Polícia diz que não foram encontrados indícios de que ação de Flaviane Lima tenha sido proposital. Mulher está em prisão domiciliar. Dona de creche é indiciada por homicídio culposo por morte de menino esquecido em carro
A dona de creche que esqueceu um menino de 2 anos dentro do carro por quatro horas foi indiciada por homicídio culposo (quando não há a intenção de matar), informou a Polícia Civil. Flaviane Lima era responsável pelo transporte de Salomão Rodrigues Faustino de casa até o local, mas o esqueceu preso à cadeirinha com os vidros do veículo fechados.
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O caso aconteceu no dia 18 de fevereiro, em Nerópolis, na Região Metropolitana de Goiânia. Salomão Rodrigues Faustino morreu por causa do calor, já que seu corpo não conseguiu se resfriar e isso causou uma desregulação no funcionamento de seus órgãos, afirmou a polícia.
O g1 procurou a defesa de Flaviane para um posicionamento atualizado na noite de quinta-feira (27), mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
O delegado André Fernandes informou que o crime foi tipificado como homicídio culposo porque não foram encontrados indícios de que a ação de Flaviane tenha sido proposital.
“Ela tinha consciência que devia zelar pela criança, mas ela não tinha conhecimento de que a criança estava no interior do veículo, passando uma dificuldade, e que iria falecer”, afirmou o delegado.
Salomão Rodrigues Faustino morreu depois de ficar trancado em carro, em Nerópolis
Reprodução/Redes sociais e Reprodução/TV Anhanguera
De acordo com André, arquivos registrados por câmeras do berçário mostram desespero, medo e surpresa apresentados por Flaviane ao descobrir o menino no carro.
“Foi um lapso de memória violentíssimo. Foi um desespero total, que a deixou sem ação. Todo o preparo que ela tinha, naquele momento, não foi suficiente”, afirmou André.
A polícia informou ainda que as investigações mostraram que a dona do berçário tinha um bom relacionamento com a criança e que eles se gostavam.
“Ela tinha um carinho pela criança. Não só ela, mas todos no berçário, conforme depoimentos que constam no inquérito policial”, afirmou o delegado.
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Causa da morte
De acordo com o delegado, os laudos médicos apontaram que o menino sofreu intermação, também conhecida como hipertermia, que é uma elevação da temperatura corporal.
“A causa da morte não foi definida pela Polícia Científica, e foram solicitados mais exames. Porém, o prontuário médico define que a morte foi às 18h22, e que a criança sofreu um total desequilíbrio de sua capacidade de regular a temperatura corporal”, explicou o delegado André Fernandes.
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Reprodução
Prisão
Ao g1, o delegado André Fernandes disse que a suspeita foi presa em Itaberaí, a 80 km de distância de Nerópolis. A mulher foi autuada encaminhada ao Complexo de Prisão Provisória de Aparecida de Goiânia, onde ficou presa preventivamente.
Na quinta-feira (27), a dona da creche teve a prisão preventiva convertida em domiciliar. A juíza Sandra Regina Teixeira Campos definiu ainda outras medidas cautelares. Ela determinou que Flaviane Lima só poderá sair de casa para comparecer em Juízo ou quando for intimada por autoridade judicial. A mulher deve ainda manter o endereço atualizado e não pode mudar de residência para outra cidade.
“Liminarmente, pedimos a conversão da preventiva e domiciliar, porque ela é genitora de crianças menores de 12 anos, ela pode estar em prisão domiciliar”, afirmou o advogado da empresária.
Sobre o caso
No dia em que o garoto morreu, a empresária o buscou em casa, deixou a criança no banco de trás do veículo, e entrou na creche. Segundo o delegado André Fernandes, a criança ficou dentro do carro por quatro horas sob forte sol.
Ainda segundo a polícia, Flaviane chamou o Corpo de Bombeiros para socorrer Salomão. Ele foi levado ao Hospital Sagrado Coração de Jesus, mas não resistiu. O corpo de Salomão Faustino foi liberado pelo Instituto Médico Legal (IML) de Goiânia e levado para Nerópolis, onde foi velado.
Depoimento da empresária
Durante audiência de custódia no dia seguinte da morte de Salomão, a dona da creche disse que chegou ao berçário e trabalhou normalmente. Ela afirma que só percebeu que o garoto estava no veículo quando decidiu ir para casa por conta de uma dor de cabeça.
“Quando eu abri o carro, o Salomão dobrou o corpinho dele na cadeirinha. Quando vi, desamarrei rápido da cadeirinha e levei ele para dentro. A gente ligou para os bombeiros. Eu tentei fazer os primeiros socorros, mas a gente percebeu ali que ele já não estava mais”, declarou em depoimento.
O que dizem os pais
A mãe de Salomão, Giselle Rodrigues, disse que o filho não estava dormindo no carro quando Flaviane o buscou. Ela lembra ainda que o menino dormiu até quase meio-dia na data em que ele foi esquecido no veículo.
“O meu filho não foi dormindo. Meu filho foi completamente acordado e ele ficava atrás dela. Não tem o porquê dela ter esquecido, eu não sei por que esqueceram, por que não se lembraram do meu filho”, falou para imprensa, após depor na Delegacia da Polícia Civil de Nerópolis.
Salomão Faustino, que morreu após ser esquecido dentro de carro por dona de creche, e a mãe Giselle Faustino, em Goiás
Reprodução/Redes sociais de Giselle Faustino
O pai, Vilmar Faustino, contou que a esposa recebeu uma ligação, pedindo para a família ir ao hospital em que o filho estava, mas não explicaram a gravidade da situação. Ao chegar ao hospital, o pai descobriu que a equipe tentava reanimar o filho.
“Eles ligaram para ela ir até o hospital, pois o Salomão estava lá. Não falaram o que aconteceu ou qual era a gravidade da situação. A gente chegou lá e a gente recebeu um choque, pois não esperava que era algo daquela magnitude. Ele estava em reanimação para tentar ver se ele voltava. Logo mais a gente recebeu a notícia de que ele tinha vindo à óbito”, contou o pai.
Em postagem nas redes sociais, a mãe do menino lamentou ter tido tão pouco tempo com o filho, que completou 2 anos no último dia 5 de fevereiro. Giselle escreveu que tem se sentido num pesadelo e questiona como irá viver sem o filho.
“Como eu chegarei em casa agora e não presenciarei sua alegria?! (…) Eu não consigo fechar o olho sem imaginar seu sofrimento. Perdoa a mamãe, meu amor. Eu queria fazer tanto por você”, declarou ainda Giselle.
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