25 de setembro de 2024

‘Eixo da resistência’: a rede de influência (e os adversários) do Irã no Oriente Médio

De acordo com o estudo “As redes de influência do Irã no Oriente Médio”, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IIEE), de 2019, nenhuma outra nação tem sido tão ativa e eficiente em influenciar conflitos regionais como o Irã. Isso porque os iranianos sozinhos não conseguiriam dar conta de quem considera: Arábia Saudita, Israel e EUA. Mapa mostra quem são os inimigos e os aliados do Irã
Juan Silva/g1
O Oriente Médio vive uma situação especialmente tensa porque dois dos países mais militarizados da região, Irã e Israel, se enfrentaram no último sábado (13), quando os iranianos dispararam mais de 300 projéteis contra o território israelense (leia mais sobre o ataque abaixo), e nesta quinta (18) –quando Israel revidou, segundo a imprensa americana.
Apesar de as duas nações serem inimigas, um ataque direto é um fato inédito: até a semana passada, os dois só atacavam alvos do outro em um terceiro país –ou, como o Irã costuma fazer, de forma indireta, dando apoio a grupos aliados espalhados pela Península Arábica que também são inimigos de Israel. É o chamado “Eixo da Resistência”.
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O Irã fomenta milícias em outros países faz décadas. De acordo com o estudo “As redes de influência do Irã no Oriente Médio”, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IIEE), de 2019, nenhuma outra nação tem sido tão ativa e eficiente em influenciar conflitos regionais como o Irã.
Essa política de dar apoio a grupos em outros países nasceu, segundo a publicação, de um reconhecimento, por parte do Irã, de sua própria fraqueza: ele não teria força suficiente para entrar em confronto com seus grandes inimigos, como a Arábia Saudita, Israel e os Estados Unidos.
Os iranianos começaram, então, a enviar seus representantes para desenvolver algumas milícias pela região –especialmente aquelas formadas por xiitas, a vertente do Islã majoritária no Irã.
A Arábia Saudita, o principal rival do Irã no mundo árabe, é um país sunita, outra vertente do Islã.
Veja abaixo a rede de influência do Irã pela região e quais são os grupos que o país cultiva para fazer frente aos adversários geopolíticos.
Irã sofre ataque aéreo nesta sexta-feira (19); drones seriam israelenses
Do Irã para o exterior: Força Quds
Esmail Qaani, chefe da força Quds do Irã
Khamenei.IR/AFP
A Força Quds é uma combinação de forças de operações especiais e inteligência (ou seja, um grupo de espiões e pessoas que tentam obter informações estratégicas de outros países).
O grupo surgiu como parte da Guarda Revolucionária Islâmica.
O nome significa Jerusalém em farsi e árabe (é uma referência à missão de “libertar” a cidade hoje comandada por Israel).
A organização opera de forma secreta e também aberta em várias regiões do mundo —ela está associada ao grupo Hezbollah no Líbano, assim como a milícias xiitas no Iraque e Afeganistão.
A Força Quds foi acusada de diversos ataques, incluindo um atentado em Beirute em 1983, e de fornecer armas na Síria para apoiar o regime de Bashar al-Assad, além de armar e treinar o Talibã no passado.
O grupo apoia e dá assessoria a grupos estrangeiros, mas evita participar diretamente em conflitos que possam levar a confrontos com os EUA.
Estima-se que haja contingente de 5 mil e 10 mil pessoas.
Líbano: Hezbollah
Membros do Hezbollah desfilam durante um comício que marca o Dia de Al-Quds nos subúrbios ao sul de Beirute
Mohamed Azakir/Reuters
O primeiro desses grupos que receberam apoio do Irã, segundo o estudo do IIEE, foi o Hezbollah, no Líbano. Os xiitas não são maioria no Líbano, mas são o maior grupo (além de sunitas, também há uma presença significativa de cristãos no país). Conforme o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, a comunidade xiita do país tem boas relações com o Irã.
Nos primeiros anos da Força Quds, as duas principais missões foram a guerra contra o Iraque e estabelecer uma relação com o Hezbollah.
