6 de fevereiro de 2025

De doenças de pele a perdas de produções: os reflexos do calor extremo na região de Piracicaba


Em 2024, a cada três dias, um foi de temperaturas de pelo menos 35ºC na região. Agrometeorologista elenca medidas que podem ser adotadas para mitigar cenário. ARQUIVO: Pedras aparentes durante baixa vazão do Rio Piracicaba, em Piracicaba, em setembro de 2024
Edijan Del Santo/EPTV
Doenças de pele e perda de produtividade agrícola estão entre os reflexos da frequência com a qual a região de Piracicaba (SP) enfrentou calor extremo em 2024. Conforme mostrou o g1, um a cada três dias do ano passado teve temperatura de ao menos 35ºC nas 18 cidades da área de cobertura.
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Os dados são do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres (Cemaden) com dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e também mostram que as máximas por cidade durante o ano variaram entre 37ºC e 40ºC.
“[Para] a população [o reflexo] é o desconforto térmico, a desidratação e, se ficar exposto por muito tempo as altas taxas de radiação solar, aumenta a probabilidade de ocorrências de doenças de pele e até câncer. Ao meio ambiente, o problema é se essas altas temperaturas estiverem associadas aos baixos índices pluviométricos, como foi em 2024, ocasionando perdas de produtividade e até mesmo a morte das plantas”, explica Marco Antonio dos Santos, agrometeorologista da Rural Clima.
Ele afirma que um dos grandes motivos dessas temperaturas em 2024 foi o El Niño.
“[É] um fenômeno climático que ocorre no Oceano Pacífico e que é responsável pelo aumento das temperaturas das águas subsuperficiais do Oceano. E, toda vez que isso acontece, a tendência é de um aumento das temperaturas globais, já que o fato das águas do Pacífico estarem bem quentes gera ondas de calor por todo o globo, principalmente nas regiões tropicais do planeta”, detalha.
Santos elenca maneiras de mitigar esses efeitos adversos do calor extremo:
Aumento das áreas verdes dentro da cidade;
Diminuir as emissões dos gases estufas;
Reciclagem;
Pintar os telhados da cor branca, “pois dessa maneira haverá uma maior reflectância dos raios solares, diminuindo a temperatura média”.
ARQUIVO: Termômetro marca 38ºC em terminal de ônibus de Piracicaba, em 19 de novembro de 2024
Tavares/Guarda Civil Municipal de Piracicaba
Média de 109 dias com calor extremo
A região de Piracicaba teve uma média de 109 dias com calor extremo em 2024.
Os dados mostram que moradores de cinco cidades da região chegaram a quatro meses de calor extremo. A maior quantidade de dias nessas condições foram registrados em Capivari (SP) e Ipeúna (SP), ambas com 132. Veja no gráfico a seguir:

Temperaturas máximas
Já em relação às temperaturas máximas, Piracicaba e São Pedro (SP) chegaram aos 40ºC durante o ano passado.
Por outro lado, a cidade que teve a máxima mais baixa foi Cordeirópolis (SP), com 37ºC. Confira os dados por cidade abaixo:

Sandra Hacon, pesquisadora da Fiocruz sobre os impactos do calor à saúde, explica que a situação já é de emergência e que precisa ser levado em quando nas políticas de saúde.
“É impossível suportar esse período de tempo sob essas temperaturas sem consequências, o corpo não tem resiliência para suportar. O acompanhamento da temperatura tem que estar no programa de vigilância com prioridade máxima, se não estamos deixando milhões de pessoas expostas ao risco de vida”, alerta.
Metodologia do levantamento
Entenda abaixo como o levantamento do Cemaden foi realizado:
🔎 Para cada dia do ano foi calculado um valor limite de temperatura.
🔎 Para isso, foram analisandos os dados diários da série histórica entre 2000 e 2024.
🔎 Como resultado, foi constatado o total de dias no ano de 2024 que superaram os valores mais altos vistos na série histórica, o que configura um extremo de calor.
🔎 O índice é o mesmo usado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Mais de 6 milhões de pessoas enfrentaram calor extremo no Brasil
O levantamento considerou informações de 5.571 municípios brasileiros. Pouco mais de 100 ficaram de fora, o que inclui as capitais João Pessoa e Recife. Segundo a pesquisadora do Cemaden Márcia Guedes, que fez parte do levantamento, isso ocorre porque ao coletar os dados do satélite, a resolução não conseguiu alcançar algumas cidades na faixa litorânea.
As altas temperaturas explicam o cenário do Brasil no ano passado:
O país viveu a pior seca da sua história, que afetou todo o território nacional, mas foi mais grave no Norte, deixando rios secos e populações isoladas, sem acesso a serviços básicos;
O Brasil viu queimar mais de 30 milhões de hectares, o que é quase o tamanho da Itália, em 2024. O fogo é reflexo de ação humana, mas a proporção é consequência da falta de umidade, resultado das altas temperaturas.
Houve recorde de dengue: foram mais de 6 milhões de casos da doença, que é favorecida pelo calor.
Pela primeira vez, especialistas identificaram uma região de clima árido no Brasil.

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