28 de fevereiro de 2025

Quem tem mais chance no Oscar de melhor filme e por que ‘Ainda estou aqui’ merece vencer? Especialistas respondem


Especialistas em cinema de CBN, GloboNews, gshow, ‘O Globo’ e g1 discutem possíveis favoritos na principal categoria da premiação, que acontece neste domingo (2). “Anora” é o indicado que tem mais chances de levar o Oscar de melhor filme neste domingo (2) — desconsiderando a presença de “Ainda estou aqui” na lista. Pelo menos é o que pensa a maioria dos especialistas em cinema de alguns veículos do Grupo Globo consultados pelo g1.
Para entender o que o brasileiro pode esperar da premiação que acontece neste domingo (2), com transmissão ao vivo na TV Globo, comentaram nove profissionais de CBN, GloboNews, gshow, “O Globo” e g1.
Eles responderam duas perguntas:
Tirando “Ainda estou aqui”, quem tem mais chances de ganhar?
Por que “Ainda estou aqui” merece ganhar?
Para a primeira delas, foi “Anora” na cabeça. Seis acham que o filme sobre a prostituta e o herdeiro de um oligarca russo é o favorito na disputa. Os demais se dividiram entre “Conclave”, “O brutalista” e “A substância”.
Já em relação ao que gabaritaria a produção original Globoplay ao maior prêmio do Oscar, muitos citaram a importância da história contada, a qualidade da atuação de Fernanda Torres (também indicada) e da direção de Walter Salles.
Oscar 2025: veja lista completa de indicações

Bruna Azevedo/g1
Mas por que ‘Anora’?
A escolha por “Anora” na maior parte acontece por causa dos prêmios recentes dados por sindicatos de classes de Hollywood, que servem como principais “termômetros” do Oscar.
“Acredito que ‘Anora’ é o filme com mais chances de ganhar após conquistar os sindicatos dos diretores, produtores e roteiristas. Só uma vez na história, com ‘O segredo de Brokeback Mountain’ em 2006, um filme vencedor dos três prêmios não levou o Oscar para casa”, diz Lucas Salgado, do jornal “O Globo”.
“‘Anora’ merece ganhar e tem mais chances de ganhar. É um filme real, ninguém do elenco parece estar atuando. Essa é uma das assinaturas do (também indicado) Sean Baker. Para mim, hoje, ele é o melhor diretor em atividade”, afirma Braulio Lorentz, do g1.
“Foi um pouco mais barulhento quando começou a trajetória, lá em maio, levando a Palma de Ouro em Cannes. Depois, pouco se falou sobre a produção do Sean Baker. E agora, na reta final, virou assunto de novo. E Mikey Madson aparece como alguém que pode atrapalhar nossos planos de Oscar para Fernandinha como Melhor Atriz”, fala Ronald Villardo, do gshow.
Mikey Madison em ‘Anora’
Divulgação/Universal Pictures
“Eu diria que há muito tempo não víamos uma disputa tão acirrada entre diversos candidatos. ‘Emília Perez’ largou na frente como favorito e recordista de indicações, mas por conta de todas as polêmicas hoje é carta fora do baralho. ‘O Brutalista’ segue forte desde o início e, por conta das últimas premiações paralelas, ‘Anora’ e ‘Conclave’ foram ganhando força”, diz Marcelo Janot, crítico de “O Globo”.
Ele lembra que o sistema de votação da categoria de melhor filme é a única na qual a votação é feita com ordem de preferência — algo que favorece produções que dividam menos o público
“Como o sistema de votação para melhor filme obedece a um sistema de votos em que os eleitores elegem do melhor ao pior e os piores vão sendo descartados até o melhor conseguir a maioria, por ter quase nenhuma rejeição até mesmo ‘Ainda Estou Aqui’ pode pintar como um azarão e surpreender.”
Como funciona a votação do Oscar
A maioria concorda, no entanto, que nada está definido e que há outros concorrentes com grandes chances.
O caso dos demais
Para Arthur Dapieve, o favorito é “Conclave”, que venceu o prêmio de melhor elenco do Sindicato dos Atores no último domingo (23).
“Tem jeitão de ‘filme de Oscar’, bela direção, belíssima fotografia, três grandes atuações (Ralph Fiennes, Stanley Tucci e John Lithgow) e ganhou uma atualidade involuntária com a doença do Papa”, fala o jornalista da GloboNews.
Os outros dois escolhidos têm uma montanha maior para escalar na categoria. Afinal de conta, nunca aconteceu de um indicado vencer como melhor filme sem nenhum dos quatro grandes prêmios de sindicatos na bagagem.
Filme Conclave despertou interesse do público sobre cardeais nomeados em segredo pelo papa
Divulgação
Dan Stulbach, ator (que inclusive faz parte do elenco de “Ainda estou aqui”) e apresentador da CBN, acredita que “O brutalista”, um antigo favorito da temporada, ainda tem força para superar esse obstáculo “pela grandiosidade, execução minuciosa. É um filme raro”.
Já Bete Pacheco, da GloboNews, não quer saber de estatísticas.
“Nem quero falar sobre chances, afinal aposto no azarão. ‘A substância’ é um filme que classificam como terror, será? Um gênero pouquíssimas vezes indicado e quando o foi ganhou em categorias técnicas. A exceção de ‘O silencio dos inocentes’, que levou as principais estatuetas, inclusive a de melhor filme”, afirma a jornalista.
“Mas, em relação a ‘A substância’, acho que convence pelas referências ao próprio cinema, pela aposta na cinematografia surreal, pela pauta e pelo buzz. Uma relação de amor e ódio, com algumas pitadas enjoativas.”
O que gabarita ‘Ainda estou aqui’ a sonhar?
Suspeito para comentar, Stulbach apenas diz que “Ainda estou aqui” é “o mais humanos entre os indicados”.
Selton Mello e Fernanda Torres em ‘Ainda Estou Aqui’
Divulgação
O sentimento parece ecoar entre os demais especialistas.
“É um filme com diversas qualidades que o tornam um ótimo filme. A direção de Walter Salles, o roteiro e, principalmente, as atuações do elenco (em especial da Fernanda Torres) fazem toda a diferença e tornam ‘Ainda estou aqui’ um filme que comove e faz pensar”, comenta Célio Silva, do g1.
“A começar pela própria Eunice. Uma mulher tão vasta, que para atingi-la foram necessárias duas Fernandas (Torres e sua mãe, Montenegro). “Ainda estou aqui” é um filme valente e criterioso. Contém um país inteiro numa casa. E tudo respeitando os mais singelos detalhes”, diz Pacheco.
Cesar Soto, do g1, concorda. “Mais do que o imediatismo da discussão sobre governos autoritários, que se mostra cada vez mais urgente ao redor do mundo, o filme de Walter Salles conta uma história importante com sensibilidade, beleza e a atuação gigante de Fernanda Torres.”
“É o melhor filme entre os 10 indicados, e o melhor filme sempre merece ganhar. Mas sabemos que em se tratando de Oscar nem sempre o melhor leva, basta lembrar, para ficar só nesta década, das vitórias de ‘Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo’ (2023) e ‘No Ritmo do Coração’ (2022), duas aberrações”, fala Janot.
Mesmo assim, o valor da mensagem e do contexto ainda são essenciais para muitos.
“É o melhor filme e o que melhor conversa com os dias de hoje, não só no Brasil como também em Hollywood. Além disso, a premiação acabaria com uma injustiça histórica de um cinema nacional que nunca conquistou o Oscar, mesmo sendo uma das cinematografias mais diversificadas e valiosas do mundo”, afirma Salgado.
“O tema ‘ditaduras’ também está em pauta, com a geopolítica internacional flertando com a extrema-direita. Merece porque também tem um desempenho fantástico, o da Fernanda Torres. Merece porque prossegue numa linha de trabalho do Walter Salles: dramas pessoais sutis no meio de momentos históricos. Foi assim também com ‘Terra estrangeira’ (1995), ‘Central do Brasil’ (1998) e ‘Diários de motocicleta’ (2004)”, avalia Dapieve.
Fernanda Torres em cena de ‘Ainda estou aqui’
Divulgação/Sony Classic Pictures

Mais Notícias