Organização social quarteirizava serviços a empresas vinculadas a políticos, afirmou a CGU. Ex-governador Marconi Perillo (PSDB) está entre os investigados. Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO) no Parque Santa Cruz, em Goiânia
SES-GO/Divulgação
A Polícia Federal (PF) e a Controladoria Geral da União (CGU) investigam um esquema de corrupção na Saúde de Goiás entre os anos de 2012 e 2018. O esquema envolvia desvio de dinheiro público e contratos ilegais feitos por uma organização social (OS) que administrava dois hospitais em Goiânia, informaram as autoridades. Entre os investigados, está o ex-governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).
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A CGU relatou que as investigações começaram em 2019, depois que a PF recebeu informações anônimas. Na quinta-feira (6), os órgãos federais deflagaram a Operação Panaceia em que foram cumprimos 11 mandados de busca e apreensão em Goiânia e Brasília. Dentro da operação, a Justiça Federal determinou ainda o sequestro de R$ 28 milhões dos investigados.
A controladoria afirmou que os recursos desviados vinham do Sistema Único de Saúde (SUS). A OS Gerir, investigada na operação, recebeu mais de R$ 900 milhões por meio de contatos com o governo estadual. A OS administrava o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) e o Hospital de Urgências de Trindade (Hutrin).
Em nota, a defesa da OS repudiou a operação policial e disse que as investigações “violaram o princípio constitucional da duração razoável do processo”. A advogada Eloiza Emidio afirmou ainda que confia que a Justiça irá corrigir as distorções da operação (leia nota completa ao fim do texto).
Investigação
A Polícia Federal informou que são investigados os crimes de desvio de recursos (peculato), corrupção ativa e passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro. A soma de todos os crimes pode levar a 40 anos de prisão, informou a PF.
Hospital de Urgências de Goiânia era administrado por OS investigada, em Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
Entre os investigados, está Marconi Perillo, governador do estado na época em que os desvios teriam acontecido. Ele, que é atual presidente nacional do PSDB, afirmou ser inocente em post nas redes sociais.
“Não tem um único centavo em minhas contas e de minha família que não seja oriundo do meu trabalho e declarado no Imposto de Renda”, escreveu Perillo.
Em nota, a defesa de Marconi disse ainda que tem “absoluta tranquilidade” em relação às investigações e que a operação é um “tentativa de constrangimento ilegal”.
O PSDB também se manifestou por meio de nota e disse que confia que as investigações irão comprovar que Perillo não cometeu nenhum crime (nota completa ao fim do texto).
As autoridades não divulgaram os nomes de outros investigados e nem quais bens foram sequestrados.
Quarteirização e desvio
De acordo com a PF, a OS Gerir tinha um contrato com o governo de Goiás para administrar dois hospitais de urgência da capital. A empresa fazia outros contratos com outras empresas para realizar o serviço.
As investigações apontaram que essas empresas contratadas pela OS eram vinculadas a administradores da organização social e a agente públicos, disse a PF.
“Parte do dinheiro recebido por essas empresas retornava aos políticos e aos próprios administradores da organização social, o que é vedado por Lei”, informou a polícia.
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Contratos ilegais
A CGU informou que os contratos firmados entre a OS Gerir e as empresas tinham descrições genéricas, sem especificação dos serviços. A controladoria disse que nem mesmo os quantitativos eram determinados, “o que tornou impraticável a fiscalização da execução dos Contratos de Gestão”.
Notas fiscais e outros documentos extraídos do sistema de prestação de contas indicam que pagamentos foram feitos sem a devida “medição”, considerou a controladoria.
As investigações apontaram ainda que foram firmados contratos semelhantes, que indicam a “sobreposição de contratações e desperdício de recursos públicos”, disse a CGU.
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Nota da OS Gerir
“A defesa do Instituto Gerir repudia com veemência a deflagração da Operação Panaceia pela Polícia Federal A execução de mandados de busca e apreensão, mesmo após o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) haver reconhecido de forma expressa o excesso de prazo das investigações, evidencia um ato de retaliação política e a tentativa desesperada de salvar uma operação juridicamente insustentável.
O TRF1 deixou claro que as investigações, iniciadas há mais de cinco anos para apurar fatos ocorridos em 2012, violaram o princípio constitucional da duração razoável do processo, expondo os investigados a um constrangimento ilegal e injustificado. A decisão ressaltou, ainda, a completa ausência de elementos concretos capazes de justificar a continuidade das apurações, evidenciando o abuso de poder e o caráter desproporcional dessa operação.
Ao ignorar essa constatação do Judiciário, a deflagração da operação e a determinação de medidas extremas, como buscas e apreensões, revelam seu verdadeiro objetivo: manchar a reputação do Instituto Gerir e dos investigados, utilizando-se de uma ação midiática e desprovida de fundamentos jurídicos legítimos.
O Instituto Gerir não aceitará ser alvo de perseguições nem de manobras de retaliação que desrespeitam decisões judiciais e direitos fundamentais. Estamos adotando todas as medidas legais cabíveis para responsabilizar aqueles que insistem em abusar do poder investigativo e ignorar os limites impostos pela Justiça.
Reafirmamos nosso compromisso com a transparência, a ética e a prestação de serviços públicos de qualidade. Confiamos que a Justiça prevalecerá, corrigindo essa grave distorção e pondo fim às práticas abusivas e retaliatórias.”
Nota do PSDB
“O PSDB e alguns de seus quadros foram vítimas recentes de abusos, arbitrariedades e erros de investigações e processos judiciais. Mesmo assim, o PSDB defende que toda e qualquer denúncia seja sempre investigada e os culpados, punidos. Sem perseguição.
Marconi Perillo, presidente nacional do PSDB, foi uma dessas vítimas. Governador de Goiás em quatro mandatos, responsável por transformações perenes no Estado, foi acusado de fatos depois comprovadamente inverídicos. Foi vítima de injustiças, como o próprio sistema judicial já atestou, ao arquivar todas as investigações e processos contra ele.
Nesta quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025, sete anos após Perillo deixar o cargo de governador de Goiás, Controladoria Geral da União e Polícia Federal deflagraram uma operação que envolve o ex-governador por fatos supostamente ocorridos em seu quarto mandato de governador. Sete anos depois, e remetendo a supostos fatos de 13 anos atrás!
Causa estranhamento que uma investigação leve tanto tempo para ser iniciada. Mais que estranhamento, causa também indignação! Mas ainda assim temos confiança de que, mais uma vez, a investigação levará à comprovação de que, se houve algum crime, o governador Marconi Perillo certamente não o cometeu.
O mínimo que a sociedade brasileira espera é que os órgãos de investigação sejam rápidos e isentos para apontar culpados e inocentes.
Comissão Executiva Nacional do PSDB”
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