23 de fevereiro de 2025

‘Tarados de Roma’, ‘Chavequeiros’ da Praça Onze: álbuns revelam ‘miniblocos’ e detalhes da folia de 80 anos atrás


Conjuntos de fotografias chamaram a atenção de pesquisador por mostrarem situações familiares ou que podem ser comparadas com o carnaval de rua atual. Ele também encontrou imagens a cores raríssimas feitas por turistas estrangeiros Capa do Álbum do ‘Grupo do Chaveco’
Rafael Cosme/Arquivo Pessoal
Um grupo de amigos vestidos de romanos que faziam coreografias ousadas em conjunto. Uma família que registrou memórias de 10 carnavais seguidos. Turistas estrangeiros que chegaram com equipamentos modernos para registrar a folia.
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Essas e outras situações estão em álbuns e outros conjuntos fotográficos encontrados pelo pesquisador e jornalista Rafael Cosme. As fotografias e negativos que foram encontrados em feiras de rua ou acervos de colecionadores particulares do Rio revelam histórias de carnavais inteiros de pessoas, amigos e famílias, guardados há muitas décadas.
Pesquisador de imagens do Rio antigo em materiais descartados há mais de 7 anos, Rafael tem um acervo com milhares de fotos. Muitas imagens, como as fotos tiradas em estúdios por foliões que subiam para os laboratórios entre os blocos, foram encontradas separadamente.
Entretanto, alguns álbuns chamaram a atenção por mostrar de uma forma mais aprofundada a experiência desses foliões durante vários dias de folia – às vezes vários anos. Histórias de grupos de amigos e amigas, famílias e turistas.
Chamou a atenção de Rafael o fato de muitas brincadeiras registradas – como coreógrafias e fantasias em grupo – ainda serem parecidas com as que vemos no carnaval de rua. Outro ponto que o pesquisador valoriza é o valor histórico das imagens que mostram o lado de cotidiano familiar.
“A fotografia amadora, de forma tão despretensiosa, tem um valor histórico enorme. Todo mundo produz memória. A história do carnaval carioca está guardada e escondida nesses álbuns familiares”, diz Rafael.
Veja, abaixo mais sobre alguns dos álbuns encontrados:
Grupo do Chaveco da Praça Onze
Álbum do “Grupo do Chaveco da Praça Onze”
Arquivo Pessoal/Rafael Cosme
O álbum encontrado mais recentemente por Rafael, já em 2025, foi um livro de capa dura, vermelha, com a inscrição: “Grupo do Chaveco, Praça Onze. 1939-1949”. São cerca de 140 fotografias que documentam uma década inteira de um pequeno agrupamento carnavalesco chamado “Chavequeiros da Praça Onze”, que saía pelas ruas do centro do Rio. No dia em que Rafael fez uma postagem nas redes sobre o álbum, um rapaz lhe escreveu dizendo que a família dele saía nesse bloco. “Uma bonita coincidência”, diz o pesquisador.
Nas imagens, é possível ver os foliões fantasiados, exibindo orgulhosamente o estandarte do grupo e faixas com dizeres como “Salve o chaveco”. Alguns homens estavam vestidos de mulher e uma pessoa – não é possível dizer se é homem ou mulher pela imagem – exibia uma bonita fantasia que lembra as imortalizadas por Carmen Miranda. Em outra imagem é possível ver o grupo e outros foliões brincando em meio a prédios do Centro.
O período do álbum dos “chavequeiros” pega os anos finais e imediatamente após as obras da Avenida Presidente Vargas, que reformularam o Centro demolindo vários quarteirões da Praça Onze (leia mais aqui sobre alguns dos principais “palcos” do carnaval carioca ao longo da história).
Álbum do “Grupo do Chaveco da Praça Onze”
Arquivo Pessoal/Rafael Cosme
Álbum do “Grupo do Chaveco da Praça Onze”
Arquivo Pessoal/Rafael Cosme
Tarados de Roma
Foto de grupo autointitulado ‘Tarados de Roma’
Arquivo Pessoal/Rafael Cosme
Outro álbum encontrado por Rafael recentemente é o de uma família que viveu no Rio no fim da década de 1950. É neste livro que estão as imagens do minibloco “Os tarados de Roma”
O álbum tem registros da mesma família na Festa da Penha, na chegada dos campeões mundiais de 1958 ao Rio e alguns anos de carnaval.
As imagens dos “tarados” mostram homens e mulheres fantasiados de estátuas gregas, fazendo coreografias, deitando-se no chão. “Algo que me faz pensar no carnaval de hoje. São registros simples mas que ajudam a contar a história do carnaval de rua na cidade”, explica o pesquisador.
Álbum guarda registros do minibloco “Tarados de Roma”
Arquivo Pessoal/Rafael Cosme
Álbum guarda registros do minibloco “Tarados de Roma”
Arquivo Pessoal/Rafael Cosme
O carnaval em cores pelos olhos de turistas
Imagem feita por turista mostra o carnaval do Rio em 1966
Arquivo Pessoal/Rafael Cosme
As pesquisas de Rafael também passam por acervos fotográficos de estrangeiros que visitaram o Brasil entre as décadas de 1940 e 1960.
Eles costumavam utilizar câmeras e filmes melhores que os que haviam por aqui. “Grande parte das primeiras fotografias a cores feitas no país se encontra fora do país. Encontrei o acervo de um turista norte-americano que registrou o carnaval de 1966 em cores vivas, lindas. Em outra coleção, de 1942, talvez estejam algumas das primeiras fotografias a cores do carnaval de rua”, explica o pesquisador.
Foliã do carnaval do Rio em 1942, em imagem feita por turista
Arquivo Pessoal/Rafael Cosme
Imagem feita por turista mostra o carnaval do Rio em 1966
Rafael Cosme/Arquivo Pessoal

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