Durante encontro com Netanyahu, presidente dos EUA delineou planos para o território palestino, incluindo a retirada de habitantes. Fala não foi bem recebida por autoridades de diversos países do mundo. Guga Chacra analisa impacto dos anúncios de Donald Trump sobre a Faixa de Gaza
O mundo está reagindo negativamente à fantasiosa fala do presidente Donald Trump de que os EUA “assumirão” o controle e serão donos da Faixa de Gaza.
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Veja abaixo algumas das reações:
França
“A França reitera sua oposição a qualquer deslocamento forçado da população palestina de Gaza, o que constituiria uma grave violação do direito internacional, um ataque às legítimas aspirações dos palestinos, além de um grande obstáculo à solução de dois Estados e um fator de desestabilização significativo para nossos parceiros próximos, Egito e Jordânia, assim como para toda a região”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Christophe Lemoine, em comunicado.
Brasil
O presidente Lula afirmou que a afirmação de Trump “não faz sentido”. “Quem tem que cuidar de Gaza são os palestinos”, disse Lula em pronunciamento nesta quarta-feira.
Alemanha
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou que a Faixa de Gaza pertence aos palestinos, e sua expulsão seria inaceitável e contrária ao direito internacional.
“Isso também levaria a novos sofrimentos e a um novo ódio. Não pode haver uma solução acima das cabeças dos palestinos”, afirmou Baerbock.
Hamas
“Nosso povo na Faixa de Gaza não permitirá que esses planos se concretizem, e o que é necessário é o fim da ocupação e da agressão (israelense) contra nosso povo, não sua expulsão de sua terra”, afirmou Sami Abu Zuhri, autoridade sênior do grupo terrorista palestino.
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Arábia Saudita
“A Arábia Saudita rejeita qualquer tentativa de deslocar os palestinos de sua terra. O príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, afirmou a posição do reino de maneira ‘clara e explícita’, que não permite qualquer interpretação sob nenhuma circunstância”, disse o Ministério das Relações Exteriores saudita.
Espanha
“Quero ser muito claro sobre isso: Gaza é a terra dos palestinos de Gaza, e eles devem permanecer em Gaza. Gaza faz parte do futuro Estado palestino que a Espanha apoia e deve coexistir garantindo a prosperidade e a segurança do Estado de Israel”, afirmou o ministro das Relações Exteriores espanhol, José Manuel Albares.
Autoridade Palestina
O presidente palestino da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, afirmou que os palestinos não abrirão mão de sua terra, direitos e locais sagrados, e que a Faixa de Gaza é parte integrante do território do Estado da Palestina, juntamente com a Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
Rússia
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a Rússia acredita que um acordo no Oriente Médio só é possível com base na solução de dois Estados. “Essa é a tese consagrada na resolução relevante do Conselho de Segurança da ONU, é a tese compartilhada pela esmagadora maioria dos países envolvidos nessa questão. Partimos desse princípio, apoiamos essa visão e acreditamos que essa é a única opção possível.”
Anistia internacional EUA
“Remover todos os palestinos de Gaza equivale a destruí-los como povo. Gaza é a casa deles. A morte e destruição em Gaza são resultado do governo de Israel matando civis aos milhares, muitas vezes com bombas fornecidas pelos EUA”, afirmou o diretor executivo Paul O’Brien.
Políticos dos EUA
“Os palestinos não vão a lugar nenhum. Este presidente só pode despejar essa baboseira fanática por causa do apoio bipartidário no Congresso ao financiamento do genocídio e da limpeza étnica. Está na hora de meus colegas que defendem a solução de dois Estados se manifestarem”, disse a deputada democrata e palestino-americana Rashida Tlaib.
“Ele perdeu completamente a noção. Uma invasão dos EUA em Gaza levaria ao massacre de milhares de soldados americanos e a décadas de guerra no Oriente Médio. Parece uma piada ruim e doentia”, afirmou o senador democrata Chris Murphy.
