O bloco desfila ao som de música brasileira desde 2011. Este ano, o tema foi criado por um chatbot de inteligência artificial, e questiona a presença da tecnologia no nosso cotidiano. Folião mergulha no tanque com lama
No bloco Unidos do Barro Preto o abadá é “feito de lama”. Ainda na concentração, antes do desfile, baldes com 300 quilos de barro (mistura de argila, corante e água) são disponibilizados para a turma se esbaldar e passar no corpo.
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O barro também é uma forma de homenagear o movimento cultural que guia o grupo, o manguebeat. Criado na década de 1990, no Recife, capital de Pernambuco, o gênero é a aglutinação de ritmos regionais, como o maracatu, a rock, hip hop, funk e música eletrônica – e tem o caranguejo como símbolo.
O animal é fonte de sobrevivência da população que vive nas regiões de mangue e também foi escolhido para ser o mascote do Unidos do Barro Preto.
O Barro Preto, que dá nome ao bloco, também batiza o bairro em que desfila, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Nada mais justo que os foliões passem barro no corpo, fazendo da lama o abadá.
Folião coloca o abadá de lama
Maíra Cabral/g1
Banho de lama é tradicional no bloco Unidos do Barro Preto
Vírus do Carnaval
O bloco Unidos do Barro Preto fez seu 13º desfile de Carnaval com o tema “Protocolo lama: A revolta dos dados orgânicos”.
Pertencente à turma que criou o Unidos do Barro Preto, em 2011, Daniel Iglesias contou que pediu a um chatbot de inteligência artificial para criar o tema do desfile deste ano.
“Entramos no chatgpt, alimentamos com algumas ideias nossas, como o manifesto do manguebeat, e ele entregou o tema ‘Protocolo lama – A revolta dos dados orgânicos’. O pessoal do movimento manguebeat, no final da década de 1980, tinha uma visão positiva em relação às novas tecnologias. Mas nós estamos em outro momento. A gente hoje já faz uma crítica, com um olhar menos inocente e esperançoso em relação à tecnologia”, contou ele.
Daniel Iglesias é um dos fundadores do bloco Unidos do Barro Preto
Maíra Cabral/g1
O tema brinca também com um “vírus do Carnaval” que desconecta as pessoas no universo on-line e as leva para a convivência das ruas.
“A ideia é aproveitar o Carnaval para sair do algoritmo, sair da realidade digital, do on-line total, e ver o Carnaval como uma pequena ruptura neste cotidiano digitalizado. Então a gente está propondo viver o vírus do Carnaval”, explicou ele.
Ao som de manguebeat (Chico Science e Nação Zumbi) e música brasileira das décadas de 1960, 1970 é contemporânea, uma multidão acompanhou o trajeto do trio que iniciou o desfile às 11h desta segunda-feira, na Avenida Augusto de Lima.
“Deixe os telefones em casa e venha curtir o Carnaval. A lama inclusive ajuda nisso porque sujo de lama não dá para mexer no celular”, brincou.
Marcos Henrique curte Unidos do Barros Preto
Maíra Cabral/g1
Marcos Henrique, de 28 anos, participa do desfile do Unidos há cinco anos.
“Morava em Mariana, deixava o Carnaval de lá pra vir pro bloco Unidos Barro Preto. Incrível, tomar um banho de lama, tomar uma cervejinha”, contou.
Bateria do Unidos do Barro Preto
Maíra Cabral/g1
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