Goleiro Tom Cristian, da Portuguesa Santista, alega ter sido chamado de ‘macaco’ pela própria torcida durante jogo contra o São José, no estádio Ulrico Mursa, em Santos (SP). Equipe da Briosa apoiou o atleta e se recusou a continuar a partida. Goleiro Tom Cristian deixou a partida junto aos atletas e membros da comissão técnica da Portuguesa Santista
Reprodução/TV Tribuna e João Jardim/Agência Briosa
A Polícia Civil identificou um dos torcedores suspeitos de cometer injúria racial contra o goleiro da Portuguesa Santista durante uma partida em Santos, no litoral de São Paulo. A informação foi confirmada pelo delegado do 2º Distrito Policial da cidade, Marcelo Gonçalves. As investigações continuam para identificar os outros envolvidos.
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“Nós estamos com um suspeito já identificado e outros já em vias de [identificação. Foi] um grupo de pessoas ali que acabou se inflamando e proferindo as injúrias contra a honra do goleiro”, afirmou o delegado, em entrevista à TV Tribuna, afiliada da Globo.
Conforme relatado na súmula da partida, obtida pelo g1, o jogo foi paralisado próximo dos 30 minutos do segundo tempo após o goleiro Winiston Cristian Santos, conhecido como Tom Cristian, de 33 anos, relatar ter sido chamado de ‘macaco’, ‘filho da p***’ e ‘preto’ pelos torcedores do próprio time.
Segundo o documento, Tom informou ao árbitro a decisão de não continuar no jogo. Em seguida, os atletas e membros da comissão técnica da Portuguesa Santista apoiaram o goleiro e deixaram o campo. O abandono foi formalizado após 23 minutos de paralisação e a partida foi encerrada.
Com o auxílio de imagens feitas durante a partida, Tom e outros jogadores da Briosa identificaram um dos suspeitos pelo crime. Segundo o goleiro, este homem iniciou as injúrias raciais, influenciando outros torcedores do time.
“Eles mesmos tentaram esconder entre eles [quem começou]”, explicou o arqueiro.
De acordo com o delegado, a pena de injúria racial é de dois a cinco anos de prisão. Além disso, como o crime foi cometido dentro de um estádio de futebol, os envolvidos também podem ser proibidos de frequentar eventos esportivos por até três anos, ainda segundo o agente.
“Quando eu ouço a voz e as ofensas, eu me viro para olhar a arquibancada. A voz da pessoa foi bem nítida porque ele continuou repetidamente […] Infelizmente, outras pessoas foram contagiadas e acabaram também fazendo o mesmo”, lembrou o atleta.
Tom, que já jogou em diversos clubes do Brasil e do exterior, afirmou nunca ter imaginado ser vítima de injúria racial dentro de campo. “Já aconteceu com outros atletas. Mas a gente nunca imagina que vai acontecer com a gente. Então, é revoltante, e eu não poderia deixar isso passar”, destacou o goleiro.
O caso
Goleiro Tom Cristian se pronunciou nas redes sociais após ser vítima de racismo em Santos, SP
Reprodução/Instagram
O crime aconteceu na noite de quinta-feira (20), no estádio Ulrico Mursa, no bairro Jabaquara. Na ocasião, o São José vencia a Portuguesa Santista, por 3 a 0, pela 11ª rodada do Campeonato Paulista da Série A-2.
“Até quando iremos viver casos deste tipo? Até quando este tipo de crime será levado adiante? A poucos metros do [estádio] Ulrico Mursa, o maior jogador de todos os tempos, o rei Pelé, um negro, fez a alegria de todos os brasileiros através deste esporte”, afirmou Tom, por meio de nota.
Nas redes sociais, o goleiro lamentou o ocorrido e afirmou que é necessário seguir na luta para que a cor da pele não seja motivo de inferiorização das pessoas, não só no esporte mas na sociedade em geral.
“Fui vítima de insultos raciais, de um crime, proferidos por membros que se dizem torcedores da Portuguesa Santista”, afirmou o goleiro. “Entendo que nenhum torcedor é obrigado a gostar de algum atleta. A pressão, a cobrança, tudo isso faz parte do futebol. Mas, até quando iremos viver casos deste tipo? […] Deus me proteja das pessoas ruins”, disse Tom.
Estádio Ulrico Mursa, casa da Portuguesa Santista
Gustavo Machado/Agência Briosa
Confira o posicionamento da Portuguesa Santista abaixo na íntegra:
“Os valores da Associação Atlética Portuguesa se traduzem em sua história. Uma história de luta contra todo tipo de preconceito, sobretudo o racial.
A Briosa é o clube que enfrentou o Apartheid e, por isso, repudia o episódio de racismo relatado pelo goleiro Tom, que teria ocorrido na noite desta quinta-feira (20), na partida diante do São José, válida pelo Paulistão A2.
Neste momento, a diretoria da Briosa está debruçada em identificar os envolvidos no episódio, para que sejam punidos em conformidade com a lei”.
Federação Paulista
Por meio de nota, a Federação Paulista de Futebol (FPF) manifestou repúdio às ofensas racistas contra o goleiro e informou que uma equipe está no local prestando todo atendimento e acolhimento necessário ao atleta.
A FPF disse que levará o ocorrido às autoridades competentes para que todas as providências sejam tomadas, e os autores do crime sejam identificados e punidos. De acordo com a federação, o caso também será encaminhado ao Tribunal de Justiça Desportiva.
“A FPF reitera sua posição antirracista, corroborada pelo inédito Tratado pela Diversidade e Contra a Intolerância no futebol paulista, que dita procedimentos contra todo tipo de preconceito e intolerância no esporte”, finalizou o órgão.
Polícia identifica suspeito que cometeu injúrias raciais contra goleiro
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