Para conter alta da inflação, BC tem subido os juros, que está em 13,25% ao ano após quatro altas consecutivas. Ao citar Caetano Veloso, Galípolo estava comentando conversa que teve com o cantor sobre as dificuldades de comunicação de BCs com a população. Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central do Brasil (BC).
Adriano Machado/ Reuters
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta quarta-feira (12) que a inflação tende a permanecer acima do teto do sistema de metas até que o processo de alta dos juros vá gerando desaceleração no ritmo de crescimento da economia brasileira.
Galípolo, que foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a Presidência do BC no início deste ano, momento no qual os diretores apontados pelo governo petista também passaram a ser maioria no Comitê de Política Monetária (Copom) — colegiado responsável pela definição da taxa básica de juros.
Atualmente, a taxa Selic está em 13,25% ao ano, após quatro altas seguidas pelo BC, que indicou também novo aumento de um ponto percentual, em março deste ano. Os aumentos de juros foram criticados nos últimos anos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo Galípolo, o Banco Central vai tomar o tempo necessário para ver se os dados confirmam uma tendência real de desaceleração da economia, e não somente volatilidade de dados de alta frequência, ou seja, os dados econômicos mais recentes, antes de tomar uma decisão de ter uma política mais suave para os juros.
“Nesse período, é natural conviver com inflação fora da meta e expectativa de atividade. É normal que vão surgir discussões como sempre sobre o patamar da taxa de juros”, declarou Gabriel Galípolo, do Banco Central, em evento promovido pelo Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças (IEPE/CdG).
Ao definir a taxa de juros, o Banco Central visa trazer as projeções de inflação para as metas pré-definidas, com objetivo central de 3%, e teto de 4,5%, nos próximos anos. Na última semana, as expectativas do mercado estavam bem acima das metas.
Comunicação com a população
Ele também mencionou um desafios dos bancos centrais em se comunicar melhor com a população, e citou iniciativas de outras instituições ao redor do mundo, que se utilizam de redes sociais e até mesmo de “jingles”.
Aproveitou, ainda, para citar um caso curioso, quando foi questionado pelo cantor Caetano Veloso sobre os comunicados do Copom a respeito das indicações para a taxa de juros.
“Esses dias, o Caetano Veloso, na genialidade dele, que é absolutamente plena, veio me perguntar de ‘forward guidance’ [indicações sobre decisões futuras para a taxa de juros] e redação de ata do Copom. E eu comecei a falar para ele como é que são as escolhas das palavras. Ele falou: ‘então é que nem fazer poesia’. Eu falei que tenho certeza que as pessoas não tem o mesmo prazer lendo suas poesias do que a ata do Copom. Mas tem uma arte por trás de escolher as palavras ali [na ata do Copom]”, declarou ele.
Crédito com juros mais baixos
Outro desafio para baixar a taxa de juros, citada pelo presidente do Banco Central, é melhorar os chamados “mecanismos de transmissão” das decisões sobre a taxa de juros. Ele observou que, existem, por exemplo, linhas de crédito com juros mais baixos (subsidiados) que obrigam o BC a ser mais agressivo na definição da taxa Selic, pelo fato de ela ter um impacto menor na economia.
“Como normaliza a politica monetária [de juros] para limpar canais de transmissão, dado que foram construídos mecanismos de reduzir a sensibilidade para diversos setores. O que vai demandando doses maiores ao remédio [juro alto]. E tem um setor que não tem uma proteção para esse remédio, que é o Tesouro Nacional. Esse paga [juro alto] na veia [o que aumenta a dívida pública]”, declarou Galípolo, do BC.
O crédito com juros subsidiados já havia sido apontado anteriormente pelo ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, entre os problemas que geram juros altos no Brasil. Para explicar esse fenômeno, ele recorreu ao argumento da “meia-entrada no cinema”.
Na última semana, o presidente Lula afirmou que o governo vai lançar, a partir da semana que vem, programas de ampliação de crédito para a população, mas não deu detalhes sobre as iniciativas.
“Nós temos alguns programas que vamos anunciar — eu não vou nem falar porque é surpresa. A partir da semana que vem a gente vai começar a anunciar alguns programas. Sabe por quê? Porque eu quero mais crédito para o povo”, disse, na ocasião.