12 de fevereiro de 2025

Morte de Dorothy Stang completa 20 anos: conheça a história da freira e ativista assassinada a tiros na Amazônia


Freira norte-americana foi morta a tiros em 2005 a mando de fazendeiros. Dos cinco condenados pelo crime, apenas um segue atrás das grades. Dorothy Stang
Divulgação.
Há 20 anos, a violência das tensões agrárias na Amazônia ganhava repercussão internacional a partir de um crime emblemático: no dia 12 de fevereiro de 2005, a missionária norte-americana Dorothy Stang foi assassinada a tiros em uma emboscada. A freira se tornou alvo por defender pequenos agricultores contra grileiros em Anapu, sudoeste do Pará, local para o qual dedicou mais de duas décadas da vida em defesa dos trabalhadores rurais.
Duas décadas depois do crime, apenas um dos cinco condenados por tramarem e executarem o assassinato da religiosa segue preso, de acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária do Pará (Seap): Rayfran das Neves Sales, que efetuou os seis disparos à queima-roupa a mando dos fazendeiros.
Em homenagem à história de luta da missionária, diversos movimentos realizam atos de homenagens e resistência na data da morte de Dorothy Stang em várias regiões do Pará.
Em Belém, o Comitê Dorothy organizou um ato inter-religioso em memória à Dorothy Stang, evento que vai relembrar as principais causas defendidas pela irmã. O ato será realizado na Praça do Can, localizada no bairro de Nazaré, em Belém, a partir das 9h desta quarta-feira (12). O evento reunirá movimentos sociais, entidades de direitos humanos, universidades públicas e religiosos.
A história de Dorothy
Dorothy chegou ao Brasil em 1966, na companhia de outras religiosas da congregação Notre Dame de Namur, vindas dos Estados Unidos. Na década de 1970, em plena ditadura militar, a Amazônia se tornaria alvo de grandes projetos, como a abertura de rodovias, a implantação da agropecuária de larga escala, a exploração de madeira e o a intensificação de fluxos migratórios de pequenos camponeses para a Amazônia, mobilizados pela promessa de terras livres e férteis para plantação.
Em 1982, Dorothy se muda para a região da Transamazônica para atuar como nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e como educadora popular. A freira que integrava a Comissão Pastoral da Terra (CPT), instituição ligada à Igreja Católica, ficou conhecida internacionalmente pela forte atuação contra os fazendeiros, madeireiros e grileiros na região do Xingu, no Pará.
Em Anapu contribuiu para a criação do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Esperança, o primeiro da região. modelo de assentamento e gestão que produzia uma fonte segura de renda com a colheita de madeira, sem destruir a floresta. A área era disputada por madeireiros e latifundiários, que encomendaram a morte da ativista.
Cruz enterrada onde a freira e ativista norte-americana, Dorothy Stang, foi assassinada em 2005 no Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança, em Anapu.
Lunae Parracho / Reuters
Ameaças e execução
Símbolo da luta pela reforma agrária no Brasil, a religiosa, à época com 73 anos, atuava com ações sociais e trabalhistas em Anapu.
A atuação intensa passou a incomodar fazendeiros e grileiros da região, e ela se tornou alvo de ameaças. Mesmo ciente dos riscos, Dorothy seguiu denunciando a violência no campo e desenvolvendo projetos de uso sustentável da floresta em áreas de assentamento do Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária (Incra), local onde o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, um dos mandantes do assassinato, possuía títulos ilegais de terra.
Segundo o Ministério Público, a morte da missionária foi encomendada pelos fazendeiros Vitalmiro Bastos e Regivaldo Galvão.
A missionária foi abordada por pistoleiros em uma estrada vicinal de Anapu. Segundo os próprios criminosos, antes de ser executada, ela leu trechos da Bíblia para os assassinos.
O crime ganhou repercussão internacional, chamando a atenção de entidades ligadas aos direitos humanos e à reforma agrária.
Envolvidos no crime cumprem prisão domiciliar
Os assassinos de Dorothy Stang são Rayfran das Neves Sales, Amair Feijoli da Cunha, Vitalmiro Bastos de Moura, Regivaldo Pereira Galvão e Clodoaldo Carlos Batista.
Rayfran das Neves Sales foi condenado a 27 anos de prisão por ser assassino confesso de Dorothy Stang. Deixou o regime fechado para cumprir o restante da pena em prisão domiciliar.
Amair Feijoli da Cunha, o Tato, foi condenado a 27 anos de prisão como intermediário do crime, mas foi beneficiado com a redução de um terço da sentença, devido ao recurso de delação premiada. A pena então ficou em 18 anos de cadeia por ter contratado os pistoleiros Rayfran e Clodoaldo Carlos Batista. A pena de Rayfran foi de 28 anos, e Clodoaldo foi sentenciado a 17. Os julgamentos começaram um ano após o assassinato, em 2006.
Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Pereira Galvão, apontados como mandantes do crime, foram condenados a 30 anos de prisão. Bida esteve quatro vezes no banco dos réus. Ele teria oferecido R$ 50 mil pela morte da missionária. Vitalmiro e Amair cumprem pena em regime aberto.
Material extra da Dorothy Stang do Doc Liberal
Violência rural na Amazônia
De acordo com os dados mais recentes divulgados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 2023, o Pará liderava o ranking de ocorrências de conflitos no campo e foi considerado o estado mais violento da Amazônia, com 226 casos, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
No relatório, divulgado em 2024, as principais vítimas desses conflitos foram os indígenas, trabalhadores rurais sem terra, posseiros, seringueiros e pequenos proprietários de terra, com registros de brigas por terra, água e regime de trabalho escravo por grileiros, empresários, entre outros.
Segundo dados de 2024 do Fórum de Segurança Público, Anapu chegou a considerada uma das cidades mais violentas do estado, ocupando a 6ª posição, local marcado por conflitos fundiários e assassinatos de lideranças ligadas à grilagem de terras e extração ilegal da madeira, local este onde a missionária acompanhou de perto o drama do pequeno agricultor e demais categorias de trabalhadores rurais.
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