11 de fevereiro de 2025

Entenda por que Trump agora quer oferecer asilo aos brancos da África do Sul


Após suspender programa de refugiados no início de seu mandato, presidente americano diz que minoria privilegiada de africâneres é vítima de discriminação racial. Trump assina decretos na Casa Branca
Kevin Lamarque/Reuters
Numa das primeiras ordens executivas assinadas neste segundo mandato, o presidente Donald Trump suspendeu o programa de reassentamento de refugiados, alegando que são um fardo para o país.
No entanto, em outro decreto, na semana passada ele abriu uma exceção, oferecendo asilo nos EUA para os africâneres —os sul-africanos de origem europeia— por entender que são “vítimas de discriminação racial injusta”.
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A medida do presidente americano declara os brancos como um grupo oprimido que precisa ser salvo, enquanto congela, por tempo indeterminado, a ajuda à África do Sul, importante parceiro econômico dos EUA, atingindo em cheio os programas de combate ao HIV.
Ou seja, Trump busca proteger uma minoria privilegiada do país, já que um estudo da Comissão de Direitos Humanos da África do Sul aponta que, 30 anos depois do fim do apartheid, apenas 1% dos brancos vive na pobreza, em contrapartida com 64% dos negros.
Na esteira de mais uma controversa ordem executiva do presidente americano está a Lei de Expropriação, aprovada em 2024, dentro da política de reforma agrária do país africano, após cinco anos de consultas públicas. A legislação visa a aplacar o legado de desigualdades do apartheid e permite a desapropriação de terras, sem compensação, caso não estiver sendo usada.
Uma auditoria realizada em 2017 revelou que os brancos são donos de 72% das terras agrícolas, embora representem apenas 8% da população. Os negros, que compõem 80% dos sul-africanos, são proprietários de 4% das terras agrícolas.
O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, insiste que a lei, sancionada em janeiro, “não é um instrumento de confisco, mas um processo legal constitucionalmente obrigatório”. O governo comprou e distribuiu 7,8 milhões de hectares a pessoas deslocadas pelo apartheid.
Aconselhado pelo bilionário Elon Musk, que nasceu em Pretória, Trump alega que “coisas terríveis estão acontecendo na África do Sul”, para justificar o corte de financiamento ao país. “Eles estão confiscando terras e, na verdade, estão fazendo coisas que são talvez muito piores do que isso”, afirmou o presidente americano, sem apresentar evidências.
Musk critica o governo de seu país natal de ser antibranco e vem repetindo isso em postagens na sua rede X. Em 2023, ele acusou os sul-africanos de esquerda de defenderem “o genocídio de pessoas brancas”. “Eles estão realmente matando fazendeiros brancos todos os dias. Não é apenas uma ameaça”, tuitou.
Musk durante a posse de Donald Trump nos EUA
Chip Somodevilla/Pool via REUTERS/File Photo
Ocorre que a ordem decretada por Trump, oferecendo o status de refugiados aos africâneres, teve uma recepção fria entre os próprios grupos que representam as minorias brancas. Dois sindicatos rejeitaram a oferta de reassentamento nos EUA.
“Nossos membros trabalham aqui e vão ficar aqui. Não vamos a lugar nenhum”, afirmou o presidente do Solidarity, Dirk Hermann, que representa dois milhões de pessoas.
O governo sul-africano nega a perseguição aos fazendeiros brancos e manifesta preocupação com a campanha de desinformação descrita no decreto assinado por Trump.
“Não seremos intimidados. Estamos testemunhando a ascensão do nacionalismo, do protecionismo, da busca por interesses estreitos e do declínio da causa comum”, alertou Ramaphosa em discurso ao Parlamento.
A ordem executiva aponta outros focos de insatisfação com a África do Sul: as acusações de genocídio contra Israel junto ao Tribunal Internacional de Justiça e a aproximação com o Irã, por meio de acordos comerciais, militares e nucleares.
Em retaliação ao que chamou de antiamericanismo na África do Sul, o secretário de Estado, Marco Rubio, antecipou que não participará da reunião do G20, em Johannesburg, presidida pela África do Sul no fim deste mês.
“Meu trabalho é promover os interesses nacionais da América, não desperdiçar dinheiro do contribuinte ou mimar o antiamericanismo”. Enquanto isso, a China, que expande sua influência no continente africano, comemora deterioração nas relações entre EUA e África do Sul e se diz ansiosa pela reunião de cúpula.
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