25 de setembro de 2024

Empresária filma filhote de ouriço-cacheiro em Camaragibe, Pernambuco

Animal costuma ficar nas árvores e dificilmente é visto. Pelagem creme é característica comum no começo da vida do mamífero. Vídeo mostra filhote de ouriço-cacheiro em Camaragibe (PE)
Em um vídeo gravado pela empresária Egline Nely Alencar na última segunda-feira (15), no município de Camaragibe (PE), um filhote curioso e diferente aparece caminhando lentamente. O animal, até então desconhecido por ela, chamou a atenção.
“Eu moro em Aldeia dos Camarás, que é uma área fora da cidade, mais afastada e com muita mata. No caminho do meu condomínio tem um riachinho que passa e foi ali que eu vi”, relembra ela.
O animal flagrado pela empresária é um filhote de ouriço-cacheiro, da espécie Coendou prehensilis. Vive exclusivamente na Mata Atlântica nordestina, nos estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e ao sul do Rio Grande do Norte.
“Estava de carro, passando devagarzinho, porque sempre tem bichinho, tem preguiça, tem sagui, e aí eu vi aquele bichinho. Ele não tava ferido, não tava machucado, então eu acho que ele saiu caminhando e depois, quando voltei, já tinha ido embora”, conta.
Ouriço-cacheiro da espécie ‘Coendou prehensilis’ fotografado a Floresta Nacional da Restinga de Cabedelo, na Paraíba
Nely Ficher
De acordo com o biólogo especialista em mamíferos Fernando Heberson Menezes, pouco se sabe sobre o desenvolvimento dessa espécie, mas a pelagem creme comprova que se trata de um recém-nascido.
“Esse é um registro raro, lindo e muito maravilhoso, não é comum ver filhotes de cuandus, pois geralmente ficam bem escondidos no alto das árvores aguardando a mãe retornar”, comenta.
Cuandus, segundo Fernando, é o nome pelo qual os povos originários e comunidades tradicionais chamam o ouriço-cacheiro, nome criado pelos colonizadores portugueses. Há ainda o termo popular de porco-espinho.
Mata Ciliar recebe filhote de ouriço-cacheiro resgatado em área rural de Itatiba. Essa é uma espécie diferente da vista em Pernambuco.
Associação Mata Ciliar de Jundiaí/Divulgação
No total, existem 16 espécies do gênero Coendou, distribuídas da região tropical e subtropical das Américas, das quais 11 têm ocorrência conhecida para o Brasil.
Apesar de ser apenas um filhote, o ouriço-cacheiro filmado por Eglide já possui espinhos, que ficam escondidos nos pelos e também servem para proteção.
“Não são espinhos tão rígidos ou farpados quanto os de animais adultos, mas já ajudam. Entretanto, a principal estratégia é se manter escondido na árvore, longe do alcance dos predadores”, esclarece o mastozoólogo que realiza um trabalho de divulgação científica nas redes sociais através da página “Projeto Incisivos”.
Os principais predadores naturais dos cuandus são aves de rapina, como a harpia e mamíferos maiores como as jaguatiricas.
Em ambientes urbanos, esses animais também são vítimas de cães domésticos. Em conflitos com eles, de acordo com o pesquisador, costumam levar a morte do ouriço, que foge ferido e sem cuidados veterinários, e deixa o cachorro com graves ferimentos devido aos espinhos.
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A espécie
Quando adultos, ouriços-cacheiros da espécie Coendou prehensilis pesam quase 3 kg e medem pouco mais de 75 centímetros de comprimento, somando corpo e cauda. Eles também ganham uma coloração amarelo-escura, com traços castanhos.
Desinformação é a principal ameaça ao ouriço-cacheiro: vizinhos queriam capturar o animal
Nayra Avinte Vieira/VC no TG
São animais herbívoros que se alimentam de folhas, flores, frutos e até têm o hábito de mastigar cascas de árvores. Infelizmente, a espécie está categorizada como Quase Ameaçada (NT – Near threatened) pelo ICMBio.
“Ela tem uma distribuição restrita ao que chamamos Centro de Endemismo de Pernambuco, uma região de Mata Atlântica que já perdeu mais de 90% de sua área original, o que significa que muito do ambiente desta espécie não existe mais”, finaliza o pesquisador.
Para Egline, ter a oportunidade de ver bem de perto um animal tão diferente foi muito especial. “Foi muito emocionante, não sei nem explicar! Amo a natureza, fico horas no meu jardim. Ver um animalzinho assim tão diferente foi incrível”.
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