3 de fevereiro de 2025

Torcidas que promoveram atos de violência têm tolerância de clubes e da Federação Pernambucana de Futebol, diz promotor do MPPE


Brigas entre integrantes de organizadas do Santa Cruz e do Sport deixaram 12 feridos no sábado (1º). Ao todo, 13 pessoas tiveram a prisão preventiva decretada por envolvimento na confusão. Torcidas envolvidas em casos de violência frequentam os clubes, diz promotor do MPPE
Após as brigas entre organizadas do Sport e do Santa Cruz registradas no sábado (1º), o coordenador do Núcleo do Torcedor do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), Antônio Arroxelas, disse que a decisão do governo do estado de proibir torcidas nos próximos jogos dos dois times busca combater a “aproximação” entre os clubes e os grupos de torcedores que praticam violência (veja vídeo acima).
Segundo ele, há tolerância às torcidas organizadas por parte dos clubes e da Federação Pernambucana de Futebol (FPF). A proibição de público nos estádios, segundo o promotor, atende a uma recomendação do próprio Ministério Público, e foi criticada pela diretoria do Sport, que anunciou que vai recorrer da determinação à Justiça.
Ao todo, 13 pessoas tiveram a prisão preventiva decretada por envolvimento nos conflitos, segundo a delegada-geral adjunta da Polícia Civil, Beatriz Leite, (saiba mais abaixo). Além disso, ao menos 12 pessoas ficaram feridas.
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“Muitos perguntam e dizem, com razão, que a violência ocorre fora dos estádios, distante dos estádios. Porém, essas mesmas torcidas que estão nas ruas, que se aglomeram da forma assustadora como ocorreu no sábado, são também torcidas que frequentam os ambientes dos clubes. […] Então, há, sim, uma aproximação, há, sim, uma tolerância que, de forma inversa, o Ministério Público chegou ao ponto de não mais tolerar, e não será mais possível tolerar, por parte do Ministério Público, essa aproximação das torcidas perigosas com as atividades sadias, lúdicas, dos clubes”, declarou o promotor.
Segundo o promotor, a medida anunciada pela governadora Raquel Lyra (PSDB), fundamentada na recomendação do MPPE, busca pressionar os clubes e a Federação Pernambucana de Futebol (FPF) a elaborar um “plano eficiente” para coibir a violência praticada por integrantes das organizadas.
“A portaria da governadora, ela, sim, tem poder de polícia, e a portaria tem, sim, a força de determinar. E está em vigor, está valendo. Nossa recomendação foi num sentido muito parecido […], de não público até a apresentação por parte da federação e dos clubes de um plano eficiente no sentido de não participação de torcidas organizadas, não das torcidas de cultura de paz, mas dessas três torcidas envolvidas em crimes”, afirmou Arroxelas.
Ainda de acordo com o promotor, há “dezenas” de torcidas organizadas que não estimulam a violência, nem participam de confrontos, e o objetivo é coibir as atividades dos três maiores grupos ligados aos times do Sport, Náutico e Santa Cruz.
“O grande problema é que as três, a torcida Jovem do Leão, que é a mesma Torcida Jovem; a Explosão Inferno Coral, que é a mesma Inferno Coral; e o Náutico Até Morrer, que é a mesma Fanáutico; — elas mudaram o nome de forma malandra, não tenho medo de dizer isso — têm um número maior de participantes do que as dezenas de torcidas de bem. […] Posso afirmar com muita tranquilidade que são bandidos, são criminosos […] O que nós vimos na televisão é não só um ato de barbárie como de frieza em relação ao ser humano”, declarou o promotor.
Sobre o assunto, o g1 procurou as assessorias de imprensa do Sport, do Santa Cruz, do Náutico e da Federação Pernambucana de Futebol, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Treze presos
Correria e briga de torcedores são registradas antes de jogo entre Santa Cruz e Sport
A delegada-geral adjunta da Polícia Civil, Beatriz Leite, disse que 13 pessoas tiveram a prisão preventiva decretada após os casos de violência extrema ocorridos horas antes do “Clássico das Multidões”.
