24 de setembro de 2024

Arborização em Belo Horizonte reflete desigualdade social, aponta pesquisa

Mapeamento de 250 mil árvores em BH mostra diferenças de acesso a áreas verdes entre moradores de classes sociais distintas. Imagem áerea da Praça Carlos Chagas, mais conhecida como Praça da Assembleia, localizada entre os nobres bairros de Lourdes e Santo Agostinho.
Antônio Rodrigues/PBH
Um estudo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) mapeou a distribuição de árvores pelos bairros de Belo Horizonte e identificou uma relação entre arborização e o poder aquisitivo e a faixa etária dos moradores.
A pesquisa analisou mais de 250 mil árvores da cidade e evidenciou que regiões de menor renda possuem menos árvores — confirmando o chamado “efeito do luxo”, um fenômeno global onde áreas mais pobres recebem menos investimentos em áreas verdes.
“Esse termo surgiu em 2013 para descrever um fenômeno em que regiões da cidade que abrigam determinados grupos étnicos ou socioeconômicos, como famílias de baixa renda, tendem a receber menor investimento em arborização e infraestrutura verde. Isso ocorre em vários lugares do mundo, e por diferentes motivos”, explicou João Carlos Pena, pós-doutorando da Unesp e autor do estudo.
O estudo cita que o fenômeno é recorrente em diferentes pontos do mundo, sobretudo em cidades latino-americanas. A ausência de árvores é um reflexo da falta de planejamento urbano e de investimentos em infraestrutura, afetando principalmente os mais pobres.
Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte
Gabi Coelho
Relação com a faixa etária
O estudo constatou também que áreas com maior número de idosos possuem menos áreas verdes, enquanto regiões com mais crianças apresentam espécies com copas menores, características de plantas mais jovens ou de tipos como palmeiras.
“O que observamos é apenas uma correlação entre a distribuição desses dois grupos pela cidade e as condições de arborização urbana, ou seja, não há implicação de causa e efeito. Mas é um dado importante para orientar os gestores a definirem futuras políticas públicas”, completou o pesquisador.
O estudo teve como base os dados do último Censo do IBGE e o inventário de árvores feito pela Prefeitura de Belo Horizonte entre 2012 e 2016. Um levantamento mais atualizado está sendo realizado pela PBH desde então, com previsão para conclusão em 2026.
Árvores e saúde pública
A pesquisa também destaca a importância das árvores para a saúde pública. Um estudo dos mesmos autores mostrou que, em São Paulo, áreas mais arborizadas possuem menores índices de hospitalizações por problemas cardiovasculares, sobretudo entre idosos.
“Boa parte da população ainda não percebe a árvore como um elemento importante para a cidade. Precisamos mudar esse paradigma e passar a entender que a boa gestão das árvores também é um aspecto de saúde pública”, disse o pesquisador.
Para o autor do estudo, é essencial que as pessoas compreendam a importância das árvores em um contexto de mudanças climáticas. Um relatório divulgado pelo Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia mostrou que 2023 foi o ano mais quente já registrado nos últimos 100 mil anos.
“Ao longo das últimas décadas os cientistas vêm mostrando que a cidade é uma das principais responsáveis pela crise climática que vivemos. Acredito que agora estamos tomando consciência de que a cidade não pode ser apenas parte do problema, mas também precisa ser parte da solução”, concluiu João Carlos Pena.
Localizada em uma área nobre, a Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, reúne diferentes espécies de árvores.
Adão de Souza/PBH
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