3 de março de 2025

Lixo internacional nas praias do litoral de SP cresce 453% desde 2019, aponta ONG; VÍDEO


Levantamento da ONG Ecomov identificou aumento significativo de lixo nas praias do litoral paulista: em 2019, foram 220 itens de 13 países, enquanto em 2024, o número subiu para 1.218 de 20 nações. O MP-SP abriu inquérito civil, via Gaema de Santos, para investigar a origem. Ecomov encontra botijão de gás chinês em praia do litoral de SP
Um levantamento realizado pela ONG Ecomov identificou um aumento de 453,6% no volume de lixo internacional encontrado nas praias do litoral paulista desde 2019. O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) abriu uma investigação sobre a origem dos materiais descartados ilegalmente.
Entre setembro de 2023 a novembro de 2024, foram recolhidos 1,2 mil itens de origem estrangeira. Imagens obtidas pelo g1 mostram até um botijão de gás chinês (veja acima).
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Nos últimos seis anos, a ONG registrou mais de 4,7 mil resíduos de outros países entre o litoral norte, sul e também no Vale do Ribeira, no interior de São Paulo, que começou a ser monitorado no último ano. Peruíbe é a cidade da região com a maior quantidade de registros dos lixos internacionais.
De setembro de 2023 até novembro de 2024, a organização registrou 1.218 unidades de lixo, sendo que 40,5% foram catalogados e identificados por meio de aplicativos e ferramentas de identificação das embalagens – o que facilitou a descoberta da origem do resíduo.
De acordo com Rodrigo Azambuja, presidente da Ecomov, um botijão de gás de origem chinesa foi o objeto “mais polêmico” encontrado na região. Outros resíduos como embalagens de café da China, refrigerantes coreanos, russos, iranianos e até ração humana chinesa também foram achados.
Balanço
Botijão de gás e galocha: levantamento aponta aumento de 500% no volume de lixo internacional nas praias do litoral de SP
Ecomov
O levantamento apontou que 51,6% dos resíduos encontrados na região são de origem chinesa. O dado, de acordo com Rodrigo, indica que os navios que abastecem seus mantimentos em portos do país de origem atravessam os mares e despejam essas embalagens no mar.
Para ele, essa situação evidencia possíveis falhas na gestão portuária e fiscalização das embarcações. Além disso, Rodrigo acredita que os resíduos possam ser despejados em alto-mar, mas só chegarem nas praias do litoral paulista de dois a seis meses após o descarte.
Muitos dos produtos chegam no prazo de validade, com 30 a 40 dias de fabricação. “Essas embalagens, muitas vezes vêm com tampa, em condições, às vezes, muito mais deterioradas, com organismos já no recipiente, que são aquelas cracas, então significa que são resíduos que podem estar ali boiando e acabam vindo conforme a influência das correntes”.
“Nós temos a ciência, não temos a prova, porque nós não estamos no oceano para poder provar, mas indica que uma grande porcentagem da influência da poluição plástica nos oceanos são relacionadas às embarcações”, acrescentou.
Veja quantidade de resíduos encontrados a cada ano:
Levantamento da ONG Ecomov identificou um aumento de 500% no volume de lixo internacional nas praias do litoral de São Paulo desde 2019
Ecomov
2019: 220 resíduos (13 países)
2020: 400 resíduos (14 países)
2021: 600 resíduos (18 países)
2022: 900 resíduos (19 países)
2023: 1.300 resíduos (13 países)
2024: 1.218 resíduos (20 países)
O levantamento levou o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) a abrir um inquérito civil para apurar a origem do lixo, que está com o Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema) de Santos.
Posicionamentos
A Autoridade Portuária de Santos (APS) afirmou que o descarte de lixo no mar é um problema mundial, que não é diferente no Porto de Santos, sendo que a destinação incorreta é falta de conscientização dos riscos ambientais do lançamento no mar de embalagens usadas.
A APS disse que tem um procedimento específico, o Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, que objetiva minimizar os impactos negativos do descarte, por meio de diretrizes a serem observadas para coleta, segregação, acondicionamento, armazenamento, transporte e destinação de resíduos gerados no Porto de Santos.
O lixo é chamado de resíduo de taifa: resíduo operacional, não gasoso e não oleoso oriundo das embarcações, tais como resíduos de alimentação e embalagens equiparáveis a lixo doméstico, bem como os resíduos de operação e de manutenção do navio – fuligem, resíduos gerados na área de máquinas, borra de tinta e limpeza em geral.
Peruíbe é a cidade da região com o maior volume de lixos internacionais achados nas praias
Ecomov
Em nota, a Marinha do Brasil (MB) disse que tem como responsabilidade salvaguardar a vida humana no mar, garantir a segurança da navegação e prevenir a poluição hídrica proveniente de embarcações e suas estruturas de apoio, não lhe cabendo, a fiscalização ou controle da faixas de areia no tocante a descarte de resíduos.
A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) disse, em nota, que regulamenta os serviços de retirada de resíduos de embarcações em águas sob jurisdição nacional, abrangendo portos públicos e instalações portuárias.
Como parte da agenda de sustentabilidade, a agência disse promover iniciativas para o descarte adequado de resíduos sólidos. Entre as ações, destacam-se: a Resolução ANTAQ nº 99/2023, que estabelece o procedimento de habilitação de empresas para a prestação desse serviço; a participação na Força-Tarefa Nacional GloLitter, voltada à prevenção e redução do lixo plástico marinho; a medição do Índice de Desempenho Ambiental (IDA), que monitora indicadores de gestão ambiental; e o apoio ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima na Estratégia Nacional Oceano sem Plástico (ENOP).
O g1 entrou em contato com o MP-SP, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Levantamento da Ecomov apontou que maioria dos lixos internacionais achados nas praias do litoral de SP são de origem asiáticas
Ecomov
VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos

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