25 de fevereiro de 2025

Enredo da Unidos de Padre Miguel celebra Iyá Nassô, ialorixá que ‘plantou axé’ do candomblé no Brasil

Série do g1 resume, nas palavras dos próprios autores do carnaval das escolas do Grupo Especial, o que será levado para a Sapucaí. Veja o que Alexandre Louzada e Lucas Milato dizem sobre a homenagem ao primeiro terreiro de Candomblé do Brasil. g1 no carnaval: conheça o enredo da Unidos de Padre Miguel
“A gente celebra uma mulher, uma africana, que veio na condição de escravizada para o Brasil e que não deixou morrer a África dentro de si (…) e aqui plantou o primeiro axé do que nós hoje conhecemos como candomblé.”
A homenagem da Unidos de Padre Miguel à história do primeiro terreiro de candomblé no Brasil terá dois grandes protagonistas, a ialorixá (mãe de santo) Iyá Nassô e o próprio terreiro, a Casa Branca do Engenho Velho.
Alexandre Louzada e Lucas Milato falaram sobre o enredo “Egbé Iya Nassô” ao g1, para a série de reportagens em que os carnavalescos resumem o que as escolas contarão na Sapucaí (veja no vídeo acima).
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O terreiro Casa Branca do Engenho Velho (ou Ilê Axé Iyá Nassô Oká) foi fundado no século 19, na Barroquinha, em Salvador (BA), entre 1820 e 1830. Entre 1860 e 1870, o templo foi transferido para o Engenho Velho da Federação, onde está até hoje.
A escolha do enredo foi abençoada pelo conselho editorial da Casa Branca.
“Além de contar a história da saga, da coragem, de todo o enfrentamento de preconceito, existe essa similaridade que hoje todas as escolas de samba são legítimas representantes, são pequenas Áfricas que mantêm as suas tradições”, diz Alexandre Louzada.
Iyá Nassô, a princesa negra escravizada
Samba e Enredo: Unidos de Padre Miguel homenageia a história do primeiro terreiro de Candomblé do Brasil
A ialorixá Iyá Nassô foi uma princesa negra escravizada, que decidiu, junto com suas irmãs, enfrentar a guarda imperial para libertar seus filhos da revolta.
O enredo destaca o papel fundamental das mulheres, tanto no candomblé quanto na liderança da própria Unidos de Padre Miguel, refletindo sobre a relevância do poder feminino nas religiões de matriz africana.
A narrativa também reforça a forte conexão com a comunidade da Vila Vintém, considerada uma das muitas “pequenas África”.
Confira o samba-enredo
Awurê Obá kaô! Awurê Obá kaô!
Vila Vintém é terra de macumbeiro!
No meu Egbé governado por mulher
Iyá Nassô é rainha do candomblé!
Eiêô! Kaô kabesilê Babá Obá!
Couraça de fogo no orô do velho ajapá
A raça do povo do Alafin, e arde em mim
Rubro ventre de Oyó
Na escuridão nunca andarei só
Vovó dizia: Sangue de preto é mais forte que a travessia!
Saudade que invade!
Foi maré em tempestade
Sopra a ancestralidade no mar (ê rainha)
Preceito é herança sem martírio
Airá guarda seus filhos no ilê da Barroquinha
É a semente que a fé germinou, Iyá Adetá
O fruto que o axé cultivou, Iyá Akalá
Iyá Nassô, ê Babá Assika
Iyá Nassô, ê Babá Assika
Vou voltar mainha, eu vou
Vou voltar mainha, chore não
Que lá na Bahia
Xangô fez revolução
Oxê, a defesa da alma na palma da mão
No clã de Obatossi
Há bravura de Oxóssi no meu panteão
É d’Oxum o acalanto que guarda o otá
Do velho engenho, xirê que mantenho no meu caminhar
Toca o adarrum que meu orixá responde
Olorum, guia o boi vermelho seja onde for
Gira saia aiabá, traz as águas de Oxalá
Justiça de Ogodô, tambor guerreiro firma o alujá

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