Entre os registros mais marcantes estão o uirapuru-vermelho, bicudo-encarnado e quetzal-pavão. O arquiteto Carlos Alexandre de Souza começou a fotografar aves por conta de um amigo que na época era estudante de biologia
Wellington Batista de Oliveira
Entre projetos urbanísticos e câmeras fotográficas, a natureza sempre esteve presente na vida do arquiteto Carlos Alexandre de Souza, morador de Porto Velho (RO).
Nascido em Santo André (SP), ele cresceu em Angical do Piauí (PI), cercado pelo verde dos sítios e pelos rios que cortam a região. A conexão com o ambiente natural veio cedo, mas foi só na juventude, em uma viagem ao Riachão, uma região de serras e riachos a uns 15 km de Angical, no final da década de 1990, que essa relação se transformou em algo maior.
O fotógrafo de natureza Carlos Alexandre acumula viagens para observação de aves no interior de São Paulo, sul do Amazonas e Pará
Kenny Uéslei
“Foi uma viagem especial, com amigos de infância, quando conheci o Mário, na época estudante de biologia que fotografava aves. Ele tinha como objetivo nessa viagem registrar o tucanuçu. Foi ali o encanto imediato”, relembra.
Curiosamente, nem ele nem Mário seguiram carreiras ligadas à biologia. Carlos se formou em arquitetura e urbanismo, enquanto Mário se tornou psicólogo. No entanto, aquele momento marcou o início da trajetória de Carlos como fotógrafo de natureza.
Registro do galo-da-serra em Presidente Figueiredo (AM) foi um dos mais difíceis para o fotógrafo
Carlos Alexandre de Souza
Entre as diversas espécies que Carlos já fotografou, algumas experiências se destacam. Uma delas foi em Presidente Figueiredo, no Amazonas, onde percorreu trilhas fechadas para tentar capturar o galo-da-serra (Rupicola rupicola), espécie que vive solitária na floresta e que se movimenta pouco na vegetação, tornando difícil sua visualização.
“As condições de luz não eram boas, estava exausto, e a cor laranja intensa da ave tornava a fotografia um desafio. O resultado? Fotos que não ficaram tão boas, mas a experiência foi inesquecível”, conta.
Quetzal-pavão foi registrado em Novo Aripuanã, sul do Amazonas
Carlos Alexandre de Souza
Outros encontros memoráveis aconteceram com o uirapuru-vermelho (Pipra aureola) e com o uirapuru-ferrugíneo (Cyphorhinus modulator), ambos em Porto Velho, e também com o bicudo-encarnado e o quetzal-pavão no sul do Amazonas.
Seus registros não se limitam às aves. Em uma expedição para o oeste de Porto Velho, Carlos se deparou com um parauaçu (Pithecia mittermeieri), primata endêmico do Brasil, encontrado entre os rios Madeira e Tapajós, desde Rondônia até o rio Amazonas.
No oeste de Porto Velho, Carlos registrou um parauaçu (Pithecia mittermeieri), primata endêmico do Brasil
Carlos Alexandre de Souza
Natureza e arquitetura
De acordo com o arquiteto e fotógrafo de aves, sua formação tem uma forte conexão com a observação da natureza. Para ele, o primeiro ponto em comum entre essas áreas é a importância do conhecimento.
“Ao observar as aves, é essencial entender seus hábitos, habitats, as regiões onde vivem e se são migratórias ou não. Na arquitetura e no urbanismo, o princípio é o mesmo: para criar projetos eficientes, é preciso conhecer as necessidades de cada espaço e das pessoas que o utilizam. Nesse caso, o arquiteto assume tanto o papel de guia quanto de observador”.
Registro do uirapuru-vermelho feito pelo fotógrafo Carlos Alexandre foi o primeiro para Rondônia
Carlos Alexandre de Souza
O segundo ponto, segundo Carlos, vai além da técnica e envolve um valor essencial, que é o respeito pela natureza.
“Assim como na arquitetura é fundamental considerar o impacto das construções no meio ambiente e na sociedade, na observação de aves é preciso ter consciência dos limites da natureza. Ou seja, o excesso pode ser prejudicial em qualquer cenário”.
“Na observação de aves, isso se manifesta no uso irresponsável de sons artificiais para atrair espécies, na invasão de áreas protegidas ou na perturbação do habitat natural”, conclui.
Rabo-branco-do-tapajós foi registrado em Novo Progresso (PA)
Carlos Alexandre de Souza
Embora Carlos atue profissionalmente com planejamento estratégico urbano e desenvolvimento sustentável, suas fotografias de aves também têm impacto na arquitetura.
Isso porque alguns de seus colegas utilizam as imagens dele para ilustrar propostas de projetos, trazendo elementos da natureza como inspiração para o design e a integração com o meio ambiente.
Bico-encarnado é encontrado nos estratos médio e superior de florestas úmidas de toda a Amazônia brasileira
Carlos Alexandre de Souza
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