Entre elas, estão o presidente da organizada do Sport, e um integrante da torcida envolvido no ataque ao ônibus do Fortaleza, que deixou seis jogadores feridos, em fevereiro do ano passado. As prisões preventivas foram decretadas depois que eles passaram por audiência de custódia.
“Nós tivemos 13 autuações em flagrante. Treze pessoas que foram apresentadas em audiência de custódia e tiveram sua prisão em flagrante convertida em preventiva. […] Nós temos o presidente de uma das torcidas organizadas do Sport e também uma outra pessoa que já estava envolvida naquele ataque ao ônibus do Fortaleza. Então, nós vemos que são pessoas que estão, de fato, envolvidas com a criminalidade”, informou a delegada Beatriz Leite.
Segundo a delegada, 32 pessoas foram conduzidas à delegacia do dia da confusão, que deixou, ao menos, 12 feridos. Todos foram levados ao Hospital da Restauração, no bairro do Derby, na área central do Recife. Quatro ficaram internados na unidade.
Entre elas, está um homem que foi espancado, teve as roupas arrancadas e foi violentado sexualmente com uma barra no meio da rua. Vídeos que circularam durante todo o dia nas redes sociais mostravam um cenário de guerra na cidade. A população ficou com medo de sair de casa.
De acordo com Beatriz Leite, os torcedores envolvidos, incluindo os que ficaram feridos durante os confrontos, estão sendo investigados por delitos como associação criminosa, dano ao patrimônio e lesão corporal.
“Eles, além de vítimas, também são agressores. Nós precisamos entender que essas pessoas saíram de suas casas com a intenção de provocar esse tumulto, de gerar os atos de barbárie que nós vimos no último sábado”, afirmou a delegada.
Segundo ela, das 32 pessoas que foram conduzidas à delegacia, 13 tiveram prisão preventiva decretada. Seis foram realizadas no Recife e as outras sete na Região Metropolitana, sendo quatro em Paulista e outras três no Cabo de Santo Agostinho. Com os presos, foram apreendidos materiais como barrotes de madeiras, canos de ferro, arames farpados e outros instrumentos.
“Vamos dar continuidade a todas essas investigações. Os inquéritos que já foram instaurados serão concluídos, e novos [inquéritos] poderão ser instaurados. Pessoas que tiverem aparecido em imagens, sejam de que time for, serão identificadas, qualificadas, indiciadas e apresentadas à Justiça”, declarou.
Um relatório da Polícia Civil, ao qual o g1 teve acesso, mostra que a corporação sabia, antes do clássico, que as torcidas organizadas planejavam entrar em conflito no dia do jogo. Um dos trechos do documento informa que os membros das torcidas estavam confeccionando armas caseiras e marcando “pistas” — como são chamados os pontos para brigas de rua entre os integrantes.
Proibição de torcidas
Como resposta à onda de violência causada pelas brigas entre as torcidas organizadas, o governo de Pernambuco anunciou, na noite do sábado (1º), a proibição da presença de torcedores em cinco jogos do Santa Cruz e do Sport. A medida foi publicada, no mesmo dia, em uma edição extra do Diário Oficial.
O documento determina que as próximas cinco partidas do Santa Cruz e do Sport, organizadas pela Federação Pernambucana de Futebol (FPF) e pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no estado, sejam realizadas com “portões fechados”, sem torcida.
Além disso, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) recomendou que os clubes realizem o cadastramento biométrico de seus torcedores.
Após a medida, o Sport suspendeu a venda de ingressos para o jogo da próxima terça-feira (4), contra o Fortaleza, pela Copa do Nordeste, e anunciou que vai recorrer à Justiça da punição imposta pelo governo de Pernambuco. O clube também criticou a proibição da torcida em cinco partidas por conta dos conflitos.
Torcedores do Santa Cruz e Sport entraram em conflito antes de jogo no Recife
Reprodução/WhatsApp
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