4 de fevereiro de 2025

Controlador-geral de Roraima é suspeito de agredir ex-esposa, ameaçar e vazar conversas íntimas até para pastor da igreja


Justiça concedeu medida protetiva em favor da ex-mulher de Regys Odlare Lima de Freitas, uma estudante de medicina. Em nota, ele afirmou que a decisão foi expedida “com base exclusivamente na palavra da mulher”. Governo não se pronunciou. Regys Odlare Lima de Freitas ocupa o alto escalão do governo de Roraima
Reprodução/CGE/Arquivo
O controlador-geral de Roraima, Regys Odlare Lima de Freitas , é suspeito de agredir, ameaçar e perseguir a ex-esposa, uma estudante de medicina, após o término do casamento. A Justiça concedeu uma medida protetiva e proibiu ele de se aproximar da vítima. O g1 teve acesso à decisão nessa segunda-feira (3).
Regys, que também é advogado, ex-policial civil, e foi reitor Universidade Estadual de Roraima (UERR) durante oito anos, foi casado com a vítima por quatro anos. O ex-casal tem uma filha de 4. Eles estão separados desde 2023, conforme cita a decisão judicial assinada pelo juiz do 2º juizado de violência doméstica, Jaime Plá Pujades de Ávila.
Ao conceder a medida, o juiz levou em consideração relatos da estudante de que o relacionamento com Regys acabou porque ele a xingava de “vagabunda, manipuladora, doente mental, mentirosa, psicopata” e dizia que “você não vai ser ninguém, sem mim (sic)”. Ainda segundo ela, Regys vazou conversas íntimas dela até para o pastor da igreja.
🔍 Regys Odlare ocupa a função de controlador-geral desde 2 de janeiro de 2024. O cargo tem status de secretário de Estado e integra o alto escalão do governo. Ele foi reitor de 2015 a 2023 na UERR.
Em nota, Regys Odlare afirmou que a decisão foi expedida “com base exclusivamente na palavra da mulher, mesmo que sem provas, como é o caso, é uma prerrogativa desta vara especializada”. Disse ainda que apresentou provas à Justiça e que aguarda nova decisão judicial.
Regys afirmou que “que todas as acusações são falsas” e que a postura da ex-mulher em denunciá-lo ocorreu por ser “apenas uma retaliação pelo fim do relacionamento”.
Procurado sobre a conduta do controlador-geral, o governo do estado não se manifestou até a última atualização da reportagem. A Polícia Civil também não respondeu sobre como conduz o caso.
‘Puxões de cabelo e empurrões’
Ainda no relato da vítima que embasou a decisão, ela disse que as agressões aconteceram no período de cinco meses após a separação, quando a ela ainda morava na mesma casa que Regys enquanto esperava a residência ficar pronta.
“Como se não bastasse, em outra ocasião, quando ela afirmou que ia solicitar medidas protetivas, ele proferiu novas ameaças e a agrediu fisicamente com puxões de cabelo e empurrões”, detalha trecho da medida protetiva.
A mulher registrou um boletim de ocorrência contra Regys na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) em dezembro do ano passado, mesmo mês que a medida foi concedida.
Em um dos trechos da decisão, a estudante relatou que uma das maneiras que Regys encontrou para intimidá-la foi vazando conversas intimas dela até para o pastor da igreja que frequenta. Ela disse ainda que não sabe como ele teve acesso às gravações de ligações.
“[…] Após a separação, procurou ajuda espiritual e começou a frequentar a igreja […] sendo que em uma determinada ocasião o seu pastor foi indaga-la, sobre o que estava acontecendo com ela, pois o requerido [Regys] mostrou gravações de ligações telefônicas dela com outra pessoa, onde eles tinham uma conversa mais intima. Narrou, ainda, que até hoje não sabe como o requerido teve acesso as suas conversas, mas, a cada dia fica mais constrangida por ter sua vida exposta”, consta na decisão.
As ameaças, segundo a mulher, incluíam intimidações para que ela não se relacionasse com outra pessoa: “Fica com quem você quiser para ver o que vai acontecer contigo”, destacou outro trecho da decisão.
Em novembro de 2024, quando ela estava na academia, afirmou ter sido perseguida e observada por Regys. A estudante disse ainda que, nos anos em que se relacionou com Regys, ele “sempre foi uma pessoa ciumenta, persuasiva, perseguidora e controladora, que a tratava com inferioridade na relação”.
O Ministério Público se manifestou favoravelmente às medidas, e o juiz deferiu o pedido. Regys foi proibido de se aproximar da vítima e deve manter distância de, no mínimo, 200 metros, de fazer contato com ela, “além de enviar e/ou divulgar qualquer conteúdo ameaçador ou ofensivo à sua integridade moral e psicológica (à honra e à intimidade).” O juiz também determinou busca e apreensão de qualquer arma de fogo na casa do investigado.
O caso foi encaminhado à Patrulha Maria da Penha. O contato com a filho, a partir da decisão, deve ser feito por intermédio de outra pessoa.
“Nada obstante, diante do conteúdo do depoimento prestado pela requerente neste ato, restou demonstrado o imenso incômodo sentido por ela, diante do monitoramento dos seus atos. Assim, corroborado pelas manifestações do Ministério Público, entendo que as medidas protetivas de urgência devem ser deferidas”, destaca o juiz na decisão.
Quem é Regys Odlare
Regys assumiu a controladoria-geral substituindo João Alfredo de Souza Cruz. Regys Freitas é doutor em direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em direito pelo Centro Universitário Curitiba, advogado e ex-policial civil de Roraima.
Ele assumiu o cargo de reitor pela primeira vez em 2015, ainda na gestão da ex-governadora Suely Campos (PP). No ano seguinte, em 2016, ele tomou posse como o primeiro reitor eleito na instituição. Em 2019, foi reeleito ao cargo.
Em 2019, chegou a ser afastado do cargo de reitor pelo governador Antonio Denarium (PP), mas conseguiu na Justiça ordem para voltar à função. Regys, à época, afirmou que Denarium havia se baseado em fake news para decretar seu afastamento e o do seu vice-reitor, Elemar Favreto.
Em 2020, Regys demitiu a professora Ivanise Maria Rizzatti, que foi proibida de participar das bancas de defesa de três pesquisas de conclusão de curso que foram orientadas por ela. Ivanise foi professora efetiva do curso de química por 10 anos, mas foi demitida em 24 setembro.
De acordo com o então reitor, ela foi coordenadora de um projeto financiado pelo Governo Federal em que houve erro em compra de materiais. Ela disse não tinha acesso ao sistema para alterações no plano.
À época, Regys chegou a proibir a entrada e permanência de seis professores concursados na instituição que demonstraram apoio à Ivanise durante um ato dentro da universidade. A Justiça suspendeu a decisão.
O fim da gestão de Regys na UERR foi marcada pela operação Harpia da Polícia Federal e pela eleição do então vice dele como novo reitor da instituição. A investigação ocorreu após a PF ter apreendido R$ 3,2 milhões em dinheiro vivo numa ação que apurava um esquema de pagamento de propina que envolvia a UERR.
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