11 de fevereiro de 2025

Café fica 50% mais caro ao consumidor em 12 meses até janeiro; preço deve continuar subindo


Na variação mensal, a bebida ficou 8,56% mais cara, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Seca e altas temperaturas foram as principais causas das perdas na lavoura. Café pode ficar até 25% mais caro nos próximos dois meses
O preço do café continua subindo. O grão moído teve uma alta de quase 50,35% no acumulado dos 12 meses até janeiro, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta terça-feira (11). Na variação mensal, a bebida ficou 8,56% mais cara em relação a dezembro de 2024.
No geral, a inflação de alimentos teve uma leve desaceleração na passagem de dezembro para janeiro, ao passar de uma alta de 1,18% para 0,96% no período, influenciada pela queda dos preços da batata-inglesa (-9,12%) e do leite (-1,53%), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Por outro lado, cenoura (+36,14%) e tomate (+20,27%) foram destaques de alta na inflação do mês ao lado do café moído.
O custo do grão deve continuar subindo ao consumidor: nos próximos 2 meses, o valor pode se elevar mais 25% nos supermercados, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
Até dezembro, um pacote do café tradicional de 1 kg podia ser comprado por R$ 48,90.
Previsão de recorde na safra de grãos pode ajudar a baixar o preço dos alimentos?