A relação segue até hoje, e os métodos foram se atualizando —por exemplo, há evidências de que no passado recente o Irã começou a treinar o Hezbollah a fazer ataques cibernéticos.
O Hezbollah frequente entra em conflito com Israel –após o começo da guerra entre o grupo terrorista Hamas e as forças israelenses, em outubro de 2023, isso ficou evidente. Os israelenses anunciaram nesta semana que mataram líderes do Hezbollah em território libanês.
Iraque: grupos xiitas no país
Pessoas comemoram a chegada do ano novo em Badgá, no Iraque.
Ahmad Al-Rubaye/ AFP
Outro país onde os iranianos têm muita influência é o Iraque. Os dois têm uma longa fronteira e, nos anos 1980, se enfrentaram em uma guerra de oito anos. O Irã não conseguiu derrotar Saddam Hussein, o líder iraquiano.
Anos mais tarde, no entanto, os iranianos tiveram uma ajuda inesperada.
Em 2003, os Estados Unidos começaram a atacar o Iraque sob a alegação de que o país tinha armas de destruição em massa. Os americanos estavam errados –os iraquianos não tinham esse tipo de armamento–, mas fizeram algo que o Irã não conseguiu durante oito anos de guerra: derrubaram Saddam Hussein.
Saddam era um sunita que governava um país de maioria xiita.
Pouco depois da queda do regime de Saddam, os iranianos começaram a empregar sua estratégia de influenciar a política iraquiana com sua “guerra híbrida”. Explosões subaquáticas misteriosas, ataques cibernéticos anônimos e campanhas online para minar democracias ocidentais: tudo isso é considerado um tipo de “ameaça híbrida”.
Entidades xiitas no Iraque aliadas do Irã:
Asaib Ahl al-Haq (AH)
Organização Badr
Harakat Hizbullah al-Nujaba (HHN)
Kataib Hizbullah (KH)
Síria: o governo de Bashar al-Assad
A partir de 2011, a Síria entrou em uma espiral de violência e guerra civil. O presidente Bashar al-Assad ficou ameaçado, mas se ele caísse, o Irã iria perder um parceiro estratégico.
A guerra na Síria virou um teste da doutrina militar do Irã. Assim como no Iraque, a Força Quds assumiu a liderança, moldando as operações do Irã para proteger santuários xiitas de militantes sunitas e para sustentar o próprio regime de Assad.
“Aos poucos, o Irã admitiu que um número de voluntários iranianos estava lutando no conflito”, diz o estudo do IIEE.
Apoiadores de Bashar Al-Assad exibem fotos do presidente e bandeiras da Síria
Hassan Ammar/AP Photo
Os israelenses também fazem ataques com frequência a instalações na Síria. O Irã acusa Israel de estar por trás de um ataque aéreo contra a consulado iraniana em Damasco, na Síria, em 1º de abril, que deflagrou a onda de tensão entre Israel e Irã. Nessa ocasião, um comandante sênior da Guarda Revolucionária do Irã morreu.
Iêmen: os houthis
Os houthis se tornaram uma poderosa força militar no Iêmen
REUTERS
O quarto país onde o Irã tem uma grande influência é o Iêmen. Os rebeldes houthis, que atuam no país, já tinham uma relação com os iranianos desde a Revolução Iraniana, em 1979.
Em 2014, aconteceu algo inesperado: os houthis conseguiram tomar a cidade de Sanaa.
O Irã começou a fornecer armas e dar apoio econômico aos rebeldes –na prática, firmou um compromisso com os houthis, e o êxito da medida é uma forma do Irã mostrar que tem poder na região, especialmente para o grande inimigo na Península Arábica, a Arábia Saudita.
Desde o começou da guerra na Faixa de Gaza, após o grupo terrorista Hamas ter atacado Israel, em 7 de outubro de 2023, os houthis têm atacado Israel e também embarcações que passam pelo Mar Vermelho.
A escalada do conflito Irã x Israel
No dia 13 de abril, Israel foi alvo de um ataque inédito do Irã. Mais de 300 artefatos, incluindo drones e mísseis, foram lançados contra o país.
As Forças de Defesa de Israel afirmaram que conseguiram interceptar 99% dos artefatos lançados. Entretanto, a mídia iraniana disse que mísseis conseguiram furar a proteção israelense.
A agressão iraniana é uma resposta ao bombardeio de Israel à embaixada do país na Síria — veja a cronologia do caso.
O governo de Israel afirmava que iria retaliar, o que, segundo a imprensa americana, ocorreu nesta quinta (18).

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