EUA vão ‘assumir’ Gaza, diz Trump
Trump e Netanyahu se reúnem na Casa Branca
Elizabeth Frantz/Reuters
O presidente Donald Trump disse na terça-feira (4), ao lado do premiê israelense Benjamin Netanyahu, que os EUA assumirão o controle e serão donos da Faixa de Gaza, acrescentando que “as mesmas pessoas” (palestinos) não deveriam estar encarregadas de reconstruir e ocupar a terra. Ele afirmou que vê os EUA mantendo uma “posição de posse de longo prazo” no território.
“Em vez de [os palestinos] terem que voltar e reconstruí-la, os EUA vão assumir a Faixa de Gaza, e vamos algo com ela. Vamos tomar conta”, disse Trump, afirmando que seu país poderia liderar o processo de reconstrução.
“Ter aquele pedaço de terra, desenvolvê-lo, criar milhares de empregos. Vai ser realmente magnífico”, ele disse.
Trump deu a declaração na Casa Branca, em Washington, ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o primeiro líder estrangeiro a ser recebido durante o segundo mandato do Republicano.
Netanyahu não comentou diretamente o plano de Trump para Gaza. Ele afirmou que os objetivos de Israel no território palestino incluem a libertação dos reféns e fazer com que não haja mais ameaças à integridade do país vindas do local.
A repórteres, Trump afirmou que tem planos de visitar Gaza, Israel e também a Arábia Saudita. Ele não deu nenhuma data para a viagem acontecer.
Mais cedo nesta terça, Trump afirmou que a única alternativa dos palestinos que vivem na Faixa de Gaza seria deixar o território — uma ideia apoiada pela extrema direita israelense, e que constituiria limpeza étnica perante o direito internacional, segundo analistas.
Trump afirmou que gostaria que a Jordânia e o Egito recebesse os palestinos deslocados do território, cuja infraestrutura foi seriamente destruída após 15 meses de guerra entre Israel e Hamas — grupo terrorista que controla a região.
“É um local em escombros. Se pudéssemos encontrar o pedaço certo de terra, ou vários pedaços de terra, e construir alguns lugares realmente bons com bastante dinheiro na região [para os palestinos], aí sim. Acho que seria muito melhor do que voltar para Gaza”, disse ele a repórteres no Salão Oval.
Tanto a Jordânia quanto o Egito já demonstraram repúdio pela ideia, defendendo que os palestinos tenham o direito de permanecer em suas terras.
Trump não ofereceu detalhes específicos sobre como um processo de reassentamento de palestinos poderia ser implementado.
Pouco depois das declarações, a Arábia Saudita publicou um comunicado afirmando que não vai estabelecer laços com Israel até que um Estado Palestino seja criado. O país também rejeitou a proposta de Trump de retirar palestinos de Gaza.
Destruição de Gaza
O conflito entre Israel e Hamas, interrompido em janeiro por um acordo de cessar-fogo, gerou uma crise humanitária no território e deixou mais de 40 mil mortos.
Até o ano passado, os Estados Unidos afirmavam ser contra o deslocamento forçado de palestinos. O então presidente Joe Biden defendia a criação do Estado da Palestina e um acordo para convivência pacífica com Israel.
As falas de Trump levantam preocupações sobre uma saída generalizada de palestinos da Faixa de Gaza, o que poderia resultar no “apagamento” do grupo na região e enfraquecer a proposta para a criação do Estado da Palestina.
Trump conversou com o rei Abdullah da Jordânia neste sábado. Em entrevista a jornalistas, o presidente norte-americano afirmou que sugeriu que o monarca aceite palestinos no país, já que a Faixa de Gaza está uma “bagunça”.
No entanto, o ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, reiterou a rejeição de seu país à proposta.
“Nossa rejeição ao deslocamento dos palestinos é firme e não mudará. A Jordânia é para os jordanianos e a Palestina é para os palestinos”, disse o chanceler.
A proposta de Trump foi elogiada pelo ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, em um comunicado: “A ideia de ajudá-los a encontrar outros lugares para começar uma vida melhor é uma excelente ideia. Após anos de glorificação do terrorismo, (os palestinos) poderão estabelecer vidas novas e boas em outros lugares.”
Smotrich é um dos principais nomes da extrema direita no país, defensor da anexação total dos territórios palestinos por Israel e da criação de novos assentamentos israelenses, considerados ilegais pela ONU e pela maior parte da comunidade internacional.