Segundo Pavel Cardoso, presidente da Abic, o preço deve subir porque a indústria ainda não repassou ao consumidor toda o custo da compra de café, que encareceu 116,7% em 2024, em relação a 2023. A expectativa da associação é de que no segundo semestre o preço possa melhorar.
Confira abaixo alguns fatores que prejudicaram a produção e elevaram os preços do café, segundo os entrevistados pelo g1.
☕Calor e seca: no ano passado, o clima gerou um estresse na planta, que, para sobreviver, teve que abortar os frutos, ou seja, impedir o seu desenvolvimento. Mas problemas, como geadas e ondas de calor, vêm acontecendo há 4 anos. No período, a indústria teve um aumento de custos de 224% com matéria-prima e, para os consumidores, o café ficou 110% mais caro.
☕Maior custo de logística: as guerras no Oriente Médio encareceram o embarque do café nas vendas internacionais, elevando também o preço dos contêineres, principal meio para a exportação.
☕Aumento do consumo: o café é a segunda bebida mais consumida no Brasil e no mundo, atrás apenas da água. Os produtores brasileiros têm aberto espaço em novos mercados internacionais, o que influencia na oferta da bebida internamente.
A China, por exemplo, se tornou um novo mercado para o café brasileiro. Desde 2023, o país saiu de 20ª para a 6ª posição no ranking dos principais importadores de café do Brasil, que é o maior produtor e exportador mundial do grão
Calor e seca
Calor deixa o café ‘estressado’, pode derrubar a produção brasileira e encarecer a bebida
O primeiro semestre de 2024 teve períodos longos de altas temperaturas e secas nas regiões produtoras, como Minas Gerais e São Paulo. O clima acabou debilitando o pé de café. Para sobreviver e economizar energia, a planta precisou perder muitas folhas, explica Cesar Castro Alves, gerente da Consultoria Agro no Itaú BBA.
Apesar de ter chovido durante a florada, período fundamental para o desenvolvimento do grão, as árvores ainda precisaram abortar os frutos.
“Era para estar uma condição muito mais saudável, para que a planta tivesse uma boa produção. Provavelmente, as plantas vão gastar energia, agora, fazendo folha, formando galhos, sendo que era o momento de ela cuidar dos grãos”, diz Renato Garcia Ribeiro, pesquisador especializado em café do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Atualmente, o grão está sendo formado no pé, para a colheita a partir de abril.
Segundo Alves, consultor do Itaú, mesmo as áreas irrigadas foram prejudicadas.
“Os produtores estão até ‘esqueletando’ as lavouras, fazendo podas drásticas. Ele conclui que não vale a pena colher 10 sacas; não compensa. Então, ele anula essa produção do ano que vem e não tem o gasto com colheita”, diz.
A técnica de ‘esqueletar’ permite que a planta se recupere para que tenha uma melhor safra no ano seguinte.
A falta de água é considerada o pior dano para a lavoura, segundo Celírio Inácio da Silva, diretor executivo da Abic.
“Quando acontece uma geada, ela não deixa tantos estragos para as próximas safras. Já a seca, sim”, afirma.
Leia também:
Veja quais alimentos do prato feito tiveram maior aumento de preço no país
Trump começa a taxar importações da China: como isso pode ser bom para agro brasileiro
Aumento do consumo
Mesmo com o encarecimento, o consumo do café tem aumentado cada vez mais, com novas receitas usando o grão. Entre janeiro e outubro de 2024, o consumo cresceu 1,1% no Brasil, apontam dados da Abic. Contudo o consumo per capita caiu 2,22%.
Silva, diretor da associação, explica que o consumidor de café é resiliente e, tradicionalmente, tem um pequeno estoque de pacotes de 1 kg em casa. Assim, quando o preço é alterado, ele consegue segurar a compra para um momento de maior estabilidade.
“Então, existe uma menor compra do café, mas não significa que está havendo um menor consumo”, afirma.
Já no exterior, o Brasil tem cada vez mais explorado novos clientes. A China, por exemplo, tem elevado as compras em uma taxa anual de cerca de 17%, segundo a instituição.
“Uma parte grande do consumo no mundo são em países ricos desenvolvidos, que são muito menos sensíveis a altas de preços”, afirma Alves, consultor do Itaú BBA.
“Uma outra parte do crescimento do consumo tem ocorrido na Ásia, que são países que estão conhecendo agora o café. Então, não daria para dizer que o consumo vai cair e isso vai fazer o preço se ajustar”, completa.
Substituindo o Vietnã
O Vietnã, que é o maior produtor mundial do café robusta, também tem enfrentado prejuízos por causa do clima, afirma o consultor do Itaú BBA.
Deste modo, não apenas o grão do tipo arábica disparou, mas o robusta também tem batido recordes. Em setembro, pela primeira vez em 7 anos, o robusta teve o preço mais elevado do que o arábica.
O arábica é a variedade mais produzida no Brasil, bem como a mais consumida. Ela é mais valorizada pelo seu sabor, mas também é mais sensível ao clima.
Geralmente, o café moído tradicional encontrado nos supermercados é feito a partir de misturas dos dois tipos de grão: o robusta e o arábica, explica Renato Garcia Ribeiro, do Cepea.
Como a produção robusta brasileira é de cerca de apenas 20% de toda a área plantada, a safra costuma suprir apenas o mercado interno. No entanto, os problemas no Vietnã abriram novos mercados para o grão, e o Brasil passou a exportá-lo em maior volume.
Maior custo de logística
As guerras no Oriente Médio dificultaram a exportação de diversos alimentos pelo globo.
A comercialização do café da Ásia para a Europa, por exemplo, passa pelo canal de Suez, que chegou a sofrer ataques de rebeldes, incluindo até mesmo sequestro de navios. Isso obrigou os exportadores a usarem novas rotas, que aumentam em até 20 dias o trajeto, diz Alves, do Itaú BBA.
Este maior período de trajeto congestionou o aluguel de contêineres, que também tiveram seus preços elevados. Os contêineres são o principal meio para transportar café.
No Brasil, há ainda uma deficiência nos portos, que não comportam navios maiores, e isso torna mais lenta a exportação, afirma Silva.
Quando o preço pode baixar
O café deve continuar caro ao longo do ano. A safra de 2025 deve ser 4,4% menor em relação à safra anterior, sendo estimada em 51,8 milhões de sacas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Apenas em setembro, quando termina a colheita da safra atual, será possível entender se o preço vai reduzir, aponta o presidente da Abic.
Além disso, Cardoso acredita que, com o clima se mantendo estável, há a expectativa de uma safra recorde de café em 2026, o que impactaria os valores nos supermercados positivamente ao consumidor, devido ao aumento da oferta.
Outro fator que deverá ajudar colheita no ano que vem é o investimento dos agricultores e da indústria na produção, devido ao alto ganho. Em 2024, o setor faturou R$ 36,82 bilhões, alta de 60,85% quando comparado a 2023, informou a Abic.
Algumas empresas também estudam adotar novas embalagens, com uma variação do peso do produto, para oferecer uma variedade de preços, informou Cardoso.
Leia também:
A verdade sobre o ‘café fake’: por dentro do ‘parece, mas não é’ que se espalha pelos supermercados
Bezos investe US$ 9,4 milhões em vacina ‘contra arroto e pum’ de bois e vacas
Cafezinho em risco: como sombra de árvores pode ser solução para aumento da temperatura

Mais Notícias