3 de março de 2025

Tema da Unidos do Viradouro, Malunguinho é símbolo de resistência negra e liderou um dos quilombos mais importantes do Brasil


Tema da escola de samba carioca, João Batista lutou contra perseguição ao povo escravizado, numa área que ia do Recife até onde hoje é a cidade de Goiana, Mata Norte de Pernambuco. Após a morte, evoluiu como mestre e líder espiritual da Jurema Sagrada. Ensaio técnico da Viradouro
Alex Ferro/Riotur
São de 1817 os primeiros registros históricos sobre a vida de João Batista, o Malunguinho, último líder de um dos quilombos mais importantes de Pernambuco e do Brasil, que este ano é tema da Escola de Samba Unidos do Viradouro, na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro.
De acordo com as pesquisas do professor João Monteiro, o Quilombo do Catucá surgiu onde hoje estão situados os bairros de Linha do Tiro e Dois Unidos, na Zona Norte do Recife.
Com o tempo, se estendeu por Olinda e Paulista, hoje municípios da Região Metropolitana, até alcançar terras de onde atualmente está delimitado o município de Goiana, na Mata Norte do estado.
“Naquela época, essas localidades que hoje são bairros periféricos [do Recife] eram zonas rurais, áreas de mata. Foram várias incursões contratadas pela Coroa Portuguesa para dar fim ao quilombo. A história de Malunguinho foi contada por quem o perseguiu e o tratou como bandido por conta do seu ideário libertador. Por isso, é importante o resgate e a salvaguarda da memória do que realmente foi essa forma de organização social”, disse o pesquisador, em entrevista ao g1.
João Monteiro foi funcionário do Arquivo Público de Pernambuco. Ao longo de quase três décadas, pesquisou tanto, a ponto de participar da criação do grupo de estudos “Malunguinho Histórico e Divino”.
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Nos documentos antigos, contou ele, também há a citação ao “Quilombo da Cova da Onça” como sendo o liderado por João Batista. “Foram quase duas décadas de resistência, até que em 1835, onde hoje é a cidade de Abreu e Lima, as forças de repressão conseguiram desmantelar o quilombo”, complementou o professor.
A pesquisadora Ana Paula Jones, presidente da Associação Raízes da Tradição, contou que, entre os anos de 2004 e 2009, visitou 54 povos indígenas.
“Todos eles trabalham com a Jurema Sagrada e Malunguinho é considerado uma entidade que até hoje é cultuada nos terreiros. A reparação histórica em torno dessa figura tão importante é o que mais me deixou feliz nessa homenagem [da Viradouro]”, explicou Ana Paula.
A Jurema Sagrada é uma prática ancestral de origem indígena que acabou sendo incorporada às tradições afro-brasileiras.
O nome jurema faz menção a uma árvore, do gênero acácia. Uma bebida de efeito alucinógeno é feita tendo como base partes da planta, para auxiliar praticantes e adoradores a transcenderem.
Luta pela liberdade na busca pelo bicampeonato
A resistência contra a opressão liderada por João Batista é a aposta do Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Viradouro para repetir a conquista do grupo especial do carnaval do ano passado.
Com o samba-enredo “Malunguinho: o mensageiro de três mundos”, o carnavalesco Tarcísio Zanon vai levar para a avenida a estética colorida do universo da Jurema Sagrada.
“As roupas em fitas e os cristais representando o mundo encantado serão alguns dos elementos”, antecipou ele.
Durante o desfile da Viradouro, Malunguinho evolui para sua versão espiritual, passando a viver em três mundos de maneiras diferentes: como caboclo curandeiro, mestre da Jurema e guardião das encruzilhadas.
Parceira com a Empetur e fomento de R$ 2,8 milhões
Por meio da Empresa de Turismo de Pernambuco, o governo do Estado firmou um termo de fomento com a Unidos da Viradouro para viabilizar o tema do enredo de 2025.
A parceria incluiu um intercâmbio cultural com shows da Unidos do Viradouro em Pernambuco e a oportunidade de realização de eventos de divulgação turística do destino Pernambuco no Rio de Janeiro. E também garante a presença de 70 pernambucanos juremeiros na Marquês de Sapucaí neste domingo (2). A transmissão do desfile chega a 150 países.
O termo de fomento também prevê contrapartidas para o estado, como a possibilidade de utilizar conteúdos, links e demais materiais da Viradouro em mídias sociais do governo de Pernambuco e a participação do elenco da Viradouro em dois eventos corporativos.
Confira o samba-enredo da Unidos de Viradouro
“Malunguinho: o mensageiro de três mundos”
A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só
A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só
Acenda tudo que for de acender
Deixa a fumaça entrar
Sobô nirê mafá, sobô nirê
Evoco, desperto nação coroada
Não temo o inimigo, galopo na estrada
A noite é abrigoTransbordo a revolta dos mais oprimidos
Eu sou caboclo da Mata do Catucá
Eu sou pavor contra a tirania
Das matas, o Encantado
Cachimbo já foi facão amolado
Salve a raiz do Juremá
Ê juremeiro, curandeiro ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não
Ê juremeiro, curandeiro, ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não
Entre a vida e a morte, encantarias
Nas veredas da encruza, proteção
O estandarte da sorte é quem me guia
Alumia minha procissão
Do parlamento das tramas
Para os quilombos modernos
A quem do mal se proclama
Levo do céu pro inferno
Toca o alujá ligeiro, tem coco de gira pra ser invocado
Kaô, consagrado
Reis Malunguinho, encarnado
Pernambucano mensageiro bravio
O rei da mata que mata quem mata o Brasil
O rei da mata que mata quem mata o Brasil
A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só
A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só
Acenda tudo que for de acender
Deixa a fumaça entrar
Sobô nirê mafá, sobô nirê
Evoco, desperto nação coroada
Não temo o inimigo, galopo na estrada
A noite é abrigo
Transbordo a revolta dos mais oprimidos
Eu sou caboclo da Mata do Catucá
Eu sou pavor contra a tirania
Das matas, o Encantado
Cachimbo já foi facão amolado
Salve a raiz do Juremá
Ê juremeiro, curandeiro ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não
Ê juremeiro, curandeiro, ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não

Entre a vida e a morte, encantarias
Nas veredas da encruza, proteção
O estandarte da sorte é quem me guia
Alumia minha procissão
Do parlamento das tramas
Para os quilombos modernos
A quem do mal se proclama
Levo do céu pro inferno
Toca o alujá ligeiro, tem coco de gira pra ser invocado
Kaô, consagrado
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