiro mandato do ditador, que é contestado pela oposição e por boa parte da comunidade internacional. Mas a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, foi categórica ao negar que os EUA tenham legitimado a Presidência de Maduro.
“Não consigo me lembrar de outro presidente na história recente dos EUA virando as costas tão rapidamente para um eleitorado tão entusiasmado”, resumiu o colunista Oppenheimer em seu artigo.

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