24 de setembro de 2024

Rota do Cambuci: roteiro gastronômico ressalta fruta em forma de ‘disco voador’ que é símbolo da Mata Atlântica

Roteiro que reúne festivais ao redor do estado de SP foi criado para valorizar o fruto nativo do bioma. Salesópolis, um dos municípios do Alto Tietê, é um dos lugares que recebe eventos da rota. Fruta em forma de ‘disco voador’ tem rota gastronômica pelo estado de São Paulo
Dentre as diversas espécies de frutas nativas da Mata Atlântica, o cambuci se destaca pelo sabor azedo, aroma cítrico e adocicado, mas também pelo seu formato que, para alguns, lembra um disco voador. Matéria-prima para a produção de geleias, cachaças, licores, sucos e sorvetes, o fruto, que chegou perto da extinção, é considerado um dos símbolos de preservação do bioma.
Para Rafael Hussta, produtor de cambuci de Mogi das Cruzes, município da Grande São Paulo, a fruta tem um papel fundamental para a conservação de toda a flora da Mata Atlântica.
“Tenho conhecimento de frutas no geral por sempre gostar e, não desvalorizando frutas estrangeiras, europeias, asiáticas, mas, na nossa região, sempre foi cultivado espécies assim e nunca se deu muito interesse a frutas nativas. Muita gente só conhece jabuticaba, pitanga, mas quando se fala de cambucá, cambuci, grume-chama, o pessoal geralmente desconhece e tem um potencial muito grande”, explica.
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Além de produtor, Rafael também atua como monitor do Parque Estadual da Serra do Mar, região típica da fruta. Por todo o envolvimento com o bioma, ele afirma que a fruta é muito mais que uma fonte de renda para ele.
“Ele [o cambuci] faz parte da minha cultura, faz parte da minha culinária, do meu conhecimento, da minha infância, da minha memória afetiva. Então, é algo realmente muito importante para mim”.
Para alguns, cambuci tem um formato que lembra um ‘disco voador’
Rafael Hussta/TV Diário
No estado de São Paulo, a união do turismo e da gastronomia a partir do fruto deram origem à Rota do Cambuci, uma série de festivais anuais realizados na capital, em cidades da Grande São Paulo, Vale do Paraíba e litoral paulista.
Origem da Rota do Cambuci
O ponto de partida para a criação de um roteiro gastronômico que valorizasse o cambuci surgiu em 2008. Gabriel Menezes, presidente do Instituto Auá, entidade de empreendedorismo socioambiental idealizadora da Rota do Cambuci, conta que a ideia surgiu a partir de um encontro em Natividade da Serra, cidade situada no Vale do Paraíba, com representantes de festivais que já aconteciam na região da Serra do Mar e produtores da fruta, além de parceiros institucionais da reserva da biosfera do Cinturão Verde.
“Em 2009, então, nasceu a ‘Rota Gastronômica do Cambuci’, como um roteiro de festivais gastronômicos municipais da fruta, reunindo os festivais de Paranapiacaba, em Santo André, Rio Grande da Serra, Salesópolis, Paraibuna, Natividade da Serra, Caraguatatuba e Ilhabela, tendo o Instituto Auá na coordenação geral”.
Roteiro da 6ª Edição da Rota Cambuci, realizada em 2014
Instituto Auá/Divulgação
Em 2014, cinco anos depois da criação, a rota já contava com cerca de 15 festivais por ano. Atualmente, mais de 17 eventos fazem parte da agenda do roteiro, incluindo a Ilha do Bororé, no extremo sul da capital paulista, passando por Salesópolis, na Grande São Paulo e por Caraguatatuba, no litoral norte.
“Remodelamos o nome, logotipo e conceito da Rota do Cambuci para uma proposta de identidade territorial, ligada ao desenvolvimento sustentável, especialmente do entorno da Serra do Mar. Neste momento, criamos outras três frentes de atuação: a Rota Turística, a Rede de Pesquisa e o Arranjo Produtivo Sustentável, sendo que este último foi reconhecido em 2020 como APL oficial de São Paulo e o primeiro APL agroecológico da história do estado”.
Importância do fruto
O Campomanesia phaea ou cambuci é um fruto que pertence à família das mirtáceas e o nome da fruta faz alusão à sua aparência, semelhante a um vaso, que em tupi-guarani significa “pote d’água”.
Marília Cristina Duarte, doutora em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente, professora e pesquisadora da Universidade de Mogi das Cruzes, destaca o papel do cambuci na conservação da biodiversidade e também na promoção da agroecologia.
“Devido à urbanização e desmatamento na área, [a espécie] foi incluída na lista de espécies ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) na categoria ‘ameaçada de extinção’. Graças aos esforços de conservação, atualmente a espécie é considerada como menos preocupante (LC) em relação ao risco de extinção, devido à grande importância dada ao fruto”.
Licor de cambuci é um dos produtos comercializadas em uma loja de Salesópolis, na Grande São Paulo
Basílio Magno/TV Diário
A importância da fruta também se manifesta em nome de lugares, como o bairro do Cambuci, um dos mais antigos da capital paulista, e do município de Cambuci, situado no Noroeste do estado do Rio de Janeiro.
“A valorização do cambuci incentiva práticas sustentáveis de uso da terra e conservação dos recursos naturais, uma vez que está sendo cada vez mais produzida de forma sustentável por produtores da região”.
Benefícios à saúde
Segundo Sara Monteiro, nutricionista e professora do Centro Universitário Braz Cubas, o cambuci é fonte de vitaminas, lipídios, antioxidantes, carboidratos, proteínas, fibras e sais minerais. Além disso, a fruta proporciona diversos benefícios à saúde, como fortalecimento do sistema imunológico e também controle do açúcar no sangue, combatendo radicais livres que causam doenças e o envelhecimento precoce.
“Aquele sabor azedinho da fruta, como se fosse um limão, deve-se ao alto teor de vitamina C. Ela pode lembrar uma mistura de jabuticaba com limão. E além do consumo in natura, o cambuci também é muito utilizado na produção de doces, bebidas, geleias, sorvete e em receitas de pratos salgados também”.
Safra do cambuci teve início em fevereiro em 2024
Rafael Hussta/Arquivo Pessoal
Cultivo do cambuci
Diferentemente de anos anteriores, a safra do cambuci neste ano teve início em fevereiro. Para Benedito Roberto de Souza, que também produz e possui uma loja de produtos a base da fruta na cidade de Salesópolis, o clima foi determinante para a colheita com antecedência.
“Muita chuva, sol e a geada não pegou como nos anos anteriores. Tanto é que nós estamos colhendo agora, desde fevereiro já começou a cair cambuci, sendo que o forte mesmo da safra é o mês de maio”, afirma Benedito.
Benedito produtor cambuci Salesópolis
Basílio Magno/TV Diário
O produtor, que possui cerca de 250 cambucizeiros em sua propriedade, demonstra uma boa expectativa com a safra deste ano. Ele conta que espera colher até 2 toneladas a mais em relação ao ano passado.
“Antecipou a colheita, tanto é que a gente já está todo dia vindo aqui para a roça para estar colhendo o cambuci. Pretendo tirar aqui desse sítio no mínimo 3 toneladas”.
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