3 de março de 2025

Passos de gigantes de quem dá vida aos bonecos de Olinda; conheça as pessoas que carregam as famosas alegorias do carnaval


Tradição familiar, atividade passa de pai para filho e normalmente encanta os carregadores desde a infância. Muitos levaram os primeiros bonecos aos cinco anos. O bonequeiro Cauã Fábio, de 20 anos, já confeccionou cerca de 10 bonecos gigantes
Alice Albuquerque/g1
Fibra de vidro, modelagem em argila, isopor, tinta, tecido. São materiais utilizados para a confecção dos bonecos gigantes de Olinda e suas vestimentas, que fazem parte da tradição do carnaval na Marim dos Caetés. Os bonecos ganharam as ladeiras de Olinda em 1932, com a criação do boneco do Homem da Meia-Noite.
Os carregadores dos bonecos, pessoas que dão vida a toda a produção feita nos ateliês, passam entre uma e três horas com a estrutura na cabeça durante um desfile e de seis a nove horas, durante um dia, subindo e descendo ladeiras.
Foi o que contou Cauã Fábio, de 20 anos, um dos responsáveis pelos passos gigantes dos bonecos desde os 10 anos de idade. Antes disso, Cauã carregava os bonecos mirins.
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Inspirado no avô, conhecido no carnaval da cidade como “Porquinho”, Cauã fez o seu primeiro boneco aos 10 anos, no ateliê de Silvio Botelho, onde trabalha atualmente.
“[A inspiração] já veio da minha família, que é toda do carnaval. Meu avô foi um dos primeiros manipuladores do Menino da Tarde, que já está com 51 anos. Foi o primeiro manipulador do John Travolta; para o Homem da Meia-Noite também, e sempre me levava para a festa do Menino da Tarde. Eu ficava encantado e pensando: ‘um dia eu vou carregar’. Até que chegou esse dia e hoje eu carrego”, disse.
Ele lembra da emoção que sentiu quando carregou o seu primeiro boneco, que pesava entre 25 e 30 quilos, e diz que nem dormiu direito no dia anterior.
“Botei ele na sala e fiquei olhando, dormi do jeito que eu estava, nem tomei banho. Passei a noite todinha olhando para o boneco. No outro dia, quando acordei, eu vi que era verdade, e que o boneco era meu”, detalhou.
Fé, coragem e força
Bianca de Paula, de 32 anos, começou a manipular os bonecos aos 5 anos. Filha do Mestre Camarão, que se dedica à criação de bonecos gigantes e mirins, ela conta que carrega os bonecos na “fé, na coragem e na força”. Ela explicou que foi a inspiração para o pai criar o Encontro dos Bonecos Mirins, em Olinda.
“Meu pai começou a fazer os bonecos mirins para eu e Túlio, filho de Silvio Botelho, sairmos no carnaval, usando como fantasia. Eu tinha 5 anos, e ele [Túlio], 4 anos. A gente levava muito beliscão da criançada querendo pegar o boneco para carregar”, lembrou.
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O desfile começou com 10 figuras, depois passou para 15, e atualmente são mais de 60 bonecos nas ruas, apenas no desfile mirim.
Bianca contou que a filha, Keyzeuevelin, de 15 anos, também se interessou pela manipulação dos bonecos mirins neste carnaval.
Estreante, Keyze disse ter gostado da experiência e que pretende repetir a experiência em outros carnavais. “Estou gostando. Só é muito cansativo, mas pretendo continuar. Tanto que já falei para mainha que se tiver alguma coisa, já pode colocar o meu nome”, afirmou, animada.
O carnavalesco Diogo Martins, de 23 anos, também carregou o primeiro boneco gigante aos 15 anos, mas desde os 10 anos era encantado pelo Menino da Tarde, que assistia desfilar no Largo do Amparo, levado por sua avó.
“Isso tudo foi fruto de uma inspiração e de um amor pelo carnaval, de um amor à cultura, que a gente sempre enaltece. A gente é a vida, a alma do boneco que dá todo o brilho, todo o glamour e a felicidade do bloco. Isso me encantou e me encanta cada vez mais. É cansativo, é exaustivo, porque não é fácil carregar até 50 quilos na cabeça, mas é pelo amor à cultura”, contou.
Segundo Diogo, é preciso ter muito cuidado ao manipular um boneco gigante, pois é necessário um preparo para não se machucar, nem bater nos foliões. “Não é só colocar na cabeça e carregar. Precisa ter equilíbrio para não se machucar. Precisa ter controle para não bater nos foliões, e até mesmo não se machucar nas ladeiras de Olinda”, informou.
O carnavalesco e manipulador de bonecos gigantes de Olinda, Diogo Martins, de 23 anos
Arquivo pessoal
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