23 de fevereiro de 2025

Falta de médicos prejudica atendimento e sobrecarrega hospitais da Zona da Mata


Casa de Caridade Leopoldinense, em Leopoldina, e Hospital São Salvador, em Além Paraíba, enfrentam escassez de anestesistas e outros especialistas após investigações e problemas relacionados a demissões. Demanda da região acaba sendo concentrada em Cataguases. Hospital São Salvador, em Além Paraíba
Evandro Carvalho/TV Integração
Há cerca de dois meses, pacientes que necessitam de anestesistas sofrem com a falta de médicos dessas e de outras especialidades na Casa de Caridade Leopoldinense, em Leopoldina, e no Hospital São Salvador, em Além Paraíba.
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Desde o fim do ano passado, a Casa de Caridade está sob intervenção administrativa, após operação realizada pelo Ministério Público, que resultou na prisão de quatro médicos acusados de cumprirem plantões em outras cidades no mesmo horário em que deveriam atender pacientes do SUS no hospital de Leopoldina.
Segundo o atual interventor e secretário de Saúde do município, Márcio Machado, a falta de profissionais, como obstetras, já ocorria desde outubro, mas, após a operação, o hospital ficou sem nenhum anestesista.
“Conseguimos trazer alguns profissionais, já tivemos até uma semana inteira com anestesistas, mas eles não são fixos no hospital. Estamos em transição, estamos em contato com esses profissionais para que venham para cá, e acreditamos que, em março, teremos uma solução definitiva”, afirmou.
Conforme a faxineira Flaviane Cristina Silva, que pariu há um mês, ela procurou a Casa de Caridade Leopoldinense por estar com pressão alta, mas não havia obstetra nem anestesista de plantão. Por isso, precisou ser transferida para Cataguases, onde o parto ocorreu.
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Já no início deste mês, uma gestante de 32 anos foi atendida por uma obstetra na Casa de Caridade, mas, devido ao estado grave de saúde, foi transferida para o Hospital João Penido, em Juiz de Fora, onde morreu.
O interventor explica que, de fato, no dia em que a gestante foi atendida em Leopoldina não havia anestesista. No entanto, “a situação em que a gestante se encontrava necessitava de um atendimento de maior complexidade e, por isso, a obstetra solicitou a transferência”.
Já em Além Paraíba, a intervenção ocorre desde 2022, quando o conselho diretor, médicos e outros funcionários foram afastados por suspeita de desvios de recursos públicos e por baterem ponto sem prestar atendimento na unidade.
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Situação sobrecarrega atendimento na região
A situação tem impactado diretamente o atendimento à população no Hospital Santa Casa de Misericórdia de Cataguases, que está recebendo os fluxos alternativos da rede de urgência e emergência devido à falta de médicos plantonistas em algumas especialidades em Leopoldina e Além Paraíba.
Grazielle de Almeida Vecchia, interventora da unidade, afirma que está assumindo praticamente toda a demanda de cirurgias, partos e emergências das duas cidades.
O hospital de Cataguases também está sob intervenção da Prefeitura e chegou a enfrentar falta de profissionais, mas conseguiu completar o quadro de funcionários.
De acordo com o promotor de Justiça Rodrigo Barros, foi dado um prazo até 15 de fevereiro deste ano para que Leopoldina e Além Paraíba resolvessem os problemas e suprissem a escassez de profissionais, mas o prazo não foi cumprido.
“A vigilância sanitária estadual já está realizando as inspeções nos hospitais […] entendemos que são municípios que não formam profissionais médicos, e isso demanda um esforço maior, uma competitividade financeira maior, mas é uma responsabilidade que o hospital tem a partir do momento em que abre a porta”.
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Evandro Carvalho/TV Integração
Irregularidades
As investigações da Promotoria de Saúde de Leopoldina, em conjunto com o Ministério Público, começaram em 2020 para apurar a execução de plantões simultâneos em locais e hospitais distintos, cirurgias eletivas nos dias de plantão de urgência e anestesias realizadas pelos médicos investigados da Casa de Caridade Leopoldinense.
Com a evolução das apurações, foi constatada a prática de delitos ainda mais graves, que geraram a exposição dos pacientes a riscos concretos, como:
Cirurgias e anestesias eletivas foram realizadas pelos profissionais durante a escala de sobreaviso da urgência e emergência;
Esquema de manipulação de escalas médicas, cirurgias simultâneas/sequenciais e cirurgias eletivas durante o plantão SUS, com a prática do crime de falsidade ideológica;
Combinações de versões, falsidades documentais médicas e manipulação de documentos importantes.
As investigações também revelaram práticas fraudulentas, ocultação de erros médicos e até subtração de materiais necessários à realização de cirurgias.
No caso do Hospital São Salvador, em Além Paraíba, o relatório da vigilância sanitária indica quase 200 irregularidades que comprometem o funcionamento dos leitos da Unidade de Terapia Intensiva e do centro cirúrgico.
O MP também apontou a falta de médicos. A administração informou que os casos graves ou cirúrgicos são encaminhados para hospitais da região e que um plano de ação está sendo elaborado para reverter a situação.
Hospital Casa de Caridade Leopoldinense, em Leopoldina
Gabriel Landim/TV Integração
O que dizem os hospitais?
Hospital São Salvador
Em nota, a Prefeitura de Além Paraíba informou que a paralisação das atividades do CTI e do Centro Cirúrgico não impede o funcionamento do Hospital São Salvador e que os atendimentos de emergência e pronto-socorro seguem normalmente.
“Pacientes que necessitarem de cirurgias ou atendimento em casos graves serão transferidos via Samu para hospitais da região, garantindo a continuidade do atendimento adequado. A gestão atual está operando na elaboração de um Plano de Ação factível e aplicável, junto à Secretária Estadual de Saúde, para reverter essa situação e garantir um atendimento digno para todos. Reafirmamos nosso compromisso com a transparência, ética e trabalho sério. Permanecemos firmes no propósito de manter a população ciente de tudo o que acontece em nossa cidade e em nosso hospital”.
Casa de Caridade Leopoldinense
“A Casa de Caridade Leopoldinense lamenta profundamente o falecimento da paciente, ocorrido no Hospital João Penido, em Juiz de Fora/MG, e se solidariza com seus familiares. Diante das informações divulgadas, esclarecemos os cuidados prestados à paciente e as medidas adotadas: No dia 03/02/2025, a paciente foi acolhida em nossa unidade após o acionamento do SAMU, que relatou um quadro de convulsão e pico hipertensivo em uma gestante. Nossa equipe médica, incluindo a obstetra de plantão, prestou atendimento imediato, adotando todas as providências necessárias e cabíveis para a estabilização e tratamento da paciente. No entanto, diante da gravidade do quadro clínico da paciente e da necessidade de recursos especializados, foi realizada num período de 2h, a transferência da paciente para o Hospital João Penido, em Juiz de Fora/MG, observando todos os protocolos médicos aplicáveis ao caso de um parto prematuro e de alto risco. A Casa de Caridade Leopoldinense reafirma seu compromisso com a qualidade do atendimento e a ética profissional”.
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