25 de setembro de 2024

Polícia investiga atuação de milícia e grupo de extermínio após Justiça mandar prender três PMs suspeitos de executarem jovem

Investigação desencadeou a primeira fase da Operação Janus. Dois dos três suspeitos foram presos e um segue foragido. Polícia Civil cumpre mandados de prisão contra PMs suspeitos de simular confrontos para matar pessoas em Boa Vista.
Marcelo Marques/Rede Amazônica
A Polícia Civil informou nesta quarta-feira (17) que investiga a formação de milícia e grupo de extermínio formado policiais militares de Roraima após a Justiça decretar a prisão de três deles por suspeita de assassinarem o jovem Pedro Henrique de Moura em dezembro de 2023.
A investigação ocorre em conjunto com o Departamento de Inteligência da Secretaria de Segurança (DEINT) da Secretaria de Estado da Segurança Pública. A investigação desencadeou a primeira fase da Operação Janus, que cumpriu mandados de prisões temporárias expedidos pela 1ª Vara do Tribunal do Júri e da Justiça Militar.
PMs suspeitos de simular confrontos para matar pessoas são alvos de operação em Boa Vista
O sargento da Polícia Militar Arnaldo Cinsinho Melville e os soldados Lucas Araruna e André Galúcio são os alvos da operação que apura as circunstâncias da morte de Pedro Henrique. Melville e Araruna foram presos temporariamente por 30 dias nessa quarta-feira (17). Galúcio está fora do estado, por isso é considerado foragido.
As investigações seguem e mais pessoas poderão ser presas nos próximos dias. Segundo o Delegado de Polícia Civil João Evangelista, Titular da Delegacia Geral de Homicídios (DGH), o objetivo da operação é esclarecer os casos de mortes violentas por intervenção policial.
“São casos com indicativos de execuções ocorridas no interior de residências. Outras investigações também buscam o esclarecimento de eventual milícia instituída no estado de Roraima e grupo de extermínio formado por policiais militares”, disse.
Procurada, a Polícia Militar informou que está buscando “informações mais precisas sobre os autos do inquérito” para se posicionar mais especificamente sobre o caso.
Informou ainda que a Corregedoria está acompanhando o caso e todas as medidas administrativas serão adotadas caso seja comprovada a veracidade dos fatos. Segundo a PM, se comprovado, os militares serão responsabilizados.
A defesa de Araruna, que também defende Galúcio, afirmou que a investigação não se sustenta em prova material alguma. O g1 tenta contato com a defesa de Arnaldo Melville,
A reportagem apurou que Arnaldo Melville também é investigado em outros inquéritos pelos crimes de tortura e roubo. Os outros dois policiais também são investigados em outros procedimentos.
As ordens judiciais foram decretadas após representação criminal da Autoridade Policial e manifestação favorável do Ministério Público nos autos do inquérito policial que apura as circunstâncias da morte de Pedro Henrique.
Segundo a investigação, há fortes elementos apontando que, no dia 14 de dezembro de 2023, os policiais invadiram uma residência no bairro São Bento e mataram o jovem com dois disparos de armas de fogo. A morte foi presenciada por outras pessoas que estavam na casa, incluindo uma criança.
Um relatório da Sesp, ao qual a Rede Amazônica teve acesso, aponta que, após a troca de tiros, Pedro Henrique foi levado para o Hospital Geral de Roraima (HGR) pelos próprios policiais.
No documento, a Sesp concluiu que existia uma “alta probabilidade de que Pedro Henrique tenha sido levado ao pronto-socorro já sem sinais vitais” e que alguns protocolos foram negligenciados pelos PMs.
A operação, batizada de Janus, também cumpriu três mandados de busca e apreensão domiciliar na casa dos investigados. Os investigadores da DGH arrecadaram durante as buscas domiciliares aparelhos celulares, um computador, munições calibre 9mm, documentos e dois simulacros de arma de fogo.
Operação Janus
As investigações da Sesp e Polícia Civil apontam que os policiais militares investigados entravam nas residências das vítimas, mesmo sem ordem judicial e, em algum casos, sem acionamento para ocorrência. Eles justificavam a resistência por parte das pessoas para realizar as execuções.
Após atirar nas vítimas e matá-las, os suspeitos levavam as vítimas para o hospital e retiravam as cápsulas do local do crime sob a alegação de prestação de socorro. No entanto, segundo as investigações, eles manuseavam os corpos com descaso e em “100% dos casos, os socorridos já chegaram mortos” no hospital. A suspeita é de que eles adulteravam os locais dos crimes para dificultar o resultado da perícia da Polícia Civil no local.
Sobre o assunto, a Polícia Militar informou que está buscando “informações mais precisas sobre os autos do inquérito” para se posicionar mais especificamente sobre o caso.
Informou ainda que a Corregedoria está acompanhando o caso e todas as medidas administrativas serão adotadas caso seja comprovada a veracidade dos fatos. Segundo a PM, se comprovado, os militares serão responsabilizados.
“A corporação repudia veementemente todo e qualquer ato criminoso, bem como condutas ilícitas que transgridam os preceitos da ordem, disciplina e moral que caracterizam a profissão de policial militar”, disse.
O nome da ação policial faz referência à mitologia romana. Conforme a mitologia, Janus é a divindade bifronte que mantém uma de suas faces voltada para frente, em atenção ao porvir, e outra, para trás, em apreciação ao que já se passou